Ler é Bom, Vai! PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2 Ler é Bom, Vai! PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2

Ler é Bom, Vai! PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2

O horror que ecoa no silêncio
Divulgação/Pipoca & Nanquim

Há algo de profundamente perturbador em PTSD Radio, e não falo apenas das figuras grotescas ou dos corpos mutilados que nos encaram das páginas com olhos vítreos e sorrisos impossíveis. Falo daquilo que não se vê: do silêncio entre as imagens, dos ecos invisíveis que atravessam as frestas de cada capítulo, como estática de um rádio antigo tentando captar algo além do que o mundo terreno permite. Neste segundo volume, recém-lançado pela Pipoca & Nanquim no Brasil, a sensação de inquietude se intensifica de forma quase insuportável, como se o próprio mangá estivesse lentamente nos arrastando para dentro de sua frequência amaldiçoada — e nós, leitores, vamos com prazer (e medo).

Ler é Bom, Vai! PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2

Encerrado precocemente por causa de experiências reais e traumáticas vividas pelo próprio autor — um raro caso em que o horror da ficção rompe as barreiras do papel e atinge o criador — PTSD Radio se torna também um relato indireto do colapso mental de Nakayama diante das ideias que evocava. Este segundo e penúltimo volume é, portanto, mais do que uma continuidade narrativa: é um mergulho ainda mais profundo no abismo criativo que engoliu seu autor. E o mais fascinante: Nakayama continua utilizando o mínimo de texto possível. Os diálogos escassos e a fragmentação proposital da trama são ferramentas que, nas mãos erradas, soariam pretensiosas. Mas aqui são meticulosamente usadas para criar uma sensação constante de dissonância, como se estivéssemos ouvindo — ou tentando ouvir — algo que está sempre fora do alcance, sempre fora de sintonia.

As tramas paralelas voltam a se entrelaçar em PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2, embora jamais de forma explícita. O leitor atento nota personagens de histórias anteriores cruzando caminhos com novos rostos apavorados; percebe a repetição de símbolos, de eventos e até de sentimentos. O horror aqui é cumulativo e gradual, mais atmosférico que narrativo. Cada história parece ser um estilhaço de um artefato maior, como peças de um quebra-cabeça construído por mãos insanas — ou sobrenaturais. É como sintonizar diferentes rádios, cada um pegando pedaços de uma transmissão cósmica e maldita, tentando nos alertar sobre algo ancestral, inominável, que habita entre as paredes, entre os fios elétricos, entre os fios de cabelo.

Sim, cabelo. Essa matéria-prima do grotesco, que já teve sua tradição no terror japonês desde Sadako em O Chamado, aqui é elevada a símbolo de possessão, de dominação, de manifestação de uma entidade que jamais vemos completamente. O cabelo que cresce pelas frestas da casa. Que sai das bocas. Que enlaça e prende. É essa entidade — sem nome, sem forma definida — que parece dominar tudo, inclusive o autor. A lenda por trás dela é contada em murmúrios, através de escrituras indecifráveis, tatuadas nas paredes por mãos invisíveis.

Visualmente, este segundo volume é uma aula de terror gráfico. Nakayama domina a arte de congelar o tempo entre quadros. Suas páginas, embora fixas, parecem se mover em nossa mente. Você ouve passos. Escuta rangidos. Sente o toque frio de algo que não deveria estar ali. Não é exagero dizer que cada página se comporta como um quadro de filme de horror experimental: sem jumpscares, sem apelos fáceis, apenas a tensão latente do que pode aparecer — e às vezes, do que não aparece. Em muitos casos, o que mais apavora são os momentos em que nada acontece, e ainda assim não conseguimos respirar.

É impossível ler este volume sem sentir o peso do que ele representa na vida de Nakayama. O mangá passou a assombrar seu próprio criador — uma ironia cruel que só torna a obra ainda mais fascinante. Como não enxergar aqui a força metaficcional do terror? Quando o autor é engolido por sua criação, o leitor sente que algo muito maior está em jogo. PTSD Radio se torna não só um mangá sobre horror, mas um ritual de invocação, um artefato que carrega em suas páginas fragmentos de uma verdade terrível demais para ser dita em voz alta.

E se o primeiro volume nos introduziu à frequência, e este segundo começa a alinhar os sinais, é inevitável temer (e ansiar) pelo que está por vir no terceiro. PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2 é um dos mangás mais assustadores já lançados no Brasil. É uma experiência sensorial e psicológica que vai além da leitura. É o tipo de obra que deixa seus vestígios dentro de você. Como estática nos ouvidos. Como um sussurro que você não consegue identificar. Como um sintonizador quebrado que insiste em captar o que você nunca deveria ter ouvido.

Que venha o volume final — se tivermos coragem suficiente para abrir suas páginas.


Faça suas compras na AMAZON acessando através do nosso link! Assim, você contribui para manter nosso site no ar, sem nenhum custo adicional para você. O valor dos produtos permanece o mesmo, mas sua ajuda faz toda a diferença!

PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 1 – https://amzn.to/43jarFW

PTSD Radio: Frequências do Terror Vol. 2 – https://amzn.to/4mhXKBC