Hollywood viu um aumento nas franquias de filmes de super-heróis, principalmente no Universo Cinematográfico Marvel, nos últimos anos – ainda que o gênero tenha tido uma queda de interesse do público recentemente. Enquanto isso, a DC lutou para atingir patamares comparáveis tanto na qualidade quanto nos números de bilheteria. O estúdio entregou apenas alguns bons filmes, enquanto muitos outros foram fracassos de bilheteria. Então, eles resolveram reformular toda a estrutura ao contratar James Gunn e Peter Safran para comandar os estúdios DC. Ambos decidiram reiniciar o Universo DC, trazendo Superman para dar esse pontapé na nova fase.
O Homem de Aço é uma das figuras mais duradouras de toda a cultura pop: um símbolo mítico da verdade, da justiça e de um amanhã melhor. Sem ele, a própria ideia de super-herói como a conhecemos não existiria. James Gunn, que é diretor e roteirista do reboot, assumir um dos personagens mais icônicos da DC e liderar uma franquia inteira começando por ele novamente foi uma escolha interessante. Ele faz uma jogada muito inteligente ao trazer sua ideia do que é um filme baseado em histórias em quadrinhos para um público que se cansou da cultura cinematográfica desse gênero, fazendo um longa muito mais parecido com as tirinhas do herói. Ao mesmo tempo, mantém o tipo de humor bobo de Guardiões da Galáxia, trilogia que o tornou amplamente conhecido e querido pelo público.
Não é que o filme deixa completamente de lado os clichês familiares que envolvem o personagem em praticamente todas as outras produções, mas busca retratar o Superman como era nos quadrinhos mais antigos, nos filmes de Christopher Reeve e, mais recentemente, na série Superman & Lois. Alguém robusto, forte e sobre-humano, mas que também é vulnerável, amável e repleto de batalhas internas, como todos nós nascidos na Terra. Por conta de ser um dos heróis mais conhecidos de todo o mundo, que praticamente todos sabem que é nascido no planeta Krypton e criado em uma fazenda no Kansas, foi feita a escolha de deixar de lado a história completa de origem de Kal-El/Clark Kent, ainda que ela seja brevemente explicada para que os novatos entendam de onde ele veio – mas não espere ver a nave caindo na fazenda dos Kent mais uma vez na telona.
Já começamos com o relacionamento de Clark Kent com sua parceira de jornalismo, Lois Lane (Rachel Brosnahan) acontecendo há vários meses, inclusive com as primeiras brigas entre o casal apaixonado acontecendo. E com o herói envolvido em uma questão global, na qual o maior inimigo do Superman, Lex Luthor, o CEO da LutherCorp, interpretado com uma ameaça impetuosa por Nicholas Hoult, já conhece os pontos fortes e fracos do kryptoniano por tê-lo estudado por anos. Ele é um bilionário da tecnologia que tem seus tentáculos em todos os lugares: na indústria, no governo dos EUA e em nações estrangeiras – um cara mau movido pelo poder.
Superman tenta evitar a invasão de Jorharpur pela Boravia, um país do Leste Europeu presidido por um autocrata interpretado por Zlatco Burić, um instrumento de Luthor. Superman irá a qualquer lugar para salvar os humanos da injustiça, mas aqui parece que ele está perdendo o controle, graças à inteligência de sua nêmesis. Antes amado por todos, o Superman começa a sofrer com o ódio destilado à ele após Luthor iniciar uma massiva conspiração que se espalha nas redes sociais para fazer com que ele pareça ser um impostor. Clark Kent se confortava ao ver uma mensagem deixada pelos país, Jor-El e Lara Lor-Van (Bradley Cooper e Angela Sarafyan), que dizia que ele foi enviado para servir ao povo da Terra. Após se infiltrar na Fortaleza da Solidão e roubar a mensagem completa, Lex divulga a outra metade problemática do holograma, a que diz que o Superman deve dominar a raça humana. Acontece que essa mensagem não é falsa. Além de deixar o povo contra o Homem de Aço, isso implanta um conflito no coração do nosso herói: qual é a sua verdadeira missão?
Obviamente, fica claro que ele está aqui para ser um campeão entre os mortais e o Superman continua lutando por todos nós, mas não sozinho. Agora ele divide um pouco do trabalho com outros meta-humanos, conhecidos como Gangue da Justiça, cujos membros incluem o combativo Lanterna Verde de Nathan Fillion, a Mulher-Gavião de Isabela Merced e o furioso e implacável Senhor Incrível de Edi Gathegi.
Interpretar o Superman exige um ator alto, forte, de cabelos escuros e olhos azuis, que fisicamente poderia ser um quarterback no futebol americano, mas que consiga transmitir na tela a personalidade de um golden retriever. David Corenswet consegue trabalhar bem todas essas facetas do extraterrestre superpoderoso que também é um homem meio nerd, com um otimismo inerente e a crença em fazer o bem. Os limites entre Superman e Clark são bastante tênues, especialmente porque Clark passa a maior parte do tempo de tela com Lois, que já sabe que ele é o Superman a essa altura. A química entre Corenswet e Brosnahan garante que o relacionamento deles pareça real e emocionante. A maneira como os dois entrelaçam seus egos cria um encontro fascinante, ainda que a fala sobre a bondade do Superman ser “punk rock” seja um pouco constrangedora. Da mesma forma, Corenswet e Hoult têm uma dinâmica fascinante que transborda de tensão antagônica, tornando-os arqui-inimigos convincentes.
A equipe do Planeta Diário não é realmente um atrativo no filme, com exceção de Skyler Gisondo como Jimmy Olsen. Ele cumpre as funções tradicionais de alívio cômico, ao mesmo tempo em que se envolve na trama de uma forma inesperada e satisfatória ao se envolver com uma de suas fontes. E não tem como não citar um dos personagens mais fofos. Não existe nada no mundo que consiga tornar um personagem ainda mais simpático do que dar a ele um adorável ajudante canino. E essa versão do Superman está em grande parte do longa acompanhado por Krypto, o Supercão. Certamente, ele precisa de adestramento antes que destrua a Fortaleza da Solidão, mas não deixa de ser um amigo fiel e uma fonte constante de alegria em Superman e para o Superman. O cachorrinho é feito completamente em CGI e é inspirado no próprio cãozinho que Gunn adotou, Ozu.
James Gunn conseguiu pegar um personagem conhecido e amado e dar a ele uma história original, que se mantém fiel às suas raízes e que insere questões bastante atuais – afinal vivemos em um mundo, assim como a ficcional Metrópolis, em que manchetes gritam sobre conflitos militares, ameaças tecnológicas, oligarcas bilionários arrogantes e muita desinformação. Superman tem muita ação, humor e emoção para manter o público entretido por pouco mais de duas horas, ao mesmo tempo em que oferece algo diferente dos filmes de super-herói recentes. O diretor conseguiu salvar o gênero e seu novo estúdio? Ainda é cedo para saber, mas certamente, esse foi um bom começo.
Superman estreia no dia 10 de julho nos cinemas de todo o país, também em versões acessíveis. Para mais informações, consulte o cinema de sua cidade.|
Ótimo
Com um elenco bem escolhido e a decisão de focar nas qualidades do herói nos quadrinhos, Superman dá o pontapé inicial no novo universo da DC com muito coração, bom humor e humanidade.