Ler é Bom, Vai! Território Lovecraft, de Matt Ruff
Reprodução/HBO
Ler é Bom, Vai! Território Lovecraft, de Matt Ruff
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Ler é Bom, Vai! Território Lovecraft, de Matt Ruff

Território Lovecraft, de Matt Ruff
Reprodução/Intrínseca

Território Lovecraft, livro escrito por Matt Ruff, foi planejado originalmente como roteiro para uma série de TV. Contudo, o projeto não convenceu os executivos, até que o autor decidiu lançar em formato de romance no ano de 2016. Rapidamente, o livro que mistura o horror de H.P. Lovecraft com o racismo na década de 50, chamou a atenção dos diretores Jordan Peele (Corra!) e J.J. Abrams (Lost). A parceria da dupla com a HBO proporcionou uma ótima série intitulada Lovecraft Country, que foi finalizada há algumas semanas.

Se você já assistiu a série, a leitura de Território Lovecraft se torna ainda mais intrigante. Pouca coisa mudou em relação a série de TV, mas a narrativa de Matt Ruff é fluida e te joga no mundo desses personagens cativantes. O livro ainda é um prato cheio para os amantes da literatura pulp.

Lançado no Brasil no início do ano pela editora Intrínseca, o livro acompanha Atticus, um rapaz negro que retorna da Guerra da Coreia. Apaixonado por literatura, em especial os quadrinhos e obras pulp, o jovem sente na pele o preconceito racial, quando de cara enfrenta dificuldades para uma simples troca de pneu. Durante seu caminho até sua cidade natal, Atticus descobre que seu pai está desaparecido e embarca numa viagem com o tio George e a amiga Letty para uma missão de resgate. Na viagem até o paradeiro do pai Montrose, Atticus, George e Letty vão encarar uma sociedade secreta, rituais sanguinolentos, figuras assombrosas e o preconceito de todos os dias.

Matt Ruff é sagaz em ambientar a história no sul dos Estados Unidos em 1954, onde a região era extremamente segregacionista, precisando os negros terem um livro guia (conhecido como Green Book) para saberem os locais onde poderiam se hospedar, comer, abastecer o carro no posto, etc. É fácil perceber lendo o livro ou vendo a série que pouca coisa mudou em relação ao racismo. Assim, o terror racial que os personagens lidam diariamente somam aos monstros da literatura lovecraftiana.

Chega a ser bizarro pela visão de Montrose, Atticus, George, Letty e outros personagens, que os monstros, fantasmas, viagens no tempo e um livro demoníaco não chegam nem perto de aterroriza-los tanto quanto o racismo que convivem diariamente. Ruff estabelece esse paralelo de forma contundente.

O livro é dividido de forma episódica. São oito capítulos dedicados a cada personagem, só que todas as bizarrices que acontecem com eles, estão interligadas por algo maior. Todos os personagens são cativantes e os diálogos expostos são para refletir.


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Apesar de incríveis obras publicadas, H.P. Lovecraft era de uma natureza extremamente preconceituosa. O autor sempre deixou claro sua posição racista, homofóbica e misógina. Não por acaso que Matt Ruff une suas criações ambientadas em um período de extremo preconceito. O resultado é um soco no estômago.

Território Lovecraft consegue ser surreal, fantasioso, humorado e crítico. Mas, o principal, é muito real. Toca na ferida do racismo estrutural. Um tapa na cara de H.P. Lovecraft, que apesar de obras geniais, era tão monstruoso quanto as criaturas que imaginou.

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