Argentina, 1985 | Crítica Argentina, 1985 | Crítica

Argentina, 1985 | Crítica

Divulgação/ Amazon Studios

Desde a sua estreia em festivais de cinema durante a temporada, Argentina, 1985 vem aumentando sua notoriedade no cenário mundial. Em parceria com a Amazon Studios, o longa de Santiago Mitre chega com exclusividade no Prime Video neste final de semana.

Argentina, 1985 | Crítica
Divulgação/Amazon Studios

Sem rodeios, o longa não apenas se coloca como um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme Internacional, mas também está entre os melhores filmes de 2022, podendo até repetir o feito de Parasita que conquistou os dois prêmios em 2020.

O filme coloca em discussão a ditadura argentina, ocorrida entre 1976 e 1983. Fazia apenas dois anos que o país vivia uma democracia, mas ainda com duras sequelas. Várias pesssoas desaparecidas, crimes de tortura e assassinato ficando por debaixo do tapete. A trama inspirada em fatos acompanha a jornada de Julio Strassera (Ricardo Darín), promotor responsável por acusar nove militares argentinos por crimes contra a humanidade durante a ditadura. Enfrentando dificuldades para reunir um time para ajuda-lo na corte seu caminho cruza com Luís Moreno Ocampo (Peter Lanzani), um jovem promotor vindo de uma família militar.

Reunindo de um time de jovens estudantes, a dupla conseguiu colher 700 depoimentos sobre pessoas torturadas, mortas ou desaparecidas durante a ditadura, tendo em mãos todas as provas possíveis para no ano de 1985 iniciar o Julgamento das Juntas, que se tornou uma grande manchete pelo mundo afora.

A princípío, Argentina, 1985 parece um longa feito apenas para o povo argentino. Mas, o longa de Santiago Mitre potencializa a história de forma natural, trazendo questionamentos e reflexões sobre a sociedade. O diretor nascido em 1980 pouco presenciou a ditadura, mas cresceu ouvindo todas as histórias sobre o que ocorreu. A saída que ele encontra para contar uma ótima história é a melhor possível. Trazer um assunto complexo que dialoga com vários públicos e, não apelar para o melodrama. Não é mais um filme que explora o sofrimento alheio diante de um júri.

Contudo, difícil não se impactar, não se revoltar quando inicia o processo de depoimentos. Destaque para Adriana Calvo de Laborde (Laura Paredes), sequestrada e torturada enquanto estava grávida, dando a luz para sua filha ainda sob o controle dos militares. Sua voz ecoa e traz reflexão sobre muitas famílias que perderam seus entes durante a ditadura de outros países. Por isso, Mitre consegue desenvolver uma história voltada para o povo argentino, mas que consegue expandir de forma gradual para o público fora do país.

Para tratar de um assunto tão delicado, Mitre repete a parceria com Ricardo Darín, o maior ator do cinema argentino. Em sua quarta colaboração juntos, ele deixa apenas Darín fazer o que bem sabe. Atuar de forma absoluta.

Como o promotor Julio Strassera, Ricardo Darín tem uma interpretação mais contida, mas é visível notar a pressão que o personagem sente por todos os lados diante da busca por provas, as ameaças e o fato do julgamento dos miliares estar acontecendo de forma civil. No momento mais impactante do filme quando a célebre frase “Nunca Mais” é proferida, Darín entrega mais uma grande performance da carreira. Ele nos emociona sem precisar fazer nenhuma grande expressão. É no seu olhar e quando respira fundo que ele passa o sentimento de alívio e missão cumprida de seu personagem.

Peter Lanzani é o outro lado da moeda. No papel de Luís Moreno Ocampo, ele mostra um um jovem idealista, que questiona algumas atitudes de Strassera, conhecido como Louco por quem trabalha com ele. Vindo de uma família militar, o personagem se encontra pressionado pela mãe, uma defensora dos militares julgados.

No aspecto técnico, o longa recria com eficiência o todo o cenário dos anos 80, com destaque para o júri, que parece ser um documentário tamanha a proximidade com a realidade. Falando nisso, as cenas na corte foram filmadas no real local.

Argentina, 1985 não só é um dos filmes mais importantes do cinema argentino, mas uma aula de como fazer cinema político. Um drama de posicionamento firme sobre a verdade que tentaram silenciar.

5

EXCELENTE

Argentina, 1985 não só é um dos filmes mais importantes do cinema argentino, mas uma aula de como fazer cinema político. Um drama de posicionamento firme sobre a verdade que tentaram silenciar.