Poucos títulos chegam ao mercado carregando um legado tão pesado quanto Call of Duty: Black Ops 7. Anunciado com pompa e amplas promessas de renovação — incluindo uma campanha inédita em modo cooperativo, multiplayer robusto e a retomada da intensidade tática da sub-franquia Black Ops — o game rapidamente se tornou o foco das expectativas da comunidade. No entanto, ao adentrar essa nova etapa da série, percebemos que o jogo tenta conciliar inovação com uma zona de conforto que limita seu brilho, resultando em um produto tecnicamente competente, mas dramaticamente irregular. A sensação predominante é de que a franquia se apoia em sua tradição ao invés de expandi-la, repetindo fórmulas narrativas, mecânicas e estéticas que já não surpreendem com a mesma potência de antes.

A nova campanha — que pode ser jogada no modo solo ou com até quatro jogadores — traz como protagonista David “Section” Mason, agora numa jornada íntima em busca de respostas que ecoam por traumas herdados e segredos mal resolvidos. Ao lado dele, encontramos a equipe do JSOC, composta por Samuels, Harper e a androide 50/50. Juntos, eles embarcam em uma missão clandestina na cidade mediterrânea de Avalon, um cenário que tenta unir contemplação, tensão e espionagem high-tech. O problema é que essa construção narrativa, embora promissora, carece de ritmo, surpresas e densidade emocional, especialmente quando comparada aos momentos mais inspirados de outros títulos da série, como Black Ops 2 ou Cold War. A história avança com pressa, sem deixar espaço para respiro, desenvolvimento orgânico ou para que os personagens possam se tornar memoráveis de verdade.
Se há uma faceta que merece destaque positivo, esta certamente é a direção visual e o elenco de captura de movimento. David Mason é vivido por Milo Ventimiglia, conhecido por seu trabalho em This Is Us, e sua presença traz autenticidade aos momentos mais pessoais da campanha. Michael Rooker é Harper, entregando aquele carisma bruto de sempre. Já a personagm inédita Emma Kagan, interpretada por Kiernan Shipka, surge com energia, mistério e um frescor bem-vindo, que o roteiro sozinho não consegue sustentar. O resultado é uma experiência cinematográfica atraente, porém frequentemente sabotada por escolhas mecânicas que deslocam o jogador do que realmente importa: a imersão.
A variedade de cenários também ajuda a manter o interesse visual: os telhados iluminados por néon no Japão evocam um futurismo vibrante; as paisagens da costa mediterrânea entregam melancolia e amplitude; e até momentos que mergulham nos recantos mais sombrios da psique humana tentam elevar a atmosfera a algo mais experimental. Mas esses ambientes, embora belíssimos, muitas vezes funcionam mais como vitrines do que como espaços narrativos realmente significativos. Avalon, grande estrela da campanha, é extensa e cheia de segredos, mas não se sustenta como um “personagem” vivo — algo que jogos concorrentes têm feito com enorme competência.
O maior problema, entretanto, surge na estrutura de gameplay. Call of Duty: Black Ops 7 exige conexão constante e força o jogador a passar pela campanha como se estivesse sempre em modo cooperativo. No solo, a experiência se torna frustrante: ao invés de apoiar Mason, seus companheiros controlados por IA se limitam a trocas de diálogo, não auxiliando nas ações táticas ou nos combates mais caóticos. Essa ausência de suporte real transforma missões que deveriam ser empolgantes em desafios desbalanceados e, por vezes, irritantes. Em um jogo que se vende como coop, mas que deveria ser igualmente funcional no individual, essa decisão de design pesa como uma âncora.
A curta duração da campanha — cerca de 4 a 5 horas — não ajuda. Por um preço elevado, a sensação de incompletude e superficialidade se acentua, especialmente porque o enredo é um dos mais fracos de toda a franquia. Isso desloca novamente o foco para o multiplayer, onde Black Ops 7 tenta resgatar a glória dos tempos áureos ao trazer 16 mapas clássicos no formato 6v6. É aqui que o jogo encontra o seu maior acerto: ritmo acelerado, gunplay polido, mapas icônicos e uma comunidade sempre disposta a competir. Mas depender novamente do multiplayer como salva-vidas narrativo revela um padrão preocupante para a franquia.
No fim, Call of Duty: Black Ops 7 é um jogo tecnicamente sólido, visualmente impressionante e com um elenco de primeira linha, mas que parece girar em círculos dentro de sua própria história. É um título que brilha na superfície, mas carece de profundidade, ousadia e consistência. Para jogadores ocasionais ou fãs fervorosos do multiplayer, entrega o necessário. Para quem busca narrativa forte, campanha envolvente e renovação real, deixa a sensação amarga de oportunidade perdida.
O game está disponível para Xbox Series X|S, Xbox One (via Xbox Play Anywhere) e PC, onde integra o catálogo do Game Pass desde o lançamento. Também pode ser adquirido via Battle.net, Steam e plataformas PlayStation 4 e 5.
REGULAR
Call of Duty: Black Ops 7 é um jogo tecnicamente sólido, visualmente impressionante e com um elenco de primeira linha, mas que parece girar em círculos dentro de sua própria história.