A série Vikings do History Channel chamou a atenção das pessoas por retratar os guerreiros vikings, sua sociedade e suas batalhas impiedosas, mas quanto da série é baseado em fatos?
Apesar de não ser um documentário ou uma série educacional, é inevitável para os espectadores se perguntarem o quanto do mundo de Vikings é historicamente correto e o que foi inventado para a série. A verdade é que a série se baseou sim em registros históricos, mas foram adicionados elementos de ficção para manter o enredo funcionando.
Vikings foi criada por Michael Hirst (que também criou a série histórica The Tudors) e estreou em 2013. A série inicialmente seguia as aventuras e invasões do legendário Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel) e seus companheiros vikings, do inicio da Era Viking (marcada pela invasão de Lindisfarne, como mostrado na primeira temporada) em diante. As temporadas seguintes também focaram nos filhos de Ragnar e suas próprias viagens, até chegarmos na morte de Ragnar na quarta temporada.
A série está chegando em sua sexta e última temporada, com Bjorn (Alexander Ludwig) e Ivar (Alex Høgh Andersen) se confrontando pelo futuro da Noruega, prometendo muita ação, drama e sangue, assim como nas temporadas anteriores. Com o final se aproximando, é um bom momento para explorar a verdadeira história por trás de Vikings – o texto original é do Screen Rant, nós traduzimos e adaptamos para vocês.
A REAL MITOLOGIA POR TRÁS DE VIKINGS
Vikings se inspira nas Sagas Nórdicas, histórias sobre viagens e batalhas escritas no século XIII. Ragnar Lothbrok é uma figura importante, com suas próprias sagas e contos retratando sua vida e viagens. De acordo com elas, ele era um guerreiro e invasor destemido, mais conhecido por ser o líder do Cerco de Paris no ano 845. Apesar de Ragnar ter sido o personagem que deu o pontapé inicial na série, Vikings não é apenas sobre o Ragnar – ela também explora outros lados das vidas dos vikings, assim como outros personagens importantes das sagas e lendas.
Como visto na série, os vikings tinham habilidades avançadas em termos de navegação, tinham sua própria estrutura social dividida em três – Thralls (os escravos), Karls (camponeses livres) e Jarls (os aristocratas) – e acreditavam na religião Nórdica. Os vikings acreditavam que após as batalhas, Odin caminhava pelo campo de batalha e escolhia quem retornaria com ele para Valhalla, o local para onde vão os guerreiros após suas mortes. Nos textos em Nórdico Antigo, é sempre descrito que Odin anda acompanhado por seus animais: dois lobos (Geri e Freki) e dois corvos (Huginn e Muninn). Os vikings também acreditavam que os Deuses tinham habilidades de se transformar e poderiam aparecer como corvos, corujas ou lobos – isso explica porque em algumas cenas corvos apareceram próximos de Ragnar, já que ele se dizia descendente de Odin.
Os vikings eram muito mais do que selvagens que matavam todos aqueles que cruzavam seu caminho durante as batalhas e invasões. Embora fossem uma cultura não alfabetizada, eles descreviam seu mundo (e eles mesmos) nas pedras de runas, as mulheres eram mais livres do que em outras culturas e suas habilidades de engenharia eram excelentes. É claro que a brutalidade de suas batalhas é um lado muito mais atraente para muitos, então a série não pode deixar isso de lado, mas eles fizeram o possível para representar muito mais a cultura dos vikings do que apenas as festas banhadas de sangue.
RAGNAR LOTHBROK EXISTIU DE VERDADE?
Como os vikings não mantinham registros escritos de suas viagens e os registros existentes vieram posteriormente de outras culturas que tiveram contato com esses povos, a existência de Ragnar Lothbrok não é certa. Michael Hirst disse que, após fazer pesquisas para as série, ele concluiu que Ragnar existiu sim, já que seu nome aparece em muitos registros. Entretanto, as fontes não são extremamente confiáveis (a Saga de Ragnar Lothbrok fala que ele matou um dragão), enquanto é possível que tenha existido um homem chamado Ragnar Lothbrok (ou Lodbrok, muitas vezes citado como Ragnar Calças Peludas), o guerreiro viking é provavelmente a combinação de várias figuras diferentes com um pouco de ficção para adicionar mais drama a lenda.
Acredita-se que Ragnar tenho sido inspirado no líder viking Reginherus, conhecido pelo Cerco de Paris no ano 845, no Rei Horik I da Dinamarca (que aparece na série) e no Rei Reginfrid, que governou parte da Dinamarca e entrou em conflito com Harald Klak, o predecessor de Horik. Alguns estudiosos acreditam que Ragnall dos Anais Irlandeses também pode ter ligação com a figura de Ragnar Lothbrok. Portanto, a veracidade de muitos aspectos de sua vida retratados nas sagas e outras fontes não é clara, mas uma coisa é certa: Rollo (Clive Standen), que aparece como irmão de Ragnar na série, não teve nenhuma conexão com o Ragnar das sagas, mas existem sugestões de que ele participou (e possivelmente também liderou) o Cerco de Paris, porém o que aconteceu quarenta anos depois do de Ragnar, no ano de 885.
O QUE A SÉRIE MUDOU E O QUE A SÉRIE INVENTOU?
A história dos vikings é muito rica, mas ela pode não ter tido drama, fantasia e elementos excitantes o suficiente para se tornar uma série de TV. Naturalmente, Hirst e companhia tiveram bastante liberdade artística quando se trata da criação de personagens e eventos para a série. Real ou não, a série é baseada no que as sagas e outras fontes dizem sobre Ragnar Lothbrok, mas algumas mudanças precisaram ser feitas para que o arco do personagem durasse por mais de uma temporada. De acordo com as sagas, Ragnar foi casado com a nobre Thóra Borgarhjǫrtr, mas de acordo com o Saxo Grammaticus’ Gesta Danorum, sua primeira esposa foi a escudeira Lagertha (Katheryn Winnick), assim como na série. Lagertha é mencionada na Saga de Ragnar Lothbrok, mas ela nunca se tornou uma earl e nem foi a mãe de Bjorn Ironside. Entretanto, ela foi uma guerreira, assim como mostrado na série. Ragnar depois se casou com a rainha Aslaug, mãe de todos os seus filhos (incluindo Bjorn). Muitos dos relacionamentos de Ragnar, suas viagens e ações foram inspiradas em outras figuras históricas, como sua morte falsa na terceira temporada, um movimento comumente utilizado pelo chefe viking Hastein.
Os cercos, especialmente os que aconteceram em Paris, foram mostrados com várias mudanças históricas – a série combinou os acontecimentos dos cercos de 845 com os de 885-886. Falando em cercos, Athelstan (George Blagden) é um personagem fictício e não há registros de um monge cristão que foi sequestrado por vikings (muito menos um que tenha se tornado o melhor amigo de Ragnar Lothbrok). Entretanto, houve um Athelstan durante aquele período, o neto do Rei Alfredo, o Grande, de Wessex. Um dos personagens mais queridos da série, Floki (Gustaf Skarsgård), é baseado na figura histórica Floki Vilgerson, que fundou a Islândia, mas o Floki de Vikings é na maior parte ficcional.
A vila de Kattegat também é ficção, já que Kattegat na verdade é um mar entre a Dinamarca e a Suécia e não existe nenhum registro de uma vila escandinava com esse nome. Muitos outros personagens, embora figuras reais, foram mostrados de forma mais ficcional, como o Aethelwulf de Wessex, Rei Alfredo, Carlos III de França, Aslaug, Bjorn Ironside, Rei Horik, Rollo e outros. Ivar, no entanto, é mostrado de forma correta na maior parte de seu arco, apesar de suas ações no Reino Unido serem uma mistura de várias batalhas – e ele não matou seu irmão Sigurd.
Como a série Vikings é feita para entretenimento e não para motivos educacionais, o time de criação pode ter liberdade para contar a história da maneira que acharem melhor, com personagens que podem ou não ter existido. A série conseguiu despertar a curiosidade dos espectadores em relação à essa cultura dos vikings e outras figuras históricas, assim como The Tudors conseguiu na época em que era exibida e talvez esse seja o maio legado desse tipo de programa.
Vikings volta a ser exibida no dia 4 de dezembro em um especial com os dois primeiros episódios e 2 horas de duração. No Brasil, a série é exibida pelo canal pago FOX Premium e pelo Fox APP, as temporadas anteriores também estão disponíveis no catálogo da Netflix.