O Prime Video realizou nesta quinta-feira, 14 de agosto, uma sessão com o primeiro episódio de A Mulher da Casa Abandonada, que teve seus três episódios adicionados ao catálogo do serviço de streaming hoje. A obra é uma adaptação do podcast homônimo que se tornou uma sensação nacional em 2022 e foi um dos mais ouvidos do país.
No conteúdo original, o jornalista Chico Felitti investiga uma senhora peculiar que mora em uma mansão em ruínas em um bairro nobre de São Paulo. Ao longo da investigação, ele descobre que a moradora foi acusada, juntamente com seu ex-marido, de agredir e manter ilegalmente a trabalhadora doméstica brasileira Hilda Rosa dos Santos nos Estados Unidos durante os anos 2000. A série, que apresenta novos detalhes sobre o caso, também ouve, pela primeira vez, as declarações da vítima. O caso, que na época teve grande repercussão jurídica nos Estados Unidos, gerou intensos debates e levou à criação de uma lei que protege vítimas de trabalho forçado, permitindo que trabalhadores que denunciam abusos possam permanecer legalmente naquele país.
Após assistirmos aos primeiro episódio, pudemos acompanhar uma conversa entre Chico Felitti, a diretora Kátia Lund e a roteirista Mariana Paiva com mediação da jornalista Cris Guterres. Confira um pouco do processo de criação e histórias de bastidores que eles compartilharam:
Para iniciar o projeto, foi preciso pensar em uma maneira de adaptar uma história real contada em um podcast para o formato de vídeo, de forma que ainda continuasse interessante. Kátia Lund revelou que, além de toda a pesquisa já feita por Chico Felitti para escrever os roteiros do podcast A Mulher da Casa Abandonada, ainda foram necessários mais um ano e meio de pesquisas, tentativas de entrevistas e busca de novos materiais para o documentário. Além disso, foram criadas algumas dramatizações para ajudar na imersão do espectador na história.
“Quando surgiu a oportunidade de fazer a adaptação, pra mim, só faria sentido se fosse além do podcast. Uma coisa que acontece muito, acho que mais nos EUA do que aqui, é pegar um podcast que fez algum sucesso e transpor para a tela só com imagens de cobertura, com exatamente o mesmo modelo, os mesmos entrevistados, a mesma história. E eu achava que essa história merecia mais”, revela Chico Felitti sobre essa busca de novos materiais. “É completamente outra história, só que é o mesmo caso”.
Representando o time de roteiristas, Mariana Paiva explica que o processo de escrita foi bastante dependente das pesquisas, tanto das feitas pelo jornalista para o podcast, quando da equipe do documentário em si, mas que o ponto mais relevante do documentário é a participação da vítima, contando sua história pela primeira vez. “A equipe de pesquisa tinha reunião semanal com a gente e uma troca diária, a Kátia também. Pra gente foi uma grande surpresa quando a gente pôde contar com a presença da Hilda, que mudaria toda a história. Pra mim foi a cereja do bolo ter a Hilda pra contar a versão dela. É a primeira vez que um true crime traz uma vítima para falar como o crime aconteceu”.
Para conversar com Hilda, Kátia Lund viajou aos EUA, onde ela vive até hoje. “A gente achava que a Hilda não ia querer participar, porque o Chico convidou ela pra participar do podcast e ela pediu pra não participar. E ele respeitou e nem revelou o nome dela. Quando entrei em contato com ela, estava preparada pra ouvir ela dizer que não queria aparecer. Nesse caso a gente teria que escolher um outro caminho”, conta a diretora.
Após ouvirem o podcast, a possível família da vítima no Brasil entrou em contato com Chico Felitti revelando que estavam procurando por ela há anos. Por conta dessas conversas, Kátia Lund apareceu na casa de Hilda com algo a oferecer: imagens da família e a possibilidade de retorno ao país de origem. A diretora esperava que isso fosse algo que ajudasse a fazer com que a senhora, que hoje tem cerca de 90 anos, se abrisse com ela. Mas nem foi preciso, ao ver a diretora e uma pesquisadora brasileira batendo em sua porta, Hilda já começou a conversar. Ainda assim, foi um processo longo para conseguir a participação da vítima no documentário. “Eu voltei muitas vezes durante um ano para construir uma relação com ela”, conta a diretora.
“Acho que essa entrevista é uma das coisas mais comoventes que já vi na minha vida”, diz Chico Felitti sobre o material gravado por Kátia Lund com Hilda. “Esse processo de criar um laço, de conquistar a confiança de alguém e de honrar essa confiança como a Kátia, a Mari e o time inteiro fizeram… mais do que isso, você pode conquistar a confiança de alguém e dar uma rasteira nessa pessoa, mas elas honraram a confiança dessa pessoa. A Hilda viu a série e se comoveu e gostou muito. Se sentiu representada na série. E acho que depois que ela de dispôs a falar, teve a generosidade e a coragem de contar a história dela, vou dar spoiler, mas… muda o mundo. A coragem dela muda leis”.
Além de entrevistar Hilda, os policiais que trabalharam no caso e os vizinhos que testemunharam a história acontecendo também estão presentes no documentário. Kátia Lund acredita que tanta gente aceitou participar porque Hilda é uma pessoa apaixonante que acabou conquistando todos eles. Mesmo assim, não foi fácil convencer todos eles, foram meses de tentativas. “A Hilda foi quem abriu todas as portas pra gente”, revela a diretora. O casal Margarida e Renê Bonetti não quis contar a versão deles sobre essa história.
Para saber mais sobre esse caso, assista A Mulher da Casa Abandonada, já disponível no Prime Vídeo. O podcast de mesmo nome, também está disponível nas plataformas de áudio.