O lançamento oficial de Batman: Arkham Knight, realizado em São Paulo, foi um grande exemplo para outras desenvolvedoras de games se inspirarem e, quiçá, realizarem até melhor. A organização foi plenamente satisfatória desde o início do dia, na retirada das pulseiras de acesso pela manhã, até a saída do evento, à noite. O local era espaçoso e de fácil movimentação, evitando os tumultos que enfrentamos em eventos de grande porte. Neste caso, seriam apenas 150 sortudos que teriam a honra de presenciar Ettore Zuim e realizar um bate-papo de perguntas e respostas que não só tangiam ao assunto do novo jogo, mas também a diversos aspectos de realização de uma dublagem.
A Saraiva disponibilizou um espaço para que todos pudessem jogar Batman: Arkham Knight, embora houvesse extrema competição entre todos os participantes do evento e usuários da loja para dominar o joystick. Isso gerou um problema, pois eram muitas pessoas para apenas um console. O pouco que consegui sentir ao jogar foi suficiente para despertar a vontade de jogá-lo do início ao fim. Os gráficos estão dignos de nova geração. A jogabilidade foi totalmente aprimorada e, em alguns aspectos, diria até que refeita. A interação com o batmóvel dá outro ar para a série, além de despertar inúmeras possibilidades de gameplay, além de interações com o carro. Há um trecho específico onde você deve utilizar as armas do carro para atingir uma plataforma e, só então, sair do automóvel para acessar o caminho anteriormente bloqueado. As impressões iniciais foram ótimas – e não poderia ser diferente.
Algum tempo depois, surgiu do nada (literalmente), o Batman em pessoa. Todas as pessoas que outrora não tiravam os olhos do jogo se voltaram a um dos melhores cosplays do Cavaleiro das Trevas. Felizmente, o homem-morcego colaborou com algumas fotos que tirei e se mostrou pouco tímido perante as diversas câmeras apontadas para ele. Houve uma enorme sessão de fotos e reportagens até o início (um pouco atrasado) do evento. Depois de alguma espera, a entrada para o palco onde seria a entrevista coletiva foi tranquila. Todos foram recebidos com bebidas (sucos e refrigerantes) e salgados antes do início. Erico Borgo, do site Omelete, dirigiu a entrevista e as perguntas do público do início ao fim.
Você já imaginou dublar o Batman alguma vez na sua vida?
Eu dublava o Christian Bale, por isso que eu fiz o Batman. Eu nunca imaginei fazer o Batman alguma vez na minha vida. Não tinha a menor ideia e nunca almejei fazê-lo. Era algo inatingível. Eu até dirigi a série animada com o Márcio Seixas (dublador do Batman na série animada), que as pessoas adoram e eu também sou fã, mas eu nunca imaginei e já estou fazendo-o há 10 anos.
O nosso país não dá muito valor aos dubladores, como você se sente em relação a isso?
Mas aqui não se dá valor a ninguém (aplausos da platéia). Fora essa sala cheia de pessoas que dá satisfação, fora isso… É complicado.
Se você pudesse dar um conselho a alguém que quer seguir o caminho de dublagem, qual seria?
Eu aconselharia a pessoa a pensar bem se é isso que ela realmente quer, porque ultimamente anda complicado, ainda mais com essa pulverização de estúdios de fundo de quintal por aí. Além da falta de respeito com os profissionais, é complicado. Você tem que ter muita vontade além de pensar em fazer teatro, que é algo fundamental. A minha especialidade é palco, eu fiz teatro amador, tentei fazer faculdade, mas não terminei nenhuma. Segui o caminho de teatro e fui arrastado para a dublagem, porque na minha época não tinha curso de dublagem, não tinha nada disso. Nenhum dos atores se interessava por dublagem. Quando eu cheguei lá havia apenas o pessoal de rádio, a professora, mecânico, advogado, atores não tinham.
Qual a sensação que você teve de ser o Batman? Afinal, o Batman é o Batman.
Eu também não sei. Eu nunca fui o Batman (risadas). Eu já me vesti uma vez há muitos anos em uma festa, fiquei com a mão toda murcha e suada. Não tenho muita paciência para essas coisas. Eu prefiro dublar o Batman.
O que você pensa de estúdios que chamam artistas famosos para realizarem dublagens?
Isso é coisa do brasileiro querer imitar o americano. Lá nos Estados Unidos, os dubladores ganham muito bem, e quando estes estão de férias ou indisponíveis, eles costumam chamar algum ator que é contratado do mesmo estúdio para dublar. Aqui eles fazem o contrário, eles chamam uma pessoa que tem apenas o nome, pagam muito mais e o público não consegue desvincular aquela voz daquela imagem que ele já conhece. É gente errada fazendo coisa errada. Eu não gosto de ver, sinceramente. Nós dubladores temos a voz conhecida que se encaixam em vários personagens, mas o público não vê o nosso rosto, a pessoa se lembra de algum personagem que você dublou e isso é importante. Falta um pouco de bom senso.
O que você pensa sobre a dublagem da Pitty no jogo Mortal Kombat, onde ela alterou uma fala por “Eu vou equalizar a sua cara”?
Isso é falta de noção, não é? Ela está fazendo pra turma dela ou para o público? Nós somos dubladores… Eu, por exemplo, sou carioca e não posso ter sotaque de carioca. A gente dubla para o Brasil inteiro.
O seu trabalho de dublagem é realizado com imagens?
Não. Todos os filmes do Batman, assim como os jogos, eu realizei apenas me baseando nas faixas de áudio originais. Eu acho isso uma falta de respeito com o dublador, porque não podemos expressar corretamente o que está se passando em uma cena. Não sabemos, por exemplo, quando se trata de uma cena de luta, apenas dublamos baseando-se nos arquivos originais.
Em quanto tempo foi realizada a dublagem de Batman: Arkham Knight?
Em dois dias, algo em torno de três a quatro horas em cada um.
Você assistiu ou jogou as mídias que dublou do Batman?
Não, nunca vi e nem joguei nenhum. Eu tenho uma espécie de raiva, sabe? Nós não dublamos olhando a imagem e fica realmente difícil de dar o melhor. Eu sou uma pessoa perfeccionista e não conseguiria assistir aos filmes pensando que poderia ser realizado melhor se tivéssemos o auxílio da imagem. Os estúdios dizem que não vinculam mais as imagens por conta da pirataria.
Ettore Zuim foi extremamente sincero do início ao fim da entrevista, exibindo o porquê de muitas vezes algum filme não ter uma dublagem decente (seja pela falta de imagem no processo de dublagem ou pela falta de profissionais em determinada obra). Encerrado o bate-papo, ele autografou pôsteres do jogo para todos os presentes, sendo extremamente atencioso e simpático. Recebi o meu pôster (que vocês vão conferir logo abaixo), e um doce como lembrança do evento. A Warner fez um ótimo trabalho trazendo uma figura tão importante da dublagem brasileira para os jogos. Nós, profissionais do meio e acima de tudo, fãs, apreciamos um bom trabalho em uma das figuras mais importantes para o mundo nerd.
E você, já jogou Batman: Arkham Knight? Gostou da dublagem do game? Aproveite e confira a nossa review e conte-nos o que achou!