Ler é Bom, Vai | Quantos segredos uma família pode ter? Tudo O Que Nunca Contei, o novo livro de Celeste NG

Divulgação/Intrínseca
Tudo o que nunca contei  foi um desses livros que pega a gente pela capa misteriosa e pela sinopse igualmente vazia, sem revelar qualquer tipo de informação além do básico para atrair os leitores.
” Na manhã de um dia de primavera de 1977, Lydia Lee não aparece para tomar café. Mais tarde, seu corpo é encontrado em um lago de uma cidade em que ela e sua família sino-americana nunca se adaptaram muito bem. Quem ou o que fez com que Lydia — uma estudante promissora de 16 anos, adorada pelos pais e que com frequência podia ser ouvida conversando alegremente ao telefone — fugisse de casa e se aventurasse em um bote tarde da noite, mesmo tendo pavor de água e sem saber nadar?
Logo fiquei animada ao pensar no suspense e no enredo sombrio que as páginas poderiam esconder – e de fato escondem -, mas a maneira escolhida por Celeste Ng para narrar sua trama deixou um pouco a desejar. A história é boa e com um conteúdo denso, mas ao mesmo tempo em que desperta a curiosidade, se arrasta pelos capítulos. Felizmente o livro é curto e muito bem escrito, o que nos motiva a continuar desvendando seus mistérios e tentar descobrir o que de fato aconteceu com Lydia. A autora soube utilizar os argumentos para manter o leitor preso a trama e por isso merece todo o destaque possível.
Divulgação/Intrínseca
Todos sabemos o quão complicada pode ser a relação entre os membros de uma família, mas até que ponto podem interferir na sanidade de um deles? Por meio de idas e vindas ao passado de cada um, Celeste procura nos mostrar a fundo a origem de cada problema, como o florecer do casamento entre James e Marilyn e sobretudo, as consequências do mesmo. Ela também nos dá pequenas dicas ao longo do livro, sobre o que pode vir a acontecer no desfecho – como a relação entre Nathan e Jack -, e mesmo assim nos surpreendemos quando algumas situações são reveladas.

“As pessoas formam uma opinião antes de conhecerem você. — Olhou para ele, subitamente ousada. — Mais ou menos como você fez comigo. Elas acham que sabem tudo a seu respeito. Só que você nunca é o que elas pensam.” 

 Algo que me desapontou em Tudo o que nunca contei é o fato do livro não seguir o estilo policial, mas sim o drama. A morte de Lydia é apenas o estopim para um copo d’água que há muito estava transbordando e é sobre isso que a autora deseja nos falar. Até que ponto o orgulho de um ser humano pode ser superior do que o bem estar daqueles que mais amamos? Celeste faz questão de descrever cada mínimo detalhe de cada momento, o que torna o livro relativamente monótono em diversas partes – mais do que o necessário. A autora poderia ter abordado melhor os diálogos entre os personagens, ao invés de tentar relatá-los por meio frases indiretas.

Quando Celeste optou por não focar sua história em algo específico, mas sim na rede de segredos entrelaçados na família, ela não nos trouxe para perto da trama o suficiente e não conseguimos nos identificar ou desenvolver empatia por alguém. A autora poderia ter abordado melhor os diálogos entre os personagens, ao invés de tentar relatá-los por meio frases indiretas. Apesar disso, não há como negar o talento dela para a escrita e principalmente o fato de que sua narrativa é intrigante. Tudo o que nunca contei nos faz pensar e refletir sobre a vida, e isso pra mim é sinal de um bom livro.
  • Bom
3