Crítica | O Mecanismo: José Padilha põe o dedo na ferida sobre a corrupção no Brasil

José Padilha vem se demonstrando habilidoso em tratar em forma de filmes ou séries as mazelas do país. Tropa de Elite 2 soa quase como um presságio do que viria a acontecer no estado do Rio de Janeiro, atualmente em situação caótica em meio a corrupção e criminalidade. Desde Ônibus 174 (2002) que o diretor e roteirista põe o dedo na ferida sobre os problemas do Brasil.

Depois de abordar a ascensão e queda de Pablo Escobar na série Narcos, Padilha retorna à Netflix com o olhar crítico sobre a corrupção política brasileira. Em parceria com Elena Soares, O Mecanismo aborda o início e as primeiras consequências da Operação Lava Jato.

A série

Com oito episódios, a trama acompanha Marco Ruffo (Selton Mello), um delegado da Polícia Federal obcecado pelo caso do doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz), uma clara referência a Alberto Youssef na primeira fase da Operação. Ao lado de sua aprendiz, a jovem Verena Cardoni (Carol Abras), ambos estão mergulhados em uma das maiores investigações de desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil. O rumo das investigações muda completamente a vida de todos os envolvidos.

O indignado Ruffo é uma versão do Delegado Gerson Machado, que nunca aceitou o acordo fechado pela MPF em 2004, deixando políticos corruptos ilesos. Nos três primeiros episódios, Marco Ruffo consegue enxergar além, o que causa muito desconforto em seus colegas de Federal, não acreditando que a corrupção no país chegaria tão longe. Ruffo é a representação do homem comum que observa a entrada e saída de políticos sem nada mudar. A corrupção só aumenta.

O que achamos?

Os oito episódios dirigidos por Marcos Prado, Felipe Prado, Daniel Rezende e Padilha são bem montados e prendem a atenção do início ao fim. A narrativa busca tratar a corrupção como algo presente na política de esquerda e direita. Notem que Lula, Dilma, Temer e outros nomes importantes que estão ou estavam no poder mexeram seus pauzinhos para não serem atingidos pela bomba da Operação. Seus nomes foram alterados, mas as semelhanças e alfinetadas foram bem claras e diretas. O Mecanismo que leva nome a série nada mais é do que a criação de uma estrutura vigente há muito tempo. Um “câncer” definido pelo protagonista que está presente em vários partidos políticos. A série foge de uma guerra ideológica, deixando mais perguntas do que respostas. O grande mérito em seu episódio corriqueiro é deixar uma reflexão sobre o sistema político. Os parlamentares escolhidos são o reflexo do povo. Estão ali porque foram eleitos por voto popular. Ou seja, os eleitores também merecem a culpa pela situação que o país se encontra.

Reprodução/Netflix

O elenco

Selton Mello exerce uma atuação segura. Suas narrações sempre com tom de ironia e indignação lembram Capitão Nascimento de Tropa de Elite. Outra coincidência é que assim como Nascimento, ele está ciente de que não irá prender todos os corruptos do país, mas sabe que vai incomodar muito peixe graúdo. Contudo, apesar de estampar o cartaz da série, o protagonismo se encontra em Carol Abras no papel de Verena Cardoni, baseada na agente Erika Marena, responsável pela primeira prisão de um executivo da Petrobrás. Mesmo no ambiente predominado por homens, Verena bate de frente contra o machismo ao sempre ser desafiada nas investigações. A agente desde o início é uma personagem em ascensão. Antes, uma jovem fragilizada que depois se torna uma mulher madura, e figura importante para assumir as rédeas da investigação.

3

Bom

Depois de abordar a ascensão e queda de Pablo Escobar na série Narcos, Padilha retorna à Netflix com o olhar crítico sobre a corrupção política brasileira. Em parceria com Elena Soares, O Mecanismo aborda o início e as primeiras consequências da Operação Lava Jato.