A Baleia | Crítica

A temporada de premiações em 2023 deu duras lições para Hollywood com o retorno de dois atores que foram esquecidos pela indústria cinematográfica. Ke Huy Quan (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) e, claro, Brendan Fraser, que retorna de forma triunfal aos cinemas em A Baleia, novo filme de Darren Aronofsky (Cisne Negro, Mãe). Ambos os atores foram cativantes e emocionaram o público com seus discursos em algumas premiações, revelando um lado difícil e pouco falado da indústria. 

A Baleia é uma adaptação da peça de teatro escrita por Samuel D. Hunter que também assume o roteiro do filme. A peça já é considerada polêmica pela forma como trata a obesidade, sendo classificada de gordofobia por muitos críticos. Era esperado que Aronofsky fosse adaptar algumas questões polêmicas da peça, mas o que se vê em cena é o grosso da peça, com alguns diálogos inclusive idênticos. Há muitos trechos disponíveis no YouTube para quem quiser conferir. 

Darren Aronofsky já é um diretor dos mais polêmicos por sempre tirar o telespectador da zona de conforto. Seus filmes confrontam, incomodam e tocam na ferida. Ou seja, A Baleia não fugiria dessa regra com uma narrativa pesada, com diálogos duros e que causam desconforto. A princípio, o título do filme não faz menção à obesidade do protagonista. Tem uma relação literária com o clássico Moby Dick, que segue muito bem tratada no filme. 

A trama segue Charlie (Brendan Fraser), um professor de cursos online que não consegue se locomover por conta de seus 270 quilos. Sua saúde está cada vez pior, preocupando sua amiga enfermeira, Liz (Hong Chau), com quem passa boa parte do seu dia. Sabendo que lhe restam poucos dias de vida, Charlie decide se reconectar com sua filha adolescente Ellie (Sadie Sink), que ainda não superou ser abandonada pelo pai ainda criança. O caminho de Charlie também se cruza com um jovem missionário religioso, Thomas (Ty Simpkins), que vê uma oportunidade de pregar a palavra de Deus para o professor. 

Em meio a tantas próteses que compõem a figura gigante de Charlie, Brendan Fraser traz um personagem que foge da caricatura. Seu olhar emociona, machuca e causa desconforto, quando acompanhamos um turbilhão de emoções passando por esse homem. A gentileza e humanidade de Charlie é o motivo de Liz estar sempre ali com ele, mesmo sabendo que o amigo tem um destino fadado. É o motivo de voltar a se conectar com o pai, mesmo proferindo palavras duras para ele. E Brendan Fraser, entrega uma atuação digna dos prêmios que conquistou e, ainda pode conquistar, mostrando um homem que perdeu seu grande amor e puniu a si mesmo. Charlie coloca a culpa da morte do seu namorado em alguém. Ele se culpa, E a sua pena foi a obesidade. 

A Baleia é um filme muito mais profundo do que parece. São muitas camadas para analisar do que apenas trazer um olhar crítico sobre o peso de Charlie. Para Darren Aronofsky, seus filmes buscam expressar opiniões e contar histórias. Não se trata apenas de exaltar a glória e superação, mas se trata de explorar a fundo a dor, rejeição, solidão. 

Além da incrível performance de Brendan Fraser, a também indicada ao Oscar Hong Chau está ótima como Liz. Ela é a protetora de Charlie e também a que fala as duras verdades para ele. A sintonia entre os dois é ótima e rende momentos emocionantes. Sadie Sink mostra ser uma estrela em ascensão. Sua atuação até merecia ser lembrada em algumas premiações. Ellie soava ser mais um adolescente clichê, mas Sadie faz questão de transformar esse clichê em uma atuação forte e que nos minutos finais é primordial para o emocionante ato final. 

A Baleia é uma experiência forte, reflexiva e que vai gerar muitas discussões sobre a exploração do sofrimento de seu protagonista. Tudo movido pela grande performance de Brendan Fraser, o diferencial nesse filme.