Todo Tempo que Temos | Crítica

Novo romance da A24 conta uma história de amor que atravessa o tempo.

O tempo pode ser o personagem principal em nossas vidas. Do primeiro choro ao último fechar de olhos, ele é um lembrete silencioso de que nossa estadia neste mundo é apenas temporária. Em Todo Tempo que Temos, a presença desse protagonista universal transmite a mensagem de quão rápido nossa vida passa, mas também de como o próprio tempo a transforma em uma aventura linda, emocionante e, principalmente, única.

A ideia de abordar a vida de um casal através da perspectiva do tempo talvez não seja a mais inovadora, mas, assim como diversas histórias que desconhecemos de pessoas que jamais conheceremos, é fascinante acompanhar, do começo ao fim, o tempo de Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield) juntos.

Com um enredo não-linear, Todo Tempo que Temos busca contar uma história a partir de diferentes perspectivas sobre a presença do tempo em nossas vidas. Para muitos, ele é um lembrete constante de que é preciso conquistar algo relevante, para que ele seja bem utilizado e possamos ser lembrados de alguma maneira. Para outros, significa amar alguém incondicionalmente, sem amarras ou conceitos abstratos, apenas amor.

Ao viajarmos por diversas fases da relação de Almut e Tobias, o filme apresenta, sem pressa, as características de cada um, e como suas visões distintas sobre o mundo fizeram o acaso trabalhar para que, indiretamente, ambos se encontrassem em momentos diferentes de suas vidas. Ela é uma talentosa chefe de cozinha em ascensão, enquanto ele, um recém-divorciado desiludido com sua vida pessoal e profissional. No mesmo momento em que seus maiores sonhos se realizam e o amor entre os dois cresce cada vez mais, o tempo volta a mostrar que tudo é finito, quando uma verdade dolorosa chega para pôr à prova essa história de amor.

Como mencionado, a proposta já foi vista em outras produções, mas, ciente disso, Todo Tempo que Temos sabiamente escolheu focar na química avassaladora entre Andrew Garfield e Florence Pugh. Sejam toques, beijos, olhares ou pequenos gestos não verbais, a dupla de atores é o coração de toda a história, tornando quase impossível imaginar outras pessoas nesses papéis. Desde o primeiro momento, somos fisgados pela dinâmica natural e carinhosa dos dois, que extraem o melhor de seus personagens. Tanto Almut quanto Tobias são retratados como pessoas diferentes e em momentos distintos, mas, apesar de tudo, o tempo os colocou no lugar certo, na hora exata — mesmo que tenha sido em um acidente de carro que possibilitou o início de uma história que atravessaria nossos corações.

Além das atuações, é preciso destacar como a direção de John Crowley (Brooklyn) e o roteiro de Nick Payne (A Última Carta de Amor) se unem de forma coesa, tornando essas idas e vindas no tempo uma maneira gentil e dinâmica de contar a relação dos protagonistas de maneira não-linear. Mesmo com a montagem alternando entre o presente em uma cena, o passado em outra, e logo em seguida voltando ao tempo atual, a fluidez é impecável e não deixa o espectador confuso em relação à época retratada. Seja pelos cortes de cabelo de Almut ou pelo amadurecimento de Tobias, o filme deixa pistas orgânicas que indicam o período correto dos acontecimentos.

A trilha sonora, juntamente com a fotografia, complementa as diversas facetas dos personagens. Um dos pontos mais positivos da história é mostrar que, gostemos ou não, o relógio está sempre correndo. Nesse sentido, a narrativa constrói cenas de apertar o coração, evidenciando a dificuldade que nós, seres humanos, temos em aceitar nossa finitude. Mas a cereja do bolo está exatamente aqui: por nosso tempo ser limitado, ele se torna extremamente valioso. É essa característica que faz do tempo um agente transformador, que nos impulsiona a tomar decisões em nossas vidas, a abraçar quem amamos e a aproveitar cada segundo da maneira que bem entendermos. Tudo isso, no contexto da relação entre Almut e Tobias, faz de Todo Tempo que Temos uma obra que explora o mistério maravilhoso que é o tempo.

“O que fazemos em vida ecoa pela eternidade”. Essa frase, retirada do clássico filme Gladiador (2000), ressoa bastante na minha vida e se encaixa perfeitamente na trama de Todo Tempo que Temos. Seja de forma direta ou indireta, a história de amor de Almut é um lembrete de que talvez nem tudo o que fizermos em nossas pequenas e finitas vidas vá, de fato, ecoar pelos túneis do tempo. Mas, caso um dia ecoe, será na vida das pessoas que amamos e com quem aproveitamos cada segundo.

Com uma química extraordinária entre Andrew Garfield e Florence Pugh, Todo Tempo que Temos é mais um acerto da A24. Mesmo que não seja o melhor filme do ano, acredito que foi o que mais me fez sentir algo dentro da sala de cinema. Portanto, ao pensar na história de Almut e Tobias, lembro da frase dita pelo diretor francês Robert Bresson: “Prefiro que as pessoas sintam um filme antes de entendê-lo. Prefiro que os sentimentos surjam antes do intelecto.”

Todo Tempo que Temos chega aos cinemas em 31 de outubro de 2024, com distribuição da Imagem Filmes.

4.5

MUITO BOM

Com uma química única e emocionante entre Andrew Garfield e Florence Pugh, Todo Tempo que Temos é um maravilhoso passeio temporal pela história de Almot e Tobias.