Cobra Kai - 6ª temporada | Crítica Cobra Kai - 6ª temporada | Crítica

Cobra Kai – 6ª temporada | Crítica

Série encerra sua jornada com um final que honra o legado de Karatê Kid
Divulgação/Netflix

Quando Cobra Kai estreou em 2018 como uma série original do YouTube Red, poucos poderiam prever o impacto que ela teria no cenário das séries de TV. Inicialmente vista como uma aposta arriscada, a produção rapidamente conquistou um lugar especial no coração dos fãs, especialmente após sua migração para a Netflix, onde se tornou uma das séries mais assistidas e comentadas da plataforma. O que começou como uma tentativa de reviver a franquia Karatê Kid se transformou em um fenômeno, capaz de cativar tanto os fãs nostálgicos dos filmes dos anos 80 quanto uma nova geração de espectadores. A série não apenas trouxe de volta personagens icônicos como Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka), mas também expandiu suas histórias de uma maneira que fez sentido tanto para o passado quanto para o presente. E agora, com a chegada da última parte da sexta temporada, Cobra Kai encerra sua jornada com um final que honra o legado de Karatê Kid.

Cobra Kai - 6ª temporada | Crítica

A grande sacada de Cobra Kai sempre foi sua capacidade de equilibrar o tom entre o dramático, o cômico e o brega, sem nunca perder a essência que a tornou tão especial. A série nunca teve medo de abraçar sua própria excentricidade, seja através de cenas de lutas exageradas, diálogos cheios de clichês ou reviravoltas que beiram o absurdo. Mas é justamente essa falta de pretensão que a torna tão cativante. Criada por Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, a série soube dialogar com diferentes gerações, criando uma ponte entre os fãs que cresceram assistindo Karatê Kid nos anos 80 e os jovens que descobriram o universo do karatê através da Netflix. A conexão emocional com os personagens, tanto os antigos quanto os novos, é um dos pilares que sustentam a narrativa. É como se a série fosse uma carta de amor aos fãs, uma maneira de dizer: “Lembra daquilo que você amava? Pois é, ainda pode ser incrível.”

A parte 3 da sexta e última temporada de Cobra Kai começa logo após os eventos traumáticos do torneio Sekai Taikai, uma competição internacional de karatê que reúne os melhores do mundo. A tragédia que marcou o final da parte 2 deixa os personagens em um estado de incerteza, questionando se vale a pena continuar lutando ou se é hora de deixar o passado para trás. No entanto, os senseis Daniel LaRusso e Johnny Lawrence, juntamente com seus alunos, decidem enfrentar seus medos e concluir o que começaram. Esse arco final é repleto de tensão, drama e, claro, muitas cenas de ação que fazem jus ao legado da série. A temporada não apenas resolve os conflitos pendentes, mas também oferece um fechamento emocionalmente satisfatório para os personagens que acompanhamos ao longo de seis anos.

Um dos maiores méritos da última temporada é o foco nos dilemas pessoais de Daniel e Johnny, que, apesar de serem rivais há décadas, precisam aprender a trabalhar juntos para derrotar um inimigo comum: Terry Silver (Thomas Ian Griffith). A dinâmica entre os dois personagens é o coração da série, e ver sua evolução ao longo das temporadas é uma das experiências mais gratificantes para os fãs. Enquanto Daniel luta para equilibrar sua vida familiar com seu papel como sensei, Johnny enfrenta seus próprios demônios internos, buscando redenção por seus erros do passado. A relação entre os dois é complexa e cheia de nuances, e a série nunca cai na tentação de simplificá-la. Em vez disso, ela explora as camadas de sua rivalidade e amizade de uma maneira que é ao mesmo tempo comovente e realista.

Outro ponto importante da temporada final é o desfecho do personagem John Kreese (Martin Kove), que sai de cena de uma forma tão agridoce quanto memorável. Kreese, que sempre foi um antagonista complexo e multifacetado, recebeu um fechamento meio estranho. Sua saída é carregada de simbolismo, deixando claro que, apesar de todos os seus erros, ele também era um produto de suas próprias cicatrizes e traumas. A série não tenta justificar suas ações, mas oferece uma visão mais humana e compreensiva de seu personagem. Uma pena que sua ausência nunca é sentida pelos outros personagens, que seguem em frente sem mencionar seu nome.

No entanto, o grande destaque da temporada final é, sem dúvida, William Zabka e seu personagem Johnny Lawrence. Ao longo das seis temporadas, Johnny passou por uma das jornadas mais transformadoras da série, evoluindo de um bully arrogante e problemático para um verdadeiro sensei, tanto dentro quanto fora do tatame. Sua redenção é o cerne emocional de Cobra Kai, e a última temporada coloca um ponto final perfeito em sua história. Johnny finalmente encontra a paz interior que sempre buscou, enfrentando seus demônios e encontrando um sentido de propósito que vai além do karatê. É uma conclusão poderosa e emocionante, que faz jus ao personagem e ao ator que o interpretou com tanta dedicação e carisma.

Para os fãs que esperavam grandes surpresas ou aparições de outros personagens da franquia Karatê Kid, a última temporada de Cobra Kai pode parecer um tanto contida. A série opta por focar em seus próprios personagens e arcos, sem se preocupar em fazer conexões com o futuro da franquia, como o filme Karatê Kid: Lendas, que estreia em maio e se passará três anos após os eventos de Cobra Kai. Essa decisão pode decepcionar alguns, mas é também um sinal de maturidade da série, que preferiu encerrar sua história de maneira coesa e satisfatória, sem se deixar levar por fan service.

No final das contas, Cobra Kai não é apenas uma série sobre karatê ou rivalidades antigas. É uma história sobre redenção, crescimento e a importância de aprender com os erros do passado. A série pode não ser a melhor de todos os tempos, mas com certeza é uma das que melhor entendeu seu espaço e aproveitou ao máximo seu potencial. Nostálgica, divertida, cafona e emocionante, Cobra Kai respeitou o legado de Karatê Kid enquanto criava algo novo e relevante para o público atual. E, ao finalizar seus ciclos de personagens de maneira tão cuidadosa e emocional, a série deixa um legado que certamente será lembrado por muitos anos. Para os fãs, é uma despedida saudosa, mas também uma celebração de tudo o que Cobra Kai representou. E, como diz Johnny Lawrence, “strike first, strike hard, no mercy.”

3.5

BOM

Cobra Kai não é apenas uma série sobre karatê ou rivalidades antigas. É uma história sobre redenção, crescimento e a importância de aprender com os erros do passado. A série pode não ser a melhor de todos os tempos, mas com certeza é uma das que melhor entendeu seu espaço e aproveitou ao máximo seu potencial.