Romário – O Cara | Crítica

Série documental da Max esmiúça a trajetória de um dos atletas mais controversos e fascinantes dos anos 90

Romário de Souza Faria, o eterno camisa 11, sempre foi mais do que um simples jogador de futebol: ele é um ícone cultural que transcendeu o esporte. Romário – O Cara, a nova série documental da Max, esmiúça a trajetória de um dos atletas mais controversos e fascinantes dos anos 90. Dirigida por Bruno Maia e produzida pelas talentosas mãos da Feel the Match e Kromaki, a série, dividida em seis episódios intensos, oferece um mergulho profundo na vida de Romário. O ex-jogador da Seleção Brasileira fala sem filtros sobre sua carreira turbulenta, desde os percalços iniciais até a consagração com a vitória na Copa do Mundo de 1994. Essa abordagem, marcada pela honestidade crua e pela rica narrativa, cativa tanto os aficionados por futebol quanto aqueles que apenas buscam uma história humana impactante.

Romário - O Cara | Crítica

A narrativa da série inicia-se em 1992, num ponto crucial da carreira de Romário: quando o astro se vê relegado ao banco de reservas da Seleção Brasileira. É um momento de crise e conflito com a comissão técnica, resultando em sua exclusão de importantes convocações seguintes. A série navega com maestria entre idas e vindas cronológicas, revelando a tensão e as adversidades que marcaram o período pré-Copa do Mundo de 1994. Cada episódio é estruturado para capturar a turbulência e a redenção do jogador, culminando em seu triunfante retorno à seleção e na glória máxima da conquista da Copa do Mundo, onde ele não só leva o Brasil à vitória, mas também é coroado como o melhor jogador do planeta.

O documentário é construído de tal forma que atrai não apenas os aficionados por futebol, mas qualquer espectador interessado em uma história de superação e autoconfiança inabalável. As idas e vindas cronológicas, longe de confundirem, enriquecem a narrativa, sublinhando a complexidade e a singularidade de Romário. Sua disposição para falar o que pensa, em uma época dominada por declarações controladas e assepticamente preparadas por assessores de imprensa, é um refrescante sopro de autenticidade. Romário se destaca não apenas pelos gols, mas por sua verve incontrolável, que incomodava treinadores e colegas de equipe. Romário – O Cara pinta um retrato completo do jogador, não apenas como um virtuoso do futebol, mas como um homem cujo temperamento era tanto um trunfo quanto uma maldição.

Romário – O Cara não deixa de lado a dura realidade de suas origens no Jacarezinho, uma comunidade pobre do Rio de Janeiro. A série ilumina como essas raízes moldaram seu caráter: a resistência às adversidades e a recusa em ser controlado por qualquer um. Esta força de vontade indomável, que se manifestava como uma armadura contra a adversidade, definiu seu estilo de vida e carreira. A narrativa nos leva a entender que, para Romário, a autenticidade e a liberdade pessoal eram tão fundamentais quanto a habilidade com a bola nos pés. A série documenta não apenas sua ascensão ao estrelato, mas o preço pago por sua independência e obstinação.

Os episódios mais memoráveis abordam as inúmeras polêmicas que cercaram Romário: suas escapadas durante as concentrações, as infidelidades e as frequentes discórdias com a administração esportiva. Apesar de tudo, sua lealdade ao futebol nunca esteve em questão. Dentro das quatro linhas, ele sempre entregou gols e foi visto, por longos períodos, como o salvador da Seleção Brasileira. A série não poupa detalhes ao mostrar como Romário, com seu espírito irreverente, conseguiu capturar a imaginação e os corações dos torcedores, transformando seu estilo de vida controverso em um componente inseparável de seu mito.

O episódio que cobre seu retorno à Seleção em 1993, para o crucial jogo das Eliminatórias contra o Uruguai, é retratado com uma intensidade que lembra os momentos decisivos de uma série dramática de super-heróis. Romário surge como a figura central, assumindo a responsabilidade com uma confiança quase sobre-humana e guiando o Brasil a uma vitória dramática. A série habilmente capta a atmosfera eletrizante desse episódio, destacando a autoconfiança e o talento que fizeram de Romário o jogador mais emblemático daquela geração.

Romário – O Cara faz uma viagem internacional para colher depoimentos de figuras que compartilharam o campo com Romário, desde seus dias no PSV e Barcelona até a Seleção Brasileira. Personalidades como Guardiola e Roberto Baggio fornecem perspectivas que sublinham a genialidade e a personalidade única do jogador. Os relatos tecem um quadro mais amplo, revelando como Romário era visto não apenas como um gênio do futebol, mas como uma figura carismática e, às vezes, contraditória.

A participação de Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção, adiciona uma camada de complexidade ao documentário. Parreira não hesita em destacar o conflito de egos entre Romário e Zagallo, o coordenador técnico da seleção, cuja oposição a Romário é narrada com precisão. A série brilha ao delinear esses conflitos internos, mostrando como Romário, apesar de sua atitude muitas vezes considerada antiprofissional, compensava tudo com sua eficácia dentro de campo. Ele raramente falhava nos momentos críticos, forçando aqueles ao seu redor a lidar com sua personalidade em troca de sua brilhante contribuição para o time.

Os episódios finais, focados na Copa do Mundo de 1994, são carregados de tensão. A série explora o clima dentro da Seleção Brasileira, que não conquistava uma Copa desde 1970. Romário, com sua promessa de trazer o título, emerge como uma figura de liderança, tanto dentro quanto fora de campo. Sua dedicação à preparação física e mental para o torneio é meticulosamente detalhada, culminando na vitória e no reconhecimento como o melhor jogador do torneio.

Romário – O Cara é, em última análise, uma jornada fascinante pela mente e pela carreira de um dos maiores gênios do futebol, apresentada sem filtros e com uma autenticidade tão desarmante quanto o próprio Romário.

5

EXCELENTE

Romário – O Cara é, em última análise, uma jornada fascinante pela mente e pela carreira de um dos maiores gênios do futebol, apresentada sem filtros e com uma autenticidade tão desarmante quanto o próprio Romário.