Blade: A Lâmina Imortal Vol. 8 é o mais arrastado da série?
Divulgação/JBC
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Blade: A Lâmina Imortal Vol. 8 é o mais arrastado da série?

Depois de estabelecer um ritmo feroz e quase ininterrupto ao longo de seus sete primeiros volumes, Blade: A Lâmina Imortal – Volume 8 surge como uma ruptura deliberada na cadência narrativa criada por Hiroaki Samura. Essa mudança, embora intencional dentro da estrutura maior da obra, causa um impacto imediato no leitor, sobretudo naquele que vinha embalado por confrontos intensos, duelos coreografados com precisão cirúrgica e avanços constantes na jornada de vingança de Rin e redenção de Manji. Aqui, Samura pisa no freio de forma abrupta, entregando um volume claustrofóbico, repetitivo e, em determinados momentos, deliberadamente desconfortável — o que não significa, necessariamente, que seja fraco, mas certamente é o mais irregular até então.

Blade: A Lâmina Imortal Vol. 8 é o mais arrastado da série?

O eixo central da narrativa gira quase exclusivamente em torno dos experimentos conduzidos em Manji após seu sequestro por Habaki Kagimura. Enclausurado nas profundezas do Castelo de Edo, o protagonista é submetido a uma sequência quase interminável de torturas físicas e psicológicas, todas com o mesmo objetivo: compreender a origem de sua imortalidade e, quem sabe, replicá-la. Samura constrói esse arco com uma insistência que beira o excesso. São capítulos e mais capítulos que reiteram a mesma dinâmica — Manji é mutilado, sofre, se regenera, resiste. A princípio, essa repetição reforça o caráter desumano dos experimentos e a obsessão científica de Habaki, mas com o avançar da leitura, o impacto emocional se dilui, dando lugar a uma sensação de estagnação narrativa. O sofrimento deixa de chocar e passa a cansar.

Essa escolha estrutural faz com que o volume 8 pareça, em alguns trechos, um grande interlúdio estendido, quase como se estivesse ali apenas para preparar terreno para acontecimentos futuros mais significativos. A impressão de “enchimento” é difícil de ignorar, especialmente quando lembramos do quão econômica e precisa era a progressão dos volumes anteriores. Ainda assim, há mérito na abordagem: Samura utiliza o corpo de Manji como campo de estudo não apenas para os médicos da trama, mas também para o leitor. A imortalidade, antes vista como uma bênção tortuosa, aqui assume contornos ainda mais perturbadores, escancarando o quanto esse “milagre” pode ser apropriado por estruturas de poder que veem o ser humano apenas como objeto.

Enquanto Manji é reduzido a cobaia, Rin praticamente desaparece da narrativa. Sua presença é mínima, com poucos diálogos e participações pontuais, o que representa um dos maiores problemas do volume. Rin sempre funcionou como contraponto emocional da história, o elo humano que ancora a violência extrema em um propósito moral. Sua busca por Manji até existe, mas é tratada de forma apressada e fragmentada, culminando em seu envolvimento com dois espadachins da Ittou-ryu sem o devido desenvolvimento dramático. Falta peso, falta tensão, falta tempo de tela para que essas interações realmente importem.

Visualmente, Samura continua irrepreensível. Mesmo em um volume dominado por ambientes fechados, celas e salas de tortura, o autor explora enquadramentos criativos, contrastes de sombra e expressões corporais que transmitem dor, resistência e exaustão com brutal honestidade. O traço cru, quase sujo em alguns momentos, dialoga perfeitamente com a proposta do arco, reforçando a sensação de degradação física e moral. Ainda assim, nem mesmo a excelência artística consegue sustentar sozinha um volume tão dependente da repetição temática.

O grande mérito de Blade: A Lâmina Imortal – Volume 8 está em seu final. É ali que Samura parece lembrar o leitor de que tudo isso é parte de um plano maior. O clímax, reservado para as páginas finais, reacende o interesse e aponta para um volume 9 que promete recolocar a narrativa nos trilhos, com mais ação, conflitos externos e avanços reais na trama. O oitavo volume funciona, portanto, como um ponto de inflexão desconfortável: necessário do ponto de vista temático, mas excessivamente arrastado em sua execução.


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