Os eSports são cada vez mais populares no Brasil, com equipes e competições surgindo a todo momento. Entretanto ainda há uma concentração regional que é preciso entender e estudar sobre e os dados podem nos ajudar bastante nisso.
Um levantamento da Betway, site de esports bets, com 140 atletas que atuam nas principais ligas do país e competições no Brasil e exterior trouxe um número importante. São Paulo é o estado de nascimento de 38% desses atletas, sendo que é berço de menos de 25% da população brasileira em números totais.
O estudo da Betway se debruça nas razões para essa concentração, que também fica clara quando se analisa as regiões – o sudeste tem mais da metade dos atletas – e traz mais números importantes.
Norte e Nordeste ficam atrás
Pegando por estados, o Norte não tem um representante nas principais partidas de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) e o Nordeste está ausente dos jogos de Rainbow Six: Siege (R6).
Apesar da base de dados não ser grande, ela é considerável para entender esses vazios e como pode ser mais difícil para talentos dessas regiões ascenderem e terem oportunidades no cenário nacional e global.
O caminho até os principais palcos não é fácil. Além de requerer horas e horas de treino e preparação, é preciso recursos para comprar videogames, computadores, acessórios, jogos e muito mais. A combinação de investimento financeiro e tempo já é uma nota de corte para uma grande parcela da população.
A criação e desenvolvimento de equipes também é mais difícil já que os grandes polos econômicos e tecnológicos ficam nas grandes cidades, especialmente as da região sudeste. Renato “nak”, um dos grandes nomes do Counter-Strike nacional, afirmou em entrevista para a Betway que se não morasse em São Paulo não teria seguido a carreira profissional porque “as melhores oportunidades estavam na capital”.
Estar em uma cidade como São Paulo significa contato mais fácil com patrocinadores, acesso mais fácil a produtos e infraestrutura de ponta – inclusive de acesso à internet – e conexão com profissionais e empresas até de outros países em eventos.
O que beneficia a capital paulista e o estado também chega em cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte e seus respectivos estados (os três estados do Sudeste são os líderes no nascimento de atletas de elite).
Outras lições
Um dado importante ajuda a explicar como essa diferença regional socioeconômica impacta nas estatísticas. Pegando exclusivamente o Free Fire, há representantes na elite do jogo de todas as regiões, com norte e nordeste somados chegando à mesma porcentagem do sudeste (42% contra 43%), mesmo com uma diferença considerável nas populações.
A explicação apresentada pela Betway faz todo o sentido: o Free Fire é gratuito, mobile e não exige uma máquina potente.
Os custos de ser um atleta de elite de eSports são muito altos, especialmente se comparados a outros esportes populares como futebol, vôlei e basquete. O custo do videogame e do computador são elevados, assim como o gasto com energia, a necessidade de acessórios e o fato da maioria dos produtos ter o preço atrelado ao dólar. Com o momento de dificuldades da economia brasileira e a desvalorização do real, essa conta fica ainda mais complicada.
Com todas essas considerações, fica ainda mais evidente que é preciso pensar em como incluir jogadores de todas as regiões do país e aproveitar o potencial e o talento de todos os brasileiros, independente se nasceu em São Paulo, no Pará, em Alagoas ou no Rio Grande do Sul.
Parcerias relevantes entre poder público e empresas privadas, investimento em equipamentos e acessórios, redução de tributação, levar campeonatos e equipes para mais cidades e estados, descentralizando sempre que possível e o uso de exemplos bem-sucedidos são todas ideias que podem ser aplicadas.