Ransom Riggs ganhou uma legião de fãs com suas capas mórbidas e sem cor. Diferente dos livros de literatura infanto juvenil que estampam vitrines, recheados de cores e efeitos 3D, as obras de Riggs oferecem-nos um visual antigo e vintage, além de levemente aterrorizante – demorei a ler, inclusive, pois achei que fosse um livro de terror.
Publicado em 2012, o primeiro volume da saga recebeu um nome provavelmente conhecido por você, já que é muito similar a como foi denominada a adaptação cinematográfica da história – fraca, por sinal. O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares nos introduz ao mundo, como título já diz, peculiar. Narrado e protagonizado por Jacob Portman, um adolescente “comum”, a trama já começa com um assassinato misterioso e inexplicável que irá levar o menino a conhecer uma realidade completamente diferente da sua. Seu avô, Abe Portman, sempre lhe contava histórias de ficção sobre um orfanato e crianças com poderes, isolados do mundo por uma espécie de fenda temporal. Além disso, fotografias igualmente esotéricas serviam para “comprovar” a veracidade das informações do avô, pelo menos para o neto apaixonado por exploração. Para a felicidade geral da nação, Riggs não nos deixou no escuro e fez questão de colocar boa parte dessas fotos em seu livro, ilustrando as descrições irracionais de seus personagens. A melhor parte? Segundo o autor as fotos são reais, tendo sido compradas em brechós ou emprestadas de amigos colecionadores.
“Mas o que eu realmente achei assustador não foram as bonecas zumbis ou os cortes de cabelo estranhos das crianças ou como elas pareciam não sorrir nunca: quanto mais examinava as fotos, mais familiares me pareciam.”
Após descobrir da pior maneira que o avô não estava mentindo, seguindo a recomendação de seu psiquiatra, ele resolve seguir seu último desejo e vai atrás do tal Orfanato da Srta. Peregrine. Em uma pequena ilha no País de Gales, Jacob encontra mais do que apenas respostas, ele encontra sua história. Em uma casa antiga e bombardeada pelos alemães durante a guerra, o menino reencontra as crianças das fotografias de Abe…pessoalmente. Somos, então, introduzidos aos personagens que irão nos acompanhar até as últimas páginas do terceiro livro: Emma Bloom, uma menina que consegue produzir fogo com as mãos e que tem uma história profunda com o avô de Jacob; Bronwyn Bruntley, uma jovem com uma força fora do normal e um coração igualmente grande; Millard Nullings, um garoto invisível e muito inteligente, exímio conhecedor da história dos peculiares; Olive Elephanta, uma menininha mais leve do que o ar e, por isso, precisa estar sempre presa ao chão por uma corda ou algo extremamente pesado; Horace Somnusson, responsável pelas visões e sonhos premonitórios que veremos no decorrer dos livros; Enoch O’Connor, um jovem emburrado que consegue atribuir vida aos mortos e objetos inanimados; Hugh Apiston, cujo dom é controlar e proteger muitas abelhas em seu estômago, o que pode ser mais útil do que parece; Claire Densmore, a mais nova das crianças peculiares, com cachinhos dourados que escondem uma boca enorme em sua nuca; Fiona Frauenfeld, uma menina que consegue controlar e fazer plantas crescerem em qualquer lugar. A diretora do orfanato é Alma LeFay Peregrine, uma Ymbryne capaz de mudar de forma e manipular o tempo.
A sequência recebeu o nome de Cidade dos Etéreos e se você leu o primeiro, provavelmente deve saber quem são. No livro anterior, Jacob descobriu não apenas que os peculiares existe, mas que seu avô também era e ele possui o mesmo poder: sentir e enxergar os etéreos. Outros personagens que você já deve identificar também são os acólitos – que ficaram ocultos no livro, obrigada Tim Burton! -, seres que já foram etéreos um dia e que querem recuperar sua humanidade por meio dos olhos de peculiares, literalmente. Esses seres sequestraram a Srta. Peregrine no final da primeira história, a impedindo de retornar a forma humana por estar muito machucada. Consequentemente, a ymbryne está incapaz de proteger a fenda temporal e as crianças são obrigadas a deixá-la, embarcando em uma aventura perigosa pelo País de Gales para salvar sua amada diretora. Lá são recebidos por uma horda de acólitos famintos por sangue, mas cujas técnicas de apreensão não são páreo para todos os poderes juntos.
As crianças carregam um livro chamado Contos Peculiares, com histórias sobre outros peculiares espalhados pelo mundo, e que podem ser mais reais do que parecem. Por meio de um conto conhecemos os personagens do novo livro, que juntamente com os jovens de antes, irão lutar pela liberdade do mundo peculiar: Addison, o cão que fala mais do que deveria; Deirdre, uma jumirafa com cabeça e pescoço de girafa, mas corpo de jumento; Srta. Wren, uma outra ymbryne capturada pelos acólitos.
“Eu gostava dessa ideia: de que a peculiaridade não era uma deficiência, mas algo a mais. A explicação não era que não tivéssemos algo que os normais tinham, eles é que não possuíam peculiaridade. Nós éramos mais, e não menos.”
“Talvez muitas pessoas passem pela vida sem jamais saber que são peculiares.”