Vivian Contra o Apocalipse – Vivian Apple tem 17 anos e mal pode esperar pelo fatídico “Arrebatamento” — ou melhor, mal pode esperar para que ele não aconteça. Seus devotos pais foram escravizados pela Igreja faz tempo demais, e ela está ansiosa para que voltem ao normal. O problema é que, quando Vivian chega em casa no dia seguinte ao suposto Arrebatamento, seus pais sumiram e tudo o que restou foram dois buracos no teto. Vivian está determinada a seguir vivendo normalmente, mas quando começa a suspeitar que seus pais ainda podem estar vivos, ela percebe que precisa descobrir a verdade. Junto com Harp, sua melhor amiga, Peter, um garoto misterioso que tem os olhos mais azuis do mundo e informações sobre o verdadeiro paradeiros dos seguidores da Igreja (ou é o que ele diz), e Edie, uma Crente que foi “deixada para trás”, os quatro embarcam em uma road trip pelos Estados Unidos. Mas, depois de atravessar quilômetros de eventos climáticos bizarros, gangues de Crentes vingativos e um estranho grupo de adolescentes auto-intitulados os “Novos Órfãos”, Viv logo vai perceber que o Arrebatamento foi só o começo.
O melhor de um livro, para mim, sempre são os personagens. Às vezes o enredo pode se perder e o plot twist desapontar, mas nada é pior do que um personagem que não te diz nada. Se o personagem cumpre sua função, com certeza você terá um bom livro nas mãos, apesar de pequenos detalhes que possam vir a desagradar. É melhor recriar um desfecho (amém as fanfics), do que um personagem.
Em Vivian contra o Apocalipse é exatamente isso que temos: uma grande personagem acompanhada dentro de um enredo com ressalvas.
A iniciante Katie Coyle nos dá uma heroína real – geralmente recebemos um personagem e observamos sua desconstrução, mas na obra de Coyle podemos acompanhar o passo a passo da construção de Vivian Apple de uma menina quieta e que preferia deixar os outros lhe tomarem as rédeas a uma desbravadora do fim do mundo e seus mistérios.
“Faça com que eu seja menos dócil, menos medrosa.
Universo, me transforme na heroína da minha própria história.” p. 21
Na primeira impressão que tive do livro, achei que não seria algo bom, algo com o qual eu me deleitasse e sentisse vontade de devorar. Mas enquanto ia, aos poucos, desbravando as páginas, não pude deixar de associar cada aspecto bem posto de Vivian com a crescente necessidade de se ter figuras femininas fortes e independentes. Ela, sem dúvidas, é uma dessas e o que mais agrada é o fato de ela começar real: uma menina que ainda não sabe como pode se impor no mundo e então, ao longo do livro, podemos acompanhar sua descoberta, a revelação de que ela pode ser quem quiser e Vivian Apple quer ser implacável.
Essa transformação é agradável, contínua e sem pulos muito grandes – ponto positivo na narrativa de Coyle, que usa sempre uma linguagem simples e não mete os pés pelas mãos, mantendo os acontecimentos lineares. É como se você conseguisse perceber que a autora quis, o tempo todo, uma heroína e esperou cada momento certo para Vivian se descobrir e notar o que se tornava, mesmo com seus medos e erros.
“Não se parece em nada com Vivian Apple de antes.
Mas esta é a Vivian Apple no fim do mundo”. p 77
Além de Vivian, temos outros personagens que não fogem a sua proposta e completam a história de forma eficaz: Harp, a melhor amiga rebelde; Peter, o menino misterioso e o acréscimo de Edie, uma grávida crente que foi deixada para trás e que de forma sutil foi feita para arrancar risos leves.
Quanto ao enredo, o ponto fraco acaba sendo o final. É meio corrido, com muitas informações jogadas ao leitor e sem pausas. Há revelação atrás de revelação e falta de explicação. Mas ao todo é tranquilo, cada uma das três partes em que é dividido são interligadas com sentido e não escapa do que se é esperado de um Young Adult em meio ao caos apocalíptico – não é radical, mas também não deixa a desejar quando se precisa de um abalo.
O livro tem continuação, ainda sem data prevista de chegar em terras brasileiras, o que pode explicar, por cima, a falta de informações como ganchos para a continuação da aventura de Vivian e seus amigos.
“Eles tinham que amar você. Porque você é a Vivian Apple, porra.” p. 202
Vivian contra o Apocalipse é bom em sua mensagem de que devemos ser nossos próprios heróis e merecemos tudo o que sonhamos apenas por sermos nós e também trás uma grande reflexão sobre como andamos levando o modo de viver.
“Não importa de onde viemos, para onde vamos ou quando isso vai acontecer. A única coisa que importa é o que a gente precisa fazer enquanto estamos aqui, e se a gente faz isso bem”. p. 203