Review: O Sol é Para Todos | Um livro para aprender a viver

Talvez um livro lançado em 1960 e que é narrado pelos anos 30 não seja o mais desejado da lista da nossa geração – e digo isso por experiência própria de quem já teve certo receio com coisas “antigas” -, mas às vezes um pré-conceito é tudo que está nos afastando de uma obra que pode nos dizer um pouco mais sobre a vida.

O primeiro e, até algum tempo atrás, único romance de Harper Lee, O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird), foi um Best-seller imediato quando chegou ao mercado editorial em mil novecentos e sessenta, sendo merecedor do prêmio máximo de literatura, o Pulitzer. A trama segue as aventuras de Scout entre seus seis e dez anos, ao lado do seu irmão Jem e seu amigo Dill. Jem e Scout são filhos do velho Atticus Finch, advogado respeitado do pequeno condado de Maycomb, e possuem grande curiosidade pela vida das pessoas, especialmente pela lenda interiorana que se tornou Boo Radley.

“Eu queria que você visse o que é realmente coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é quando você sabe que está derrotado antes mesmo de começar, mas começa assim mesmo, e vai até o fim, apesar de tudo. Raramente a gente vence, mas isso pode até acontecer.”

A rotina das crianças muda quando Atticus é designado a defender um negro acusado de estuprar uma mulher branca. Dado em uma sociedade por deveras racista e preconceituosa, apesar da libertação dos escravos, Scout conta como algumas pessoas podem mudar o mundo com pequeno gestos – e outras podem fazer o errado mesmo estando cientes disso.

O prêmio Pulitzer de Harper Lee não vêm por conta de uma linguagem rebuscada que pode se esperar pela época em que foi escrito, mas sim pela maneira como uma narrativa tão simples e clara pelos olhos inocentes de uma criança pode nos mostrar verdades cruéis da vida.

“Só existe um tipo de gente: gente.”

Tratando de assuntos que ainda estão presentes em nosso cotidiano, “O sol é para todos” é uma abertura para nossos olhos que, às vezes, ficam cegos para os pequenos detalhes do que é justiça, igualdade, honra, confiança, julgamentos e, acima de tudo, crescer fiel à si mesmo.

“Antes de poder viver com os outros, eu tenho de viver comigo mesmo.

A consciência de um indivíduo não deve subordinar-se à lei da maioria.”

O livro tem uma adaptação cinematográfica de 1962, que ganhou Oscar de melhor adaptação. O segundo título da autora, Go Set a Watchman, chegou as livrarias também como best-seller, com uma tiragem de 2 milhões de cópias. Este também trata da vida de Scout (curiosamente a autora teria o escrito primeiro, mas o editor achou melhor ter uma história prévia, para os leitores conhecerem melhor os personagens).