Aerosmith começa os shows brasileiros com o pé direito

Muitas vezes olhamos para o rock como algo atemporal, ou vemos aqueles ídolos como seres quase mitológicos que nunca passarão por problemas comuns da vida, que não pagam contas, só curtem a vida e não envelhecem. Por mais que a gente queira, é impossível enganar o tempo e uma prova disso nos foi mostrada na última segunda-feira (18), com a passagem do Aerosmith por Belo Horizonte.

Em um show realizado na Esplanada do Mineirão, a banda capitaneada por Steven Tyler mostrou os dois lados dessa moeda chamada vida em uma apresentação energética e repleta de hits. Pouco depois das 22h, o pontapé inicial da etapa brasileira da Aero-Vederci Baby Tour foi dado com muita expectativa do público, estimado em 20 mil pessoas pela organização. Com 47 anos de carreira e uma lista enorme de sucessos, é impossível não se empolgar com o que a banda entrega no palco. Desde o aquecimento ao som de Muddy Waters o jogo já estava ganho pelo quinteto de Boston e isso já se provou logo na abertura, com “Let The Music Do The Talk“. Daquele ponto em diante tivemos espaço para canções de diversas épocas, covers especiais e a constatação de que deuses do rock envelhecem, erram, encaram problemas técnicos e, ainda assim, são capazes de impressionar e se divertir.
Foto via: Thais Pimentel/G1

Ao longo das quase duas horas de apresentação, o Aerosmith passeou pela sua discografia e, curiosamente, deixou um pouco de lado o que foi lançado após o clássico Nine Lives, de 1997. As músicas mais recentes do setlist foram a adorada “I Don’t Want to Miss a Thing” e “Stop Messin’ Around”, cover do Fleetwood Mac que a banda gravou no álbum Honkin’ on Bobo, de 2004. O resto foi, literalmente, história. Lá estavam “Love In An Elevator“, “Cryin’“, “Livin’ On The Edge”, “Crazy”, “Eat The Rich”, “Sweet Emotion” e “Dude (Looks Like a Lady)”, além dos covers de “Oh Well” – mais uma do Fleetwood Mac – e “Come Together”, dos Beatles.

Enquanto as músicas eram tocadas, a banda interagia com o público que devolvia em forma de carinho, devoção e, principalmente, registros com seus celulares. Esbanjando carisma, Tyler chegou a pegar um dos inúmeros celulares para gravar algo do palco e ainda se arriscou no português mandando um “olá, mineiros” na parte inicial do show e um “bom demais da conta” em outro momento. Impressiona ver que após diversas declarações, shows, turnês, discos, atritos e trabalhos fora da banda, os cinco ainda se divertem no palco. Cada um de nós sabe que o tempo não foi tão generoso assim com Joe Perry, Tom Hamilton, Joey Kramer ou Brad Whitford e, ainda que Steven Tyler preserve sua vitalidade e corra pelo palco aos 69 anos, os efeitos do tempo aparecem ao longo da apresentação.

Foto via: Nils Meilvang

Encarar essa humanidade não é ruim. Ter isso em mente torna o show ainda mais incrível de se ver e essa talvez seja a grande verdade do Aerosmith hoje. Enquanto eles se divertirem no palco, a gente vai admirar tudo o que acontece lá em cima. Ver Joe Perry cantando “Stop Messin’ Around” é algo que ficará na lista de momentos especiais da vida de muita gente e não tem preço que pague ouvir “Dream On” ou “Walk This Way” ao vivo pela primeira vez. Mesmo que o setlist tenha sido burocrático e deixado clássicos como “Pink”, “Amazing”, “Hole In My Soul” e “Janie’s Got A Gun” de fora, ver tudo aquilo ao vivo é algo que todo ser humano que gosta de rock deveria fazer pelo menos uma vez.

Na próxima quinta feira (21) o Aerosmith se apresentará na quarta noite do Rock in Rio, fechando a noite no Palco Mundo.

Por John Pereira (editor do portal Audiograma)