Crítica | Demolidor

A melhor coisa que poderia acontecer com Demolidor foi seus direitos retornarem para a Marvel. Com a fraca adaptação ao cinema de 2003 estrelada por Ben Affleck, o personagem se tornou uma piada para aqueles que nunca leram O Homem sem Medo ou A Queda de Murdock, histórias clássicas do personagem. Com a desistência da 20th Century Fox (obrigado!) em realizar um reboot que seria dirigido por David Slade, o vigilante de Hell’s Kitchen retorna ao seu lar em mais um projeto ambicioso da Marvel, agora em parceria com a Netflix.

A série Demolidor é o primeiro de um pacote que envolve personagens urbanos e que não possuem o mesmo glamour de Homem de Ferro e cia. São eles: Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Com a chegada desses vigilantes, há um lado obscuro e duro sobre Nova York que a Marvel pretende abordar. A partir daí, o estúdio já entende que Matt Murdock não faz o tipo super herói convencional. Ele é o que Hell’s Kitchen precisa que seja. Outro acerto foi se inspirar em O Homem sem Medo, clássica série de Frank Miller dos anos 90, que ajudou a recriar o personagem transformando-o em um dos mais importantes da editora. Seguindo uma linha policial com corrupção, máfia e muita violência, o aspecto visceral foi seguido fielmente pela Netflix pelo competente Drew Goddard.

Todos os elementos que os fãs das HQs esperavam ver no filme de 2003 estão presentes nesta série. A caracterização dos personagens é algo incrível e chega a ser espantoso pela semelhança. É como se a história de Frank Miller ganhasse vida em tela. A escolha do elenco foi essencial. Charlie Cox, Elden Henson e Deborah Ann Woll estão soberbos como Matt Murdock, Foggy Nelson e Karen Page. A interação entre o trio funciona muito bem e um dos elementos responsáveis para que a série funcione. Cox faz um Matt Murdock preparado fisicamente e psicologicamente para proteger a cidade contra o crime, e vive um conflito pessoal sobre ter fé e fazer a diferença em um ambiente extremamente hostil. Outro destaque é a incrível atuação de Vincent D’Onofrio como Rei do Crime. A série faz um paralelo entre a infância difícil de Matt Murdock e do vilão, deixando sequelas que resultaram na ambição de ambos em deixar a cidade segura, cada um da sua forma.

Os 13 episódios desenvolvem de forma equilibrada os conflitos da série, algo que dificilmente teria êxito em um filme de 2 horas, por exemplo. Acompanhamos algumas conexões com os filmes da Marvel e as séries Agents of SHIELD e Agent Carter. As referências são discretas,  porém pontuais. A principal é como a invasão alienígena dos chitauri que destruiu Nova York foi vital para máfia se enriquecer e tornar Hells’s Kitchen na conhecida cidade violenta, fazendo com que dois jovens advogados se veem encarregados da missão de ajudar os mais necessitados.

A série pontua que mesmo com os heróis mais poderosos do planeta como o homem do martelo mágico (uma referência a Thor em um dos episódios) a cidade continua refém do crime e violência. Enquanto os Vingadores estão focados em proteger a Terra contra ameaças globais, os bairros e as esquinas estão desprotegidos com roubos, estupros, etc. A figura do Demolidor e dos heróis urbanos nasce a partir da ausência de alguém capaz de vigiar e proteger as pessoas mais comuns.

No aspecto técnico, o trabalho está impecável. As excelentes sequências de luta destacam a brutalidade, que vão desde ossos quebrados até sangue sendo jorrado. O padrão qualidade Marvel/Netflix é colocado à prova no segundo episódio quando um incrível plano-sequência de quase 4 minutos envolvendo uma cena de luta que deixa qualquer um boquiaberto.

Enquanto a segunda temporada não é confirmada (algo que deve acontecer em breve) Demolidor estará de volta em Os Defensores, uma espécie de Vingadores do subúrbio que reunirá o Homem sem Medo ao lado de Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Um futuro bastante promissor para esses personagens e mais um sinal que a Marvel sabe muito bem o que fazer com seus personagens em filmes e séries. Não há limites para o estúdio.

  • Avaliação
5