Ler é Bom, Vai! Crepax: O Médico e o Monstro e Outras Histórias Ler é Bom, Vai! Crepax: O Médico e o Monstro e Outras Histórias

Ler é Bom, Vai! Crepax: O Médico e o Monstro e Outras Histórias

Uma imersão intensa no universo erótico, perverso e literário de Guido Crepax
Divulgação/Pipoca & Nanquim

Há artistas que se tornam eternos por desafiarem os limites do seu tempo — e Guido Crepax é um desses nomes. A nova edição da Coleção Crepax, publicada com esmero pela Pipoca & Nanquim, é mais do que uma simples antologia de quadrinhos; é um mergulho profundo, labiríntico e transgressor na psique de um dos maiores gênios que o fumetto já produziu. Em O Médico e o Monstro e Outras Histórias, o leitor encontra não apenas a alma do autor italiano, mas o reflexo distorcido e voluptuoso da própria literatura ocidental, recriada sob a ótica provocadora de um artista que nunca teve medo de flertar com o indecente, o obscuro e o belo.

Ler é Bom, Vai! Crepax: O Médico e o Monstro e Outras Histórias
Divulgação/Pipoca & Nanquim

Com mais de 400 páginas, esta coletânea é um testemunho da vastidão criativa de Crepax, que reúne dez histórias — entre elas adaptações viscerais de clássicos de Edgar Allan Poe, Robert Louis Stevenson e Henry James — e a integral da lendária tetralogia de Baba Yaga, um dos momentos mais cultuados da série estrelada por Valentina, a icônica fotógrafa surreal e sensual que virou símbolo da revolução sexual nas HQs. O traço de Crepax, elegante e fragmentado como um sonho perturbador, alterna entre o onírico e o grotesco, desafiando convenções narrativas e visuais. Cada página é um convite à contemplação — e, por vezes, ao desconforto — em uma leitura que exige do leitor maturidade e entrega.

A tetralogia de Baba Yaga, aqui apresentada de forma completa pela primeira vez em português, é um verdadeiro espetáculo de erotismo e psicodelia. Valentina, musa e alter ego do autor, atravessa um pesadelo com ecos mitológicos, em que o arquétipo da bruxa se funde ao delírio moderno. A adaptação cinematográfica de 1973 (Baba Yaga: A Bruxa Maldita) tentou capturar essa atmosfera com resultados irregulares, mas o papel da HQ como obra original permanece intacto: é pura alquimia entre fetichismo, simbologia e crítica cultural. É possível sentir, nas entrelinhas, a pulsação de uma Europa em ebulição nos anos 1970, e Crepax se apropria disso para tensionar as fronteiras entre arte e pornografia, mito e política.

As adaptações literárias presentes nesta edição são, por si só, uma aula de como traduzir a linguagem da prosa para o quadrinho com inteligência e identidade autoral. Em sua versão de O Médico e o Monstro, Crepax descarta a contenção vitoriana e nos entrega uma leitura mais brutal e libertina da dualidade humana. É como se ele arrancasse os parágrafos que Stevenson teria censurado e os ilustrasse com precisão cirúrgica — e, claro, um toque de perversidade gráfica.

Essa edição da Coleção Crepax é, portanto, um artefato essencial para qualquer leitor que leve a nona arte a sério. Ao mesmo tempo em que celebra a intersecção entre o erótico, o gótico e o intelectual, ela também reafirma Guido Crepax como um autor que nunca quis agradar — e sim provocar. Ler suas obras é aceitar a descida ao subsolo da mente humana, onde os instintos mais sombrios e os desejos mais secretos ganham forma, textura e narrativa.

Coleção Crepax: O Médico e o Monstro e Outras Histórias é chocante, é incômodo, é brutal. Mas também é sofisticado, inteligente e profundamente literário. É o tipo de obra que nos obriga a revisitar os clássicos com novos olhos — e que transforma Valentina, mais uma vez, na musa de um tempo que ainda não compreendemos completamente.


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