Vagamente inspirada no assalto real ao Museu de Arte de Worcester, em Massachusetts, em 1973, a versão ficcional da história é apresentada no novo filme de Kelly Reichardt (First Cow), The Mastermind. Nele, acompanhamos James Mooney (Josh O’Connor), um homem que abandonou a escola de artes e deseja trabalhar com arquitetura, mas por enquanto atua como carpinteiro. Ele tem dois filhos pequenos, Carl (Sterling Thompson) e Tommy (Jasper Thompson), e é casado com Terri (Alana Haim). James depende da posição social de seu pai, o juiz Bill Mooney (Bill Camp) e está pegando emprestado grandes somas de dinheiro de sua mãe, Sarah (Hope Davis), para financiar um novo projeto secreto: seu primeiro grande assalto.
Na cena de abertura, já vemos o tom do filme quando em uma visita a um museu de arte local, o Museu de Arte de Framingham, um dos favoritos de sua própria família, James arromba discretamente uma vitrine, rouba uma pequena estatueta que estava em exposição e a coloca na bolsa de Terri sem que ela perceba, permitindo que ela a retire o objeto da galeria e passe por um segurança sem que ele note absolutamente nada. É um ato insignificante, quase inconsequente, mas revela tudo sobre o protagonista: seu distanciamento, sua falsidade, seu egoísmo e sua alegria infantil de fazer algo que ninguém mais consegue ver. Este é seu teste para um golpe maior.
A galeria de arte local obviamente possui medidas de segurança um tanto quanto falhas. Então, James planeja pagar dois comparsas e um motorista de fuga, Guy (Eli Gelb), Larry (Cole Doman) e Ronnie Gibson (Javion Allen), para roubar quatro pinturas do artista americano Arthur Dove e escondê-las em uma casa em uma fazenda próxima. James explica que não pode estar presente durante o assalto porque seu rosto agora é conhecido demais pela equipe do museu.
Quando chega o dia, o assalto se desenrola não com precisão impecável, mas com uma inevitabilidade lenta e cômica de fracasso. As pinturas não cabem nos sacos feitos para carregá-las, um carro quase impede a fuga dos bandidos, eles são vistos por uma testemunha e ainda agridem um segurança na saída. É uma sucessão de pequenos erros que se transforma em algo incontrolável. James, sempre um passo à frente e em busca da próxima saída, se vê mergulhando cada vez mais fundo em uma confusão que ele mesmo criou.
James demonstra sua incapacidade de prever o nível de confiabilidade dos comparsas e a probabilidade de que a máfia local não aceite roubos audaciosos. Então, ele passa a ser procurado pela polícia e sua vida vira de ponta cabeça. Guy já havia fugido, Ronnie o delatou e Larry em breve também o trairá, então é somente invocando o nome de seu pai, um respeitado juiz local, que ele consegue tempo suficiente para mandar Terri e as crianças para a casa dos pais antes de fugir. James viaja para a casa de amigos, que não aceitam abrigar um criminoso. Isso faz com que ele fique pulando de lugar em lugar, ligando para os filhos de telefones públicos e cometendo pequenos roubos para se manter. O título do filme, The Mastermind, é irônico, afinal, James não é um gênio do crime. Ele é um homem inteligente, mas um criminoso medíocre.
Uma coisa interessante sobre o filme é que ele mostra um roubo com armas apontadas para pessoas inocentes e seguranças agredidos, mas sem nenhuma música dramática na trilha sonora – como seria na vida real. Esse é um filme que não glamouriza o crime, mas procura mostrar tudo de forma próxima da realidade, principalmente os erros, virando o gênero de cabeça para baixo de forma bastante inteligente.
A produção e o figurino de época de Anthony Gasparro e Amy Roth, respectivamente, evocam instantaneamente a época, mas algumas relíquias dos anos 70 utilizadas no filme inevitavelmente causam risos, como o vidro traseiro com manivela que dá trabalho quando os ladrões tentam colocar as pinturas roubadas na traseira de um carro roubado. Embora Kelly Reichardt nunca insista em comédia, ela acontece naturalmente em muitos momentos.
A atuação de Josh O’Connor é o ponto alto do filme. James é charmoso e repleto de falsa confiança. Há algo de teimosamente sincero em como ele acredita em suas próprias bobagens. Quando ele diz que está fazendo tudo isso por sua família, dá para perceber que ele fala sério, mesmo que fuja dos deveres paternos e desapareça por dias sem explicação. Ele é um homem que usa o amor como desculpa e o ego como bússola. É o tipo de atuação que faz você ter pena dele quando ele usa expressões faciais sutis para transmitir a imagem de um homem que lentamente percebe que pode não ser o herói de sua própria história.
The Mastermind chega aos cinemas brasileiros em 16 de outubro, com distribuição da MUBI e da Imagem Filmes.
Bom
The Mastermind se destaca como uma abordagem original dentro do gênero de filmes de assalto. Além de apresentar um retrato nada idealizado do crime, também mergulha profundamente no psicológico de seu protagonista e é muito divertido.