Depois de emplacar a ótima The End of the F****ing World, o roteirista e diretor Jonathan Entwistle apresenta para os assinantes da Netflix mais uma adaptação inspirada em uma HQ de Charles Forsman. I Am Not Okay With This é uma série que se encaixa nos padrões do serviço de maratonar em um final de semana. Com muitas referências, a principal delas Carrie – A Estranha, os sete episódios da primeira temporada misturam humor, melancolia e uma pitada de terror.
A trama apresenta Sydney Novak (Sophia Lillis), uma adolescente problemática e desajustada que acaba de perder o pai, vítima de suicídio. Ela vive se alfinetando com a mãe, que passa horas no trabalho em uma forma de superar o luto, deixando para a garota as tarefas básicas da casa como olhar o irmão caçula. Syd se acha esquisita, é vista como aberração pelos colegas de escola, menos para a melhor amiga Dina (Sofia Bryant). Porém, a amizade entre as duas esfria quando Dina começa a namorar com Brad, um dos bullies da escola. Em conflito e com mudanças constantes de humor, Syd procura ajuda de uma profissional que recomenda um diário para ela despejar todos seus sentimentos e frustrações. A partir daí, acompanhamos a trajetória da garota sob a perspectiva de seu diário.
I Am Not Okay With This parecia só uma série sobre uma garota em plena puberdade e se descobrindo sexualmente, mas eis que a trama insere poderes sobrenaturais. Toda vez que Syd perde o controle emocional, ela é capaz de destruir e mover qualquer objeto. Sozinha desde que a melhor amiga começou a namorar, Syd acaba se aproximando de Stan (Wyatt Oleff), seu vizinho excêntrico e maconheiro que acaba preenchendo o vazio deixado por Dina. Talvez por ser visto como estranho pelos outros, a relação entre Stan e Syd se desenvolve de forma espontânea. Ambos percebem que tem muito em comum, até algumas estranhezas. Espinhas é um terror de todo adolescente, e interessante como a série usou esse temor para aproxima-los quando ambos mostram que possuem espinhas em lugares não tão confortáveis.
Sophia Lillis desempenha uma ótima performance como Sydney. Ela trabalha com eficiência as mudanças constantes de humor de sua personagem, que está em plena erupção. Syd não sabe se seus poderes são reais ou ilusões. A coisa piora quando ela percebe que isso pode estar ligado com o suicídio do pai, mas ela tem medo de remexer no passado. Contudo, o grande destaque da série vai para Wyatt Oleff como Stan. Conhecidos por It – A Coisa, Lillis e Oleff repetem a ótima sintonia, mas sozinho que Oleff rouba a cena. Stan é menosprezado por outros garotos da escola já que não segue os padrões protocolares masculinos. Ele não é atleta, ele não é másculo. Pelo contrário, Stan é sensível, gosta de ficar lendo, ouvindo música e demonstra ser um excelente ouvinte para Syd. Embora não se aprofunde, o roteiro da série deixa claro que seu comportamento é devido ao tratamento machista do pai. Nas entrelinhas, Stan sofre com a violência doméstica, mas encara seus problemas com muita excentricidade e uma maneira positiva de ver as coisas.
Embora seja uma série ambientada nos dias atuais, a fotografia e figurino deixam transparecer que parece ser dos anos 80. A maneira como Stan se veste parece um personagem tirado dos filmes de John Hughes, que se torna grande referência na narrativa. Há um episódio dedicado ao filme Clube dos Cinco e a série brinca com o enredo de alunos em detenção.
Com sete episódios de mais ou menos 29 minutos, a série poderia ser transformada em um filme de 2h. Mas a proposta de dividir foi viável, dado que cada episódio segue um capítulo do diário de Syd. A primeira temporada termina de forma surpreendente e com um gancho para uma segunda temporada ainda não confirmada. Um risco porque a Netflix vem passando a tesoura em algumas produções.
Fato é que I Am Not Okay With This é uma série ótima de assistir. Em tão pouco tempo conseguiu trabalhar diversos temas, alguns deles bem sérios. Tudo de uma forma didática e direta.
https://www.youtube.com/watch?v=Ndz09ow8a2A
Bom
I Am Not Okay With This é uma série que se encaixa nos padrões do serviço de maratonar em um final de semana. Com muitas referências, a principal delas Carrie – A Estranha, os sete episódios da primeira temporada misturam humor, melancolia e uma pitada de terror.
