Não é FPS, não é Indie: o futuro dos games está no mundo aberto

Para falarmos de mundo aberto precisamos primeiro viajar ao passado e saber um pouco sobre o que precedeu os pioneiros no gênero. Talvez seja necessário voltar 42 anos no tempo, lá no Magnavox Odyssey, e ver os jogos para saber o que passava na mente dos designers no momento da criação do extraordinário gênero que o mundo aberto é hoje.

A base fundamental para a modernidade já estava naquela primeira máquina construída por Ralph Baer, considerado o pai dos videogames. As coisas eram bobas e muito simples. O que existia para entreter as crianças e os entusiastas da tecnologia não era mais do que jogos como Haunted House ou Cat & Dog. Veja quanto tempo já se foi. Quatro décadas correram no relógio da história. Ralph Baer faleceu deixando um dos maiores legados tecnológicos de nosso tempo. Considerado, para muitos, coisa de criança, os videogames são hoje, indiscutivelmente, uma das maiores indústrias da tecnologia. Milhares de pessoas são empregadas e, através dos games, temos avanços gráficos imensos. Esses avanços influenciam até mesmo no cinema. Conforme esses avanços aconteceram, o cinema passou a influenciar os games.

Em Outubro de 1997, David Jones e Mike Dailly explodiram o mundo de games quase literalmente. A Rockstar lançava o primeiro jogo da infame franquia de roubos, Grand Theft Auto, abreviado como GTA. O primeiro GTA não contava com a câmera 3D de hoje em dia e era muito simplório. Um personagem era controlado e os poucos comandos de ação consistiam em arrotar, socar alguém e roubar carros. Porém, o jogo prometia muito mais do que deixava transparecer. Tinha aspiração para evoluir. A ideia de possuir carros no momento desejado, usar armas e dirigir pela cidade era fenomenal. A ideia de mundo aberto era completamente de outro planeta. Então, com as vendas elevadas, não tardou que GTA II alcançasse o mercado e fizesse tanto sucesso quanto o primeiro game. Daquele momento em diante, o sucesso estrondoso de GTA faria o mercado expandir e o gênero ser consolidado. Hoje em dia a franquia GTA conta com quinze títulos, sendo que o último, GTA V, arrecadou um bilhão de dólares internacionalmente. O feito entrou para o livro dos recordes e a franquia inova continuamente com diversas adições e infinitas possibilidades, tais como uma AI inteligente e climas modificáveis, além de milhares de coisas para serem feitas.

Com a Rockstar e GTA abrindo as portas para o gênero, logo começou a surgir a concorrência. Aqueles que desejavam fazer melhor e deixar sua marca na história. De fato, muitos ajudaram a contribuir para os jogos futuros perceberem o que havia de correto e o que estava errado. Um dos exemplos mais marcantes foi Outcast. O game alterou completamente o gênero do jeito que poucos viriam a fazer depois. Hoje algo como Outcast pode parecer bizarro à primeira vista, no entanto, em 1999 era espantoso. Ninguém jamais havia feito águas tão perfeitas ou então nuvens visíveis no céu, sem mencionar o direito de ir e vir em um planeta completamente diferente da terra. Outcast precisou de coragem para enfrentar o mercado e extrema criatividade para ser feito. Existem outros exemplos da mesma época. Driver. Apesar de certas coisas serem limitadas, como a controvérsia se o personagem principal carregava uma arma ou não, Driver foi além das barreiras e dividiu o gênero entre ele e GTA. Ambos eram melhores em alguns aspectos e piores em outros. Driver, infelizmente, morreu com o tempo.

Na sexta geração o mundo aberto pareceu estagnado. Talvez por muitos não desejarem encarar o gigantesco GTA: San Andreas. O game era tudo e muito mais. Pela primeira vez era permitido entrar no oceano e simplesmente sair nadando ou então pegar um avião e ir embora. Havia também todas as lendas e easter eggs cercando o famigerado game. O que houve na época foi completamente diferente. O mundo aberto consistia naquele único gênero com missões e apenas isso. Na sexta geração, em uma época que os super-heróis começavam a caminhar no cinema, Homem-Aranha 2 chegou para os consoles e marcou era. Pela primeira vez controlar um herói era possível. Nova Iorque inteira estava aos pés dos jogadores e você podia balançar suas teias por aí totalmente à vontade. Assim como houve com GTA, muitos seguiram os passos de Homem-Aranha 2, sem sucesso para destrona-lo.

Novamente, o mundo aberto deu um passo gigante com o avanço da tecnologia. A Rockstar havia tentado, na geração passada, criar um mundo aberto ao melhor estilo velho oeste, como os filmes western spaghetti. Falhou quase miseravelmente com Red Dead Revolver. Na nova geração acertou e falhou com GTA IV devido à falta de carisma de todos os personagens e a trama fraca. Além de poucas inovações. O que era necessário? Obviamente, inovação. Então Red Dead Redemption fez a Rockstar mais uma vez elevar o gênero do mundo aberto a outro patamar. Atraiu não somente gamers old school, como fez o gênero do western levantar dos mortos na sétima arte. Mesmo por pouco tempo. Vale ainda mencionar as dezenas de prêmios arrecadados.

O gênero do mundo aberto não parou por aí. Era a vez de alguém destronar Homem-Aranha 2, da sexta geração. O feito foi da Rocksteady. Com Batman: Arkham Asylum, a produtora conseguiu colocar os jogadores literalmente nas botas do Cavaleiro das Trevas, fazendo-os conhecer os problemas pessoais de Bruce Wayne e os problemas do Batman. Como se não bastasse, eles decidiram ir além e fazer o jogador sentir a temível Gotham City na pele. Batman: Arkham City chegou pouco tempo depois para mostrar ao mundo o que pode realmente ser feito com os games.

Apesar de a sétima geração ter carregado alguns fracassos no gênero como Sleeping Dogs ou Watch Dogs, é inegável dizer que os acertos são muito maiores. A franquia Arkham, GTA V, Fallout: New Vegas, Just Cause e Far Cry são exemplos claros do poder que existe no gênero de mundo aberto. A oitava geração de consoles foi aberta e já podemos ver o que nos aguarda. A maioria dos games caminha para o gênero e teremos Uncharted com maior potencial para isso do que antes. Metal Gear Solid V: Phantom Pain se aproxima e promete abalar o mundo com força, mostrando alterações climáticas em seu ambiente, mudanças bruscas de ações na AI e coisas imprevisíveis. A Rocksteady planeja explodir a cabeça dos fãs, presenteando-os completamente com Gotham City inteira em Batman: Arkham Knight. Claro que ainda veremos GTA VI para moldar o mundo aberto e apresentar novos caminhos.

O que sabemos do futuro? Com avanço tecnológico e maior capacidade das placas de vídeo, a probabilidade é que o mundo aberto seja exatamente isso. Aberto para qualquer um desbravar.