Morte nos Roteiros por Leonardo de Andrade

É sempre muito bom rever filmes, seriados ou mesmo jogar algo realmente ótimo. Algo que nos faz sentir bem e desperta aquela emoção profunda escondida dentro do cerne humano. Muitas vezes, rever um filme antigo, daquele estilo Sessão da Tarde, cheio de lembranças da infância ou visto com pessoas especiais, é melhor do que ver um filme inédito ruim. Óbvio, muitos podem discordar desta afirmação e preferirem ver coisas inéditas do que O Silêncio dos Inocentes pela trigésima vez (algo errado com isso? Quem não ama Hannibal Lecter?). Para ser franco, ainda tenho todos os diálogos de Toy Story decorados desde a primeira vez em que assisti ao filme, lá no final dos anos 90.

De qualquer modo, os filmes – melhor dizendo, os roteiros, porque não são apenas filmes sofrendo do mal Hollywoodiano – estão deixando, sensivelmente, de ser inéditos. Apesar de não termos vistos tantas sequencias explosivas ou efeitos especiais ótimos em 1984, a história por trás de Exterminador do Futuro é manjada. Todos sabem que a Skynet existe e que Sarah Connor deve ser protegida e o nascimento do salvador da humanidade, John Connor, preservado. Após o Exterminador do Futuro, sequências foram lançadas e agora um reboot. É necessário? Dificilmente. É uma infelicidade saber que a franquia nunca conseguiu seu final digno, especialmente após a saída do visionário James Cameron, mas e aí? O clássico de 84 nunca deixará de ser um clássico. Ainda existirá a preferência de assistir o primeiro filme ao reboot. No entanto, este artigo não se trata disso.

Trata-se de roteiros sendo espremidos até a última folha. Morrendo.

Simples assim. Talvez, neste momento, aquele velho ditado faça sentido. “Nada se cria e tudo se copia”. É verdade? Novamente, talvez. Há controvérsias. Muitos dizem que a indústria passa por uma crise de criatividade – ou writters block, como diriam os indivíduos cult de nossa ilustre sociedade – e, em ordem de ganhar dinheiro, deve-se revirar o baú atrás de clássicos. Certamente eles vão funcionar de novo. Errado. Roteiros são como livros. Nem sempre sentimos a mesma coisa ao ler um livro quando temos dez anos e depois aos trinta. Nossa vida muda. Nossas emoções transcendem com nosso aprendizado. Psicose funcionou há mais de quarenta anos e não conseguiu funcionar em 1998, uma era bem mais urbana e beatnik do que a década reinada por Alfred Hitchcock. Por que diabos um remake de Os Pássaros ou Janela Indiscreta deveria funcionar hoje em dia? Mais sensato seria refazer Um Corpo que Cai, sendo este um filme nada apreciado em seu próprio tempo.

No final, por que essa mania de remake? As ideias não estão escassas. Existem filmes inéditos sendo lançados e ganhando mais de um Oscar. Há Birdman (apesar de nem todos gostarem), Interestelar ou o incrível Boyhood, cuja falta de apreço é de deixar o sujeito pasmo. Sem falar das adaptações de livros, embora este seja um assunto delicado para tocar, uma vez que a maioria dos clássicos do cinema veio primeiramente da mente de escritores geniais (Silêncio dos Inocentes, Um Estranho no Ninho e muitos outros). Após falar de filmes e livros, deveria me atrever a entrar na área de games. Há algumas adaptações lá. Porém, é uma área mais cheia de sequências do que remakes, apesar destes últimos estarem ganhando destaque conforme os gráficos avançam e os gamers envelhecem. Claro, existem infinitas remasterizações desnecessárias. Como diria Hideo Kojima, “Metal Gear Solid 1 deve ser lembrado como era”. No lado das sequências, gostaria de uma resposta sincera justificando a existência de vinte títulos de Call of Duty (pode ter sido um número inventado e exagerado).

Apesar de reboots, remakes, sequências, filmes de super-herói a torto e direito, isso também remete para outro ponto demasiado importante. Por quê? Os humanos, naturalmente, quando olham para o relógio da vida e descobrem que vão ter um novo sobrinho (ou filho, tanto faz) se dão por conta de como tudo passou. E foi depressa. Então, naquelas reuniões mais intimas com familiares e amigos, em que todo mundo decide ver um filme, a mãezona vai lá e faz pipoca, existe recordação e nostalgia. Dentro dessa nostalgia, a galera decide ver Os Goonies. De tal modo, a indústria percebe a necessidade de recordar. Regrava Os Goonies (não, não vai rolar) na esperança de que as crianças, agora adultos, levem seus filhos e passem o legado para uma nova geração. É uma coisa inocente que muda o mercado e coloca uma máscara de vilão nessa mesma indústria. Porém, existe algo que precisa ser observado. Grita para ser visto junto com os cabelos brancos.

Tudo que passou, não volta mais.

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