A Mulher da Casa Abandonada, série documental que chegou hoje ao catálogo do Prime Video, é uma adaptação do podcast homônimo que se tornou uma sensação nacional em 2022, alcançando tanta repercussão que levou dezenas de pessoas à acamparem na frente da casa. Nos áudios de Chico Felitti, o jornalista criou todo um mistério envolvendo Margarida Bonetti, uma mulher peculiar que mora em uma mansão em ruínas em Higienópolis, um bairro nobre de São Paulo. Durante os episódios descobrimos que não se trata de uma idosa em situação de abandono vivendo em uma casa caindo aos pedaços, mas sim de uma foragida que, juntamente com seu ex-marido Renê Bonetti, foi acusada de agredir e manter ilegalmente uma empregada doméstica nos EUA.
A mulher que foi resgatada das mãos do casal Bonetti nunca tem seu nome revelado no podcast e faz uma pequena participação por telefone, apenas para revelar que está bem. Agora, na nova série documental dirigida por Kátia Lund (Cidade de Deus), Hilda Rosa dos Santos vira a personagem principal, se tornando a protagonista que finalmente pode contar a sua história, relatando os horrores de ter vivido por mais de duas décadas em situação análoga à escravidão. As entrevistas de Hilda são mescladas com trechos de Margarida contestando as acusações, em uma conversa telefônica que está no podcast, de alguma forma mostrando os dois lados da história (afinal, Margarida não quis participar dessa série).
Usando imagens de arquivo, trechos do podcast, entrevistas inéditas e dramatizações, A Mulher da Casa Abandonada consegue trazer inúmeras informações que completam o trabalho de Chico Felitti. É notável que a produção fez muito mais pesquisas e entrevistas, buscando mostrar novas perspectivas. As entrevistas, além de incluir os depoimentos de Hilda, também tem a participação de vizinhos, jornalistas, pessoas que ajudaram Hilda e do agente do FBI que cuidou do caso. É uma série que vai muito além de recontar a mesma história apenas mudando o formato e também não perde muito tempo com Margarida, ela não é mais um mistério como era no podcast, aqui já começamos sabendo que ela é uma criminosa.
A equipe de roteiristas formada por Tainá Muhringer, Fernanda Polacow, Henrique dos Santos, Mari Paiva e Karolina Santos sabia que era preciso mostrar a violência nos três episódios para que o público nunca se esqueça de que está vendo um documentário sobre um crime real, mas ao mesmo tempo, tudo foi pensado para tornar essa série em algo humano, focando em Hilda e nas mudanças que esse caso gerou pro mundo. O sensacionalismo é mantido o mais longe possível dessa história e ela ainda é capaz de gerar revolta, indignação, mas também empatia.
Infelizmente, casos de pessoas mantidas em trabalho análogo à escravidão continua sendo muito atual, o que torna A Mulher da Casa Abandonada uma produção necessária.
A Mulher da Casa Abandonada já está disponível no Prime Vídeo. O podcast de mesmo nome, também está disponível nas plataformas de áudio.
Ótimo
A Mulher da Casa Abandonada complementa o conteúdo do podcast homônimo de Chico Felitti, ao mesmo tempo em que humaniza essa história dolorida ao colocar a vítima como protagonista, podendo contar sua história pela primeira vez.