Ler é Bom, Vai! Locke & Key: Bem-vindo a Lovecraft, de Joe Hill

Reprodução/Geektopia

Com a chegada adaptação de Locke & Key em formato de série na Netflix, começa a procura pela HQ criada por Joe Hill e desenhada por Gabriel Rodriguez. No Brasil, o quadrinho foi lançado pelo selo Geektopia, da Novo Século. O primeiro volume, Locke & Key: Bem-vindo a Lovecraft, chega nove anos depois do lançamento no mercado estadunidense. Um atraso incompreensível, já que se trata de uma HQ conceituada e indicada a vários prêmios Eisner.

O Volume 1 reúne as primeiras seis edições, nos apresentando ao fantástico mundo da Mansão batizada de Lovecraft, uma homenagem ao escritor americano que revolucionou o gênero de terror. Falando no gênero, Joe Hill é filho de um dos grandes nomes da literatura, Stephen King. É notória a paixão pelo autor pela fantasia e terror, mas as comparações ficam por aí. Fato é que Hill conseguiu trilhar um caminho bastante promissor, sem jamais depender do sobrenome do pai.

Pois bem, a trama de Locke & Key acompanha o drama dos irmãos Tyler, Kinsey e Bode, além da mãe Nina, que retornam para a mansão da família Locke, na cidade fictícia de Lovecraft, uma ilha localizada na costa de Massachusetts. O quarteto busca superar a trágica morte de Rendell, o pai das crianças, assassinado brutalmente por um aluno.

Acompanhamos como cada um dos quatro está encarando o luto. Tyler, o filho mais velho, sente-se culpado por um dia ter desejado a morte do pai, em virtude das cobranças rigorosas e incessantes de Rendell. Kinsey, a filha do meio, decide seguir em frente e apaga seu visual rockeiro do passado, tirando os piercings e dreads. Ela chega à nova cidade com um visual limpo, uma forma de recomeço. Bode, o caçula, não perdeu sua inocência infantil, se aventurando pela mansão e encontrando chaves mágicas, uma delas capaz de transforma-lo em um fantasma, sendo assim, busca um dia reencontrar seu pai. Nina, a viúva, está se afundando no álcool e tenta se manter forte ao lado dos filhos.

Núcleo familiar é o destaque deste volume 1, já que a família precisará encarar a ameaça de Sam Lesser, o assassino de Rendell, que foge da prisão devido a ajuda de Dodge, uma figura sobrenatural presa no poço da mansão, que se aproveita da ingenuidade de Bode para se libertar com uma das chaves.

Mas, os que são as tais chaves? Bem-vindo a Lovecraft ainda não se aprofunda no poder das chaves, apresentando apenas duas. O que se sabe é que elas surgiram há muito tempo, e são responsáveis por mudar os rumos da história. Tal poder é deveras perigoso nas mãos de alguém com más intenções, como Sam e Dodge. Com muito mistério, Joe Hill vai construindo uma narrativa instigante, misturando presente e passado, estabelecendo que Rendell e seus antepassados possuem uma histórica relação com as chaves.

A arte de Gabriel Rodriguez é eficiente ao captar o aspecto mundano e sobrenatural da mansão. O visual antigo e assustador se torna um prato cheio para sua mente criativa. A forma como ele trabalha as diferenças entre as chaves encontradas por Bode, o visual mais cru dos personagens, comprovam que a parceria Rodriguez e Hill foi perfeita para obra.

Locke & Key: Bem-vindo a Lovecraft não deveria ter demorado tanto para chegar no Brasil. Uma obra capaz de atiçar nossa curiosidade, misturando fantasia e terror de forma ímpar. Graças ao talento de Joe Hill, um grande contador de histórias.