Homem-Aranha: a melhor criação no mundo dos heróis

A admiração que possuo pelo universo do Homem-Aranha é exposta na minha biografia de redator do Poltrona Nerd. Tempos atrás, quando ainda era um mancebo, eu sempre li e assisti as histórias do amigão da vizinhança, além de sempre me espelhar naquela figura, principalmente nos momentos mais difíceis da fase transitória de infância, pré-adolescência e, inclusive, na adolescência. Quiçá esse espelho sirva para o resto de minha vida, pois trata-se não só de uma figura idealizada com propósito de entreter, mas com o propósito de ensinar valores morais e altruístas que estão enraizados na emblemática personalidade de Peter Parker. As mensagens passadas através de histórias em quadrinhos, animações e filmes é extremamente forte (e sutil algumas vezes), tanto é que até hoje somos marcados pela clássica frase (inclusive tatuada no meu corpo) de que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.

Peter Parker é o típico jovem estudioso que tira boas notas no colégio. Ele é um garoto bom, que preza pelos entes queridos e pelas pessoas que ama. Órfão e criado pelos tios, é tímido, completamente desajeitado com garotas e nunca foi de possuir muitos amigos. Dentro do âmbito escolar, ele sofria com provocações e gozações de muitos outros garotos, especialmente de Flash Thompson. Resumidamente, Peter Parker é a figura de um nerd que perdura desde o ano em que foi criado até os dias atuais. Garotos de todas as culturas e países, que passaram por isso, se identificam com o personagem. Qual nerd nunca teve um Flash Thompson na sua vida? Ou qual nerd nunca teve a garota dos sonhos (como a Gwen Stacy ou a Mary Jane), mas nunca coragem de expressar seus sentimentos com medo de rejeição? A grandeza do personagem começou nesses pequenos detalhes. As pessoas que nunca vivenciaram essa experiência na infância nunca irão notar da mesma forma que as pessoas que vivenciaram; talvez, por isso, o Homem-Aranha seja mais querido por uns do que por outros.

Aos 15 anos de idade, após um acidente, o jovem Peter Parker é picado por uma aranha radioativa que lhe dá superpoderes. Levado somente por pensamentos individualistas e imaturos, Parker tentou primeiramente ganhar dinheiro com seus poderes. Depois, não fez o mínimo esforço para impedir a fuga de um ladrão que viria a assassinar o seu Tio Ben. Com um grande sentimento de culpa e responsabilidade pela morte de seu tio, ele começa a usar os seus poderes e seu disfarce para ser um super-herói. Os erros e o sentimento de culpa estão presentes em todos nós, não importando o tamanho do erro ou da culpa. Aprendemos e crescemos com eles, e essa transição de um garoto para um herói está marcada nesse acontecimento. Peter era um herói antes mesmo de ser picado e receber seus poderes. Ele provavelmente se tornaria, pela genialidade, um dos grandes empresários que vemos hoje comandando as novas tecnologias do mercado como Google e Apple. O erro que Parker teve após os poderes é explicado pela imaturidade, pois: um garoto que não conseguia realizar nada no dia anterior e hoje pode levantar um carro não se animaria ou ficaria cego pelos poderes? Se qualquer outro indivíduo fosse picado pela mesma aranha, hoje teríamos uma grande probabilidade de ele tornar-se um vilão do que um herói. Os heróis são escassos, e dentre os heróis, o Homem-Aranha é a figura mais humana e tangível que existe.

Os problemas financeiros começaram a aparecer após a morte de seu tio. Sua Tia May não tinha condições físicas para conseguir um emprego, e mesmo ela desejando que Peter fosse um cientista, ele vai à procura de um trabalho. Peter, então, começa sua vida de muitas tarefas. Ele precisa estudar, precisa trabalhar, precisa ter tempo para a sua tia e precisa também atuar como Homem-Aranha, mesmo sendo contestado pelo jornal que publica suas fotos, por alguns cidadãos e também pela polícia. Além disso, ele ainda tentava possuir e administrar algumas relações amorosas, mas nunca tinha tempo suficiente para elas. Hoje, muitas pessoas passam por dificuldades financeiras e muitos jovens começam a trabalhar cedo para ajudar sua família; um ato nobre de sacrifício. Muitos sacrificam os estudos e, consequentemente, uma carreira a mercê de ajudar os pais, filhos e irmãos. Heróis?  Não tenho dúvida de que são, independentemente do que seja certo ou errado (não é o foco do tema). O Homem-Aranha é conhecido por colocar a sua vida em risco para salvar a de outra. Se for preciso morrer para salvar outra pessoa, ele morrerá. Se for preciso levantar destroços que somam em uma tonelada que caíram sobre o corpo dele para salvar outra pessoa, ele levantará. Se for preciso parar um trem desgovernado com centenas de passageiros, ele irá parará. O sacrifício é algo presente no herói e isso atinge todos os aspectos de sua vida. Peter sacrifica não só sua vida para salvar outras pessoas, mas também sua vida pessoal e seus sonhos.

A morte do Homem-Aranha no Universo Ultimate exemplifica tudo que é o personagem. É uma história marcante, que em poucas páginas antes de seu falecimento, descreve tudo que ele é. Suas últimas palavras foram direcionadas a sua tia May, onde ele dizia:

Você não consegue ver? Está tudo bem, eu consegui. Eu consegui. Eu não consegui salvá-lo. O tio Ben. Eu não consegui salvá-lo… não importava o que eu fizesse. Mas eu salvei você. Eu consegui. Eu consegui.

Eu acredito que há um pouco de Peter Parker em todos nós, que nos pequenos gestos do dia a dia demonstramos para todos aqueles que amamos – e até para as pessoas que não conhecemos –, que podemos fazer o bem sem precisar de nada em troca. Acima disso, podemos fazer o bem mesmo com tanto sofrimento e traumas que passemos em nossas vidas. Não precisamos ter medo de religiões ou cultos que pregam que seremos julgados por tudo que realizarmos em vida para fazermos o bem ao próximo. É simplesmente querer e fazer. O próprio Homem-Aranha, na história “O garoto que colecionava Homem-Aranha”, nos ensinou que em meio a tantos afazeres na nossa rotina, podemos realizar uma pausa para pessoas que precisam. Ele releva sua própria identidade secreta para fazer uma criança feliz em uma das histórias mais tocantes que já li. Não nascemos com habilidades de escalar as paredes, de possuir força exacerbada, de termos reflexos extraordinários, mas possuímos a habilidade de amar, de se doar e de sacrificar pelo próximo. Podemos fazer isso sorrindo, com bom humor (o mesmo humor que Peter usava quando enfrentava vilões e todos os seus problemas cotidianos). Podemos cair muitas vezes no caminho, mas com cada queda há uma lição a ser aprendida, e cada lição nos fará mais conscientes, experientes e, consequentemente, mais sábios. Podemos ser felizes valorizando mais a pessoa que está ao nosso lado do que a versão atualizada do seu celular que acabou de sair nas lojas. Precisamos dar mais valor ao que não é eterno, e precisamos fazer mais o bem pelo próximo. Nós todos somos iguais, possuímos os mesmos poderes e as mesmas grandes responsabilidades. Resta a cada um designar o que fazer com eles porque, no fundo, todos somos heróis – e foi o Homem-Aranha quem me ensinou isso.

Esse artigo é uma opinião pessoal, que tem como objetivo levar o tema ao debate entre os leitores de forma saudável e respeitosa.