Bom Menino e a performance inesquecível de Indy
Divulgação/Paris Filmes
Bom Menino e a performance inesquecível de Indy
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Bom Menino e a performance inesquecível de Indy

Em Bom Menino, estreia de Ben Leonberg na direção, somos conduzidos a uma experiência cinematográfica que foge das convenções do terror moderno. O longa, escrito em parceria com Alex Cannon, é uma obra ousada que desafia a lógica técnica e emocional do gênero ao colocar um cão como protagonista — e não um cão qualquer, mas Indy, um Nova Scotia Duck Tolling Retriever cuja atuação é, sem exageros, uma das mais comoventes e intensas do ano. Sem recorrer a CGI ou truques digitais, Leonberg aposta em um realismo cru, onde cada olhar, latido ou hesitação do animal carrega o peso de uma narrativa sobre lealdade, medo e o instinto primal de proteção. O resultado é um terror que não busca o susto fácil, mas a inquietação silenciosa — aquela que se esconde entre os gestos inocentes e o desconhecido que ronda a noite.

Bom Menino e a performance inesquecível de Indy

Com pouco mais de 1h13m, Bom Menino é um filme conciso, mas que se sente maior do que sua duração. Ainda assim, é inegável que sua estrutura narrativa se estenderia melhor em formato de curta-metragem. Leonberg parece consciente disso: há momentos em que a tensão se repete, em que o ritmo se alonga, e o espectador percebe a tentativa de preencher lacunas para sustentar o formato de longa. No entanto, esse pequeno deslize estrutural é compensado pela energia que emana de Indy — um protagonista tão expressivo e presente que transforma cada repetição em contemplação. Ele é o coração pulsante do filme, aquele que guia a câmera, o olhar e o próprio público por uma jornada que mistura o sobrenatural e o emocional em doses quase poéticas.

A trama, por sua vez, é simples, mas eficiente. Todd (Shane Jensen) muda-se com seu fiel companheiro para uma casa de campo isolada, apenas para descobrir que o lugar abriga forças sobrenaturais que desafiam a sanidade e o instinto de sobrevivência. O verdadeiro conflito, porém, não está apenas na ameaça externa, mas na maneira como o cão percebe o mal — não por palavras, mas por sensações. O terror nasce do olhar de Indy, de sua percepção de algo que os humanos não podem ver. Esse ponto de vista é o grande trunfo de Bom Menino: experimentar o horror através de uma mente inocente, que age apenas por amor e instinto, é um exercício cinematográfico de empatia e tensão.

Leonberg trabalha a linguagem visual com notável inteligência. A câmera, muitas vezes na altura dos olhos de Indy, captura o ambiente de forma fragmentada, como se o espectador estivesse preso na percepção limitada de um animal. A montagem é precisa ao alternar momentos de silêncio e sons distantes, criando uma atmosfera que mistura realismo sensorial e terror psicológico. É um filme que convida o público a sentir mais do que compreender, a observar o medo em sua forma mais pura e instintiva. Em tempos de efeitos digitais e artifícios visuais, Bom Menino é quase um manifesto artesanal sobre a força da mise-en-scène e da atuação física.

Mas é impossível falar do longa sem exaltar a atuação de Indy. Sua performance é tão natural que se torna fácil esquecer que estamos diante de um animal. Há uma entrega emocional que transcende qualquer técnica, e isso reabre o debate sobre o reconhecimento da arte animal no cinema. O olhar de Indy comunica o medo, a dúvida e o amor com uma precisão que muitos atores humanos almejariam. É um feito raro, e talvez seja por isso que Bom Menino cause tanto fascínio: ele nos faz enxergar o terror de um modo completamente novo, através da sinceridade de um ser que não atua por vaidade, mas por instinto.

Bom Menino é um terror de estrutura simples e execução brilhante. Sua força está na ousadia de colocar um cachorro como lente do horror e na sensibilidade com que traduz o vínculo entre homem e animal. Se há algo a aprender com a estreia de Ben Leonberg, é que o cinema ainda é capaz de surpreender quando se atreve a olhar para o óbvio — e filmá-lo de um ângulo completamente inédito. Bom Menino é um pequeno filme com um coração gigante, um sopro de originalidade em um gênero saturado, e talvez o primeiro passo de um movimento que traga os animais para o centro das grandes narrativas cinematográficas.

Distribuído pela Paris Filmes, Bom Menino estreia no dia 30 de outubro nos cinemas.

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BOM

Bom Menino é um pequeno filme com um coração gigante, um sopro de originalidade em um gênero saturado, e talvez o primeiro passo de um movimento que traga os animais para o centro das grandes narrativas cinematográficas.

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