Stranger Things sempre se destacou por suas referências à cultura pop dos anos 80, utilizando elementos de filmes e jogos como Dungeons & Dragons para dar nome e forma aos seus monstros. No entanto, na temporada final, a série se aprofunda em uma fonte literária clássica para estruturar sua trama: o livro Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L’Engle, publicado em 1962.
Essa conexão não é apenas um detalhe, mas sim um mapa narrativo para desvendar os maiores mistérios de Hawkins. A referência se torna explícita através de Holly Wheeler, a irmã mais nova de Mike e Nancy. Ela, uma fã declarada do livro, acaba sendo a personagem que nos guia por essa complexa teia de paralelos.
Quando Vecna a atrai para sua armadilha, ele assume o pseudônimo de Sr. Quequeé , uma versão distorcida e sombria da benevolente Sra. Quequeé do livro, um ser celestial que ajuda as crianças em sua jornada. É a própria Holly que, ao entender a natureza da prisão mental criada por Vecna, a compara diretamente a Camazotz, o planeta sombrio e controlado do livro, estabelecendo o tom para o confronto final.

As semelhanças conceituais que definem Stranger Things
A ligação entre as duas obras vai muito além de simples menções em Stranger Things. Ela está na estrutura fundamental de seus universos, compartilhando conceitos sobre física, a natureza do mal e a força necessária para combatê-lo. A base da locomoção entre mundos nas duas obras parte de um princípio científico muito parecido.
Em Uma Dobra no Tempo, o conceito do “Tesseract” é central, descrito como uma “dobra” no tecido do espaço-tempo que permite viagens instantâneas através do universo. De forma análoga, o Mundo Invertido em Stranger Things é acessado através de um “portal” ou “rasgo” na realidade.
A teoria que ganha força na última temporada é que a abertura do portal por Eleven não apenas criou uma passagem, mas literalmente “dobrou” o tempo, criando uma versão congelada de Hawkins em 6 de novembro de 1983.
O mal singular e controlador de Stranger Things
Ambas as narrativas apresentam um antagonista central que opera através do controle mental para impor conformidade e erradicar a individualidade. Em Uma Dobra no Tempo, a ameaça é “A Coisa (It)“, uma entidade descrita como um cérebro gigante e pulsante que domina telepaticamente o planeta Camazotz, forçando todos os seus habitantes a uma rotina monótona e sem livre-arbítrio.

Em Stranger Things, essa força é personificada por Vecna, um ser psíquico que opera como a mente central do Mundo Invertido, controlando criaturas como o Devorador de Mentes e os Demogorgons, enquanto se alimenta dos traumas de suas vítimas para exercer controle.
O que a conexão revela sobre o final de Stranger Things?
A presença de Uma Dobra no Tempo funciona como um guia para o que podemos esperar da conclusão da série. O título de um dos episódios finais, “Fuga de Camazotz“, é a pista mais clara de que a trama seguirá a lógica do livro. Assim como em Uma Dobra no Tempo, a solução não reside na força física, mas no poder das emoções e da individualidade.
A arma mais poderosa contra uma entidade que busca o controle absoluto é aquilo que ela não consegue compreender: o amor, a lealdade e as memórias autênticas. A jornada de Max e Holly pelas memórias de Henry Creel pode não apenas revelar a origem de sua maldade, mas também ser a chave para desmantelar sua fortaleza mental por dentro, permitindo que Eleven e o resto do grupo o ataquem no mundo real.
A fuga delas desse “Camazotz invertido” será, portanto, o passo decisivo para a salvação de Hawkins.