A jornada fascinante de Leviathan continua a instigar e surpreender seus leitores no Volume 2, mais uma vez conduzida pelo talento narrativo de Shiro Kuroi, publicada pela JBC. Este capítulo intermediário não apenas dá continuidade à atmosfera tensa e claustrofóbica estabelecida no primeiro volume, mas aprofunda as camadas de sua narrativa, levando os leitores a um novo nível de imersão emocional e intelectual. Aqui, Kuroi transforma sua obra em uma espécie de alegoria social envolvente, misturada a uma atmosfera de terror psicológico e violência brutal, digna de um verdadeiro Battle Royale espacial.
Para entender a grandiosidade deste segundo volume, é necessário lembrar o alicerce estabelecido no primeiro. A premissa de Leviathan é, ao mesmo tempo, simples e perturbadora: um grupo de saqueadores espaciais encontra uma nave abandonada entre a Terra e Proxima Centauri. O que poderia ser apenas uma missão rotineira de pilhagem logo se transforma em um mergulho no abismo do horror humano. Dentro da nave, fragmentos de um diário revelam o destino de seus antigos ocupantes, predominantemente crianças. Esses registros, carregados de desespero e resignação, oferecem uma janela para um pesadelo de sobrevivência e loucura, criando uma narrativa envolvente e opressora que prende o leitor até a última página.
No Volume 2, Kuroi expande o universo narrativo de Leviathan, explorando as dinâmicas internas entre os sobreviventes da nave. Aqui, o autor utiliza a estrutura social fragmentada da nave como um espelho sombrio das desigualdades que enfrentamos no mundo real. A separação entre os habitantes dos andares superiores e inferiores torna-se um tema central, ilustrando as nuances de luta de classes e os perigos do poder concentrado. Jovens privilegiados, que vivem no topo da hierarquia, manipulam os recursos e dominam com arrogância, enquanto aqueles dos níveis inferiores enfrentam condições desumanas e lutam desesperadamente por justiça. A tensão crescente culmina em confrontos violentos e angustiantes, refletindo os horrores que a desigualdade social pode gerar.
Kuroi também não hesita em abordar temas difíceis, como bullying, violência sexual e preconceito. Esses elementos, embora perturbadores, são tratados com a seriedade necessária, oferecendo profundidade à narrativa e forçando o leitor a confrontar a realidade sombria dos dilemas humanos. As páginas são preenchidas com uma intensidade emocional que raramente encontramos em histórias de ficção científica ou terror, tornando o impacto da obra ainda mais duradouro. A luta pela sobrevivência aqui não é apenas física, mas moral e psicológica, destacando as escolhas devastadoras que os personagens precisam fazer.
Com apenas três volumes planejados, Leviathan demonstra um ritmo narrativo impecável, construindo cuidadosamente a tensão enquanto prepara o terreno para um desfecho que promete ser devastador. O segundo volume não é apenas um elo de ligação entre o início e o fim, mas uma peça fundamental que eleva a narrativa a novas alturas. Shiro Kuroi entrega um trabalho que desafia o leitor a refletir sobre questões sociais, enquanto o mantém na beira do assento com uma narrativa cheia de reviravoltas, terror e intensidade.
Ao virar a última página deste volume, a sensação de antecipação é quase palpável. Que destino aguarda os sobreviventes de Leviathan? Que segredos sombrios ainda estão escondidos nas entranhas dessa nave amaldiçoada? Uma coisa é certa: os leitores estão diante de uma obra que não apenas entretém, mas também provoca e desafia, reafirmando a maestria de Shiro Kuroi como um contador de histórias brilhante.
