Cyclone reimagina a história de Maria de Lourdes Castro Pontes no século XX enquanto trata de assuntos relevantes para as mulheres da atualidade.
Na trama acompanhamos Dayse, uma operária e dramaturga em uma São Paulo do início do século XX, inspirada em Maria de Lourdes Castro Pontes, que ficou conhecida na história como “Miss Cyclone” amante de Oswald de Andrade. Determinada a realizar o sonho de estudar teatro em Paris, ela enfrenta uma sociedade que nega às mulheres o controle sobre seus corpos e seus caminhos. Sua jornada se complica ainda mais quando ela engravida do diretor Heitor Gamba e precisa lidar com um aborto clandestino, enfrentando riscos, silêncios e imposições que tentam impedir sua autonomia.

Cyclone é uma potência visceral do começo ao fim, que ganha força ao juntar um tema atual com um elenco afiado e uma direção eficiente. Luiza Mariani, que dá vida à Dayse/Cyclone, domina a tela logo em seu monólogo de abertura e segue com essa presença durante o decorrer do filme onde, mesmo no estado mais frágil da personagem, ela segue firme e poderosa.
Ao lado de Mariani, brilham também Karine Teles e Luciana Paes, que interpretam os únicos laços de amizade e família de Dayse e dão mais amplitude dramática para a narrativa da protagonista. Por meio das interações dessas duas personagens é onde conseguimos ver com mais profundidade as nuances, moralidade e as inconsistências que completam a personagem.
Já a construção da relação entre Dayse e Heitor (Eduardo Moscovis) é apresentada sem pudor logo nos primeiros minutos de filme, de forma estratégica logo se entende qual a dinâmica da relação e as complicações que ela vai passar no decorrer da trama. Esse estabelecimento explícito da relação não é um demérito ou falha no roteiro, mas sim uma escolha narrativa que nos faz antecipar os acontecimentos ante a personagem. Afinal, no contexto da sociedade atual, vimos essa história se repetir inúmeras vezes.
Em contrapartida, a discussão sobre autonomia reprodutiva, um tabu até os dias atuais, acaba não tendo a profundidade que merece, principalmente quando analisamos o cenário atual sobre as questões de gênero. O longa trata sobre o aborto clandestino com seriedade e sensibilidade, fugindo de julgamentos morais e evitando o sensacionalismo leviano. No entanto, considerando o peso simbólico dessa experiência e o contexto atual das discussões sobre direitos reprodutivos, o tema merecia um peso maior, aumentando o impacto emocional e político.
Cyclone se afirma como um longa político, chocante e extremamente necessário. Ao resgatar e reimaginar a história de uma figura relegada à alcunha de amante, o longa transforma sua história em um manifesto sobre autonomia e resistência, devolvendo a Maria de Lourdes, ou Dayse, o protagonismo de sua vida e lhe oferecendo a chance de sonhar.
Cyclone chega aos cinemas do dia 04 de Dezembro!
Muito bom
Cyclone se afirma como um longa político, chocante e extremamente necessário. Ao resgatar e reimaginar a história de uma figura relegada à alcunha de amante, o longa transforma sua história em um manifesto sobre autonomia e resistência, devolvendo a Maria de Lourdes, ou Dayse, o protagonismo de sua vida e lhe oferecendo a chance de sonhar.