Uma Vida – A História de Nicholas Winton conta a história real de Nicholas Winton, interpretado por Anthony Hopkins nos anos 1980 e Johnny Flynn nos anos 1930. Winton é um corretor da bolsa aposentado que, depois de algumas críticas de sua esposa Grete (Lena Olin), resolve limpar seu escritório abarrotado de pastas e papelada antiga. A bagunça era enorme por um motivo: ele temia reviver momentos do passado, principalmente ao rever uma pasta com detalhes das crianças que salvou no início da Segunda Guerra Mundial.
Por flashbacks, ficamos sabendo que, em 1938, Winton visitou Praga e se deparou com famílias vivendo em condições extremamente precárias e sob a constante ameaça de uma invasão nazista. Isso o sensibilizou. Então, com a ajuda de seus colegas humanitários Doreen Warriner (Romola Garai), Marta Diamontova (Antonie Formanová), Trevor Chadwick (Alex Sharp) e de sua mãe, a sensata Babette (Helena Bonham Carter), ele montou uma enorme operação que consistia em arrecadar dinheiro, atormentar os departamentos governamentais para obter vistos, conseguir trens e famílias adotivas para levar o máximo de crianças para a Inglaterra.
Crianças marcadas por números embarcando em trens costumam gerar cenas traumáticas na maioria dos filmes, mas em Uma Vida – A História de Nicholas Winton isso se torna uma imagem de esperança, já que sabemos que essa é uma das únicas formas delas escaparem dos terríveis campos de concentração. Todo esse processo de levar as crianças para a Inglaterra foi feito com a maior discrição, afinal era preciso passar com vagões repletos de crianças por territórios comandados pelos nazistas. O filme entrega momentos de tensão, já que os soldados poderiam cismar com qualquer coisa e simplesmente acabar com a operação de resgate.
A equipe de Winton conseguiu levar oito trens, com 669 crianças judias no total, mas quando a nona leva estava à caminho, a maior de todas elas, chegaram as notícias da invasão da Polônia pela Alemanha. Soldados nazistas invadiram a estação e começaram a levar as pessoas, acabando assim com o projeto e deixando as últimas crianças sem nenhuma esperança.
Cinquenta anos depois, Nicholas Winton vive assombrado pelo destino das crianças que não conseguiu levar para a segurança de seu país. Para dar um fechamento para essa história, seus parentes e amigos o convencem de que é preciso contá-la para o mundo. Porém, ele e seus companheiros não acreditavam que estavam sendo heróis, eles se descreviam simplesmente como pessoas comuns formando um exército de pessoas comuns para fazer algo bom. Então, contar essa história, na visão de Winton, seria se gabar de seus feitos. Além disso, a imprensa local não demonstrava muito interesse nos dramas de refugiados de décadas atrás.
Então, Nicholas conhece Elisabeth Maxwell (Marthe Keller), uma pesquisadora do Holocausto e esposa do o infame magnata da mídia Robert Maxwell. Ela faz com que a história chegue ao programa popular That’s Life! A produção do programa o convida para uma participação e sua emocionante história é contada na TV. Durante as gravações, uma das crianças que ele salvou está ao seu lado na plateia, gerando uma enorme comoção, tanto do público quanto do próprio Nicholas.
Ao ver que o programa foi um sucesso, eles repetem a dose, agora com todas as crianças que conseguiram encontrar. A apresentadora diz: “Posso perguntar, há alguém na nossa audiência esta noite que deve a sua vida a Nicholas Winton?” e dezenas de pessoas se levantam – um dos momentos mais emocionantes da TV britânica. Só quando ele finalmente vê qual foi o destino dessas pessoas que ajudou, que passa a compreender realmente o que fez e se sentir em paz.
Johnny Flynn faz um ótimo trabalho como o jovem cheio de determinação e paixão, mas quem realmente brilha é o aclamado veterano Anthony Hopkins. Ele interpreta um Nicholas Winton mais fechado, calmo e perdido em seus pensamentos, mas que ao mesmo tempo transborda bondade.
Winton passou a ser popularmente conhecido como “o Schindler Britânico”, em referência ao famoso Oskar Schindler, que também salvou centenas de judeus que provavelmente teriam tido um destino terrível sem sua ajuda. É inevitável fazer uma comparação entre essas duas histórias, por conta dos impactos positivos que elas tiveram – apesar dos feitos de Winton serem bem menos conhecidos do público geral, até agora. O filme certamente dará uma maior visibilidade para esses feitos e quem sabe, servirá de inspiração para que as pessoas sejam boas umas com as outras, mesmo em momentos difíceis.
O diretor James Hawes e os roteiristas Lucinda Coxon e Nick Drake, que adaptaram a biografia de Winton escrita por sua filha, Barbara, encontram o equilíbrio certo ao alternar entre as cenas urgentes e tensas da Europa da década de 1930 e o retrato de Nicholas em seus últimos anos, quando ele finalmente está pronto para compartilhar sua história até então desconhecida com o mundo. Com muitas cenas emocionantes, mas sem apelar muito para o sentimentalismo, Uma Vida – A História de Nicholas Winton é um filme que vale a pena ser visto.
Uma Vida – A História de Nicholas Winton chega aos cinemas em 14 de março de 2024. O livro no qual o filme foi baseado está disponível no site do Grupo Editorial Pensamento.
Muito bom
Uma Vida – A História de Nicholas Winton conta a história real de um homem que salvou centenas de crianças judias na Segunda Guerra Mundial, mas que permaneceu no anonimato por 50 anos. Com uma reprodução emocionante do momento em que sua história ficou conhecida pelo público e flashbacks intensos do final década de 1930, o longa conta com atuações excelentes e uma história que vale a pena ser vista.