American Crime Story mostra o julgamento que se tornou um espetáculo da mídia

Em 1994, o mundo entrou em choque quando o ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson (Cuba Gooding Jr.) foi acusado de assassinar brutalmente a ex-esposa Nicole Brown Simpson e seu parceiro Ron Goldman em frente a sua própria casa. Apesar de ser um ídolo do esporte e, na época, um astro de cinema pela franquia de comédia Corra que a Polícia Vem Aí, O.J. tinha um longo histórico de violência doméstica, inclusive, com a própria Nicole. Mas, como acusar e julgar alguém querido pelo povo?  Essa é a plot inicial de American Crime Story: The People V. O.J. Simpson, nova antologia de Ryan Murphy, responsável pelo sucesso American Horror Story.

Neste novo projeto, o produtor estabelece histórias fechadas sobre casos reais que causaram grande comoção. Com roteiro de Scott Alexander Larry Karaszewski, a série tem como base o livro de Jeffrey Tobin, que vai muito além do julgamento de O.J., que se tornou um espetáculo da mídia.

O crime surgiu durante o período marcado pela violência racial, algo que continua nos dias de hoje. No território estadunidense, ser negro era sinônimo de culpado. Um grande exemplo foi quando na periferia de Los Angeles, quatro policiais espancaram o taxista negro Rodney King e foram absolvidos. Se fosse o contrário, será que o julgamento seria da mesma forma? Anos depois, veio o caso de O.J. e, a comparação foi inevitável, mesmo com o ex-jogador demonstrando todos os indícios de ser culpado, quando inclusive tentou frustradamente fugir com sua perseguição sendo transmitida ao vivo pelas principais emissoras americanas, algo que permaneceu durante todo o julgamento.

Parecia impossível para equipe de defesa de O.J., mas o trabalho do advogado de defesa Robert Shapiro (John Travolta) em parceria com Johnny Cochran (Courtney B. Vance) foi essencial ao usar os abusos de autoridade da polícia americana e, aproveitar o carisma de O.J., mostrando-o como mais uma vítima de perseguição racial. De maneira eficiente, os advogados souberam usar o sensacionalismo da imprensa (“formadora de opinião”) contra a promotoria, que preferiu seguir nos bastidores. Logo, o que seria um simples caso de duplo homicídio se tornou um caso de racismo. Naquela época, nunca um réu negro havia sido absolvido.

Contudo, a série não foi apenas sobre o racismo. A promotora Marcia Clark, interpretada brilhantemente por Sarah Paulson, precisou lidar contra um sistema machista e com os tabloides que brincavam com sua imagem pela falta de vaidade.

Ao se tratar de uma história verídica, seria estranho usar a palavra spoiler. Mas, é importante acompanhar os 10 episódios da temporada sabendo de seu desfecho, mesmo sendo difícil de acreditar 22 anos depois. O fato é que O.J. e sua equipe de defesa debocharam do falho sistema judiciário. Analisando friamente, eles usaram o que tinham em mãos e motivaram o júri a esquecer o crime e pensarem apenas na imagem de O.J. sendo destruída, fazendo-os apenas pensar no homem negro sendo acusado por brancos.

As evidências eram claras, tanto que Robert Shapiro (David Schwimmer), um dos advogados de defesa e amigo de O.J., questionou sua inocência. Depois do caso, a amizade não continuou a mesma e eles acabaram se afastando.

American Crime Story: The People V. O.J. Simpson merece muitas premiações pelo trabalho formidável e a coragem em criticar de maneira dura o sistema judiciário americano. Ao final da série, fica a reflexão de que todos foram culpados. Não apenas pelo crime, mas pela ganância e poder falarem mais alto do que a justiça.