João Daniel Tikhomiroff João Daniel Tikhomiroff

João Daniel Tikhomiroff debate a longevidade das séries infantis

Diretor de Mundo da Lua aponta ausência de janelas para o público jovem e alerta para perda de referências culturais.
Leo Pegozzi

Ontem, 30 de julho, o palco Mercado da Cinemateca Brasileira recebeu um dos painéis mais aguardados da 9ª edição do Serie_Lab Festival 2025: o debate Como uma série infantil não envelhece junto ao seu público?. A discussão reuniu alguns dos principais nomes da produção de séries infantis no Brasil para refletir sobre os fatores que contribuem para a longevidade dessas obras e sua capacidade de se manterem relevantes com o passar do tempo.

Entre os participantes esteve João Daniel Tikhomiroff, cineasta e presidente da Mixer Films, que assina a direção artística da nova temporada de Mundo da Lua (TV Cultura). Em sua fala, Tikhomiroff ressaltou a importância de valorizar a produção infantojuvenil no Brasil e criticou a escassez de espaços dedicados ao gênero: “A falta de janelas que existe no mercado para o público infantojuvenil me preocupa como formação para as próximas gerações, de referências brasileiras de cultura, de comportamento.”

Ele também destacou a força desse conteúdo nas plataformas digitais: “Reforço que a gente tem que olhar de novo para o público infantil juvenil. Por exemplo, você pega as plataformas de streaming, você vê sempre no Top 10, os três primeiros colocados são infantis.” E concluiu: “Acho que temos talentos excelentes nessa área, mas precisam abrir novas janelas.”

 

Leo Pegozzi

Também participaram da mesa Beth Carmona (consultora e gestora de projetos voltados ao público infantojuvenil e integrante da equipe de gestão da TV Cultura), Gabriel Ferraz (coordenador de Conteúdo Infantil & Filmes da Globo) e Nigel Goodman (roteirista de Irmão do Jorel e Acorda, Carlo!). A mediação ficou por conta da roteirista Ana Pacheco, roteirista-chefe da nova temporada de Detetives do Prédio Azul (Gloob).

Nigel Goodman observou que a queda na produção brasileira voltada a esse público também traz riscos ao setor criativo como um todo: “Deu uma sumida de um tempo pra cá [as produções brasileiras infantojuvenis], e isso preocupa porque se perde um pouco as referências culturais brasileiras. E mesmo pessoas de mercado… se a gente não se preocupa em manter como incentivo à cultura, a gente perde bons ilustradores, bons animadores, porque eles vão fazer outras coisas.”

Gabriel Ferraz compartilhou os bastidores da longevidade de Detetives do Prédio Azul: “Um dos grandes desafios de séries protagonizadas por crianças é que elas crescem, e para a série continuar, o elenco precisa ser renovado.” Ele explicou que a série conseguiu se reinventar por meio de spinoffs, vlogs, podcasts e até uma versão animada, o DPA Mini: “A gente precisa lembrar que, além de renovar a série em si, o público também vai se renovando. Então não pensamos somente nas histórias, mas também em nova direção e outras formas de olhar para o mesmo universo.”

Beth Carmona enfatizou o papel das produções brasileiras na construção da identidade cultural das crianças: “A gente entende a necessidade da criança brasileira de se conectar com a história que tem a ver com a realidade dela. E também de se conhecerem. Da criança do Norte conhecer a criança do Sul.” Ela também destacou os efeitos positivos das leis de incentivo: “Acho que a Lei Paulo Gustavo e a Aldir Blanc estão revelando talentos brasileiros maravilhosos — roteiristas, diretores. Estamos recebendo muitos projetos com foco infantojuvenil por causa desses incentivos.”

Criado em 2017 pelos roteiristas Gustavo Coltri e Vana Medeiros, o Serie_Lab Festival é um dos principais encontros do mercado audiovisual brasileiro, promovendo a troca de experiências entre roteiristas, diretores, produtores e gestores criativos. A edição de 2025 conta com parceria da Cinemateca Brasileira e da Sociedade Amigos da Cinemateca, apoio do Projeto Paradiso e patrocínio da Spcine e da Audible.