Visão, de Tom King Visão, de Tom King

Resenha: Visão, de Tom King e Gabriel Hernandes Walta

Tom King é hoje um dos mais celebrados autores de quadrinhos, e o trabalho pelo qual ficou conhecido – pelo menos para mim – foi o Visão, da Nova Marvel, escrito por Tom King e desenhado por Gabriel Hernandes Walta.

A premissa é interessante por si só: Visão deseja ser um ser humano normal, então cria uma família de sintozoides, como ele mesmo, e decide viver em uma casa no subúrbio. Ele sai para trabalhar (como Vingador), seus filhos vão para a escola e a esposa cuida da casa, tal qual uma família de um seriado dos anos 1950.

Óbvio que as coisas não são tão fáceis. Os outros Vingadores suspeitam de seu comportamento, os vizinhos e os colegas de aula tem medo do que consideram “máquinas de matar” e a própria família sente uma grande dificuldade em se adequar a essa situação atípica.

O roteiro e arte de Visão são de extrema qualidade

Acompanhamos a história através de um narrador onisciente, que comenta os acontecimentos, e dá pistas sobre acontecimentos futuros. Um exemplo é, ainda na primeira edição “mais tarde, próximo ao fim de nossa história, um dos Visões vai incendiar a casa de Nora e George”. São personagens que acabamos de conhecer, por se apresentarem aos Visões. Mas já sabemos que vão morrer. E ainda é o início da primeira edição.

Os Visões conversam muito entre si. Nesses diálogos eles falam sobre o que é ser normal, quais comportamentos são considerados apropriados em nossa sociedade e como a maioria deles são completamente irracionais para eles. O desejo constante do Visão de tentar se adaptar a uma vida normal acaba mais atrapalhando do que ajudando, com sua mulher e filhos tentando não contrariar seu pai.

O preconceito das pessoas ao redor, sempre com medo do que é diferente, também é destacado. Os adultos de maneira mais velada, apenas entre eles, enquanto as crianças e adolescentes de maneira direta, ofendendo os gêmeos e pichando a casa dos Visões.

O personagem que menos aparece na história acaba sendo o próprio Visão. Seja por já o conhecermos, seja por ele passar mais tempo com os Vingadores do que em casa, o “seu” Visão é um personagem distante, que passa mais tempo trabalhando do que com sua família. Ou pode ser mais uma crítica de King para a “família tradicional americana” e seus pais mais preocupados em trabalhar e ganhar dinheiro do que no bem estar dos filhos.

A arte de Walta tem um traço bonito e cheio de expressão, mas bastante comum no quesito narrativa. Talvez por ser uma série com menos ação e mais diálogos e situações corriqueiras, ele fica por pouco espaço para brincar.

Um clássico moderno da Marvel

Visão foi uma obra bastante elogiada e premiada, que demorou bastante para chegar ao Brasil. O primeiro volume contém seis edições da revista norte-americana. Será lançado mais um, que finalizará a história.

Para quem gosta de quadrinhos inteligentes e cheios de críticas, para os fãs do Tom King ou só para quem gosta de boas histórias, Visão é obrigatório.