Suçuarana, novo longa dos diretores Clarissa Campolina e Sérgio Borges, é um road movie no qual acompanhamos Dora (Sinara Teles), uma mulher solitária que vive andando pelas estradas brasileiras há mais de 10 anos, vagando de cidade em cidade. Toda sua vida cabe dentro de uma mochila e ficar parada em um só local não é uma opção para a protagonista. Ela não possui família ou nenhuma outra companhia além do cachorro, Encrenca, que a segue e do qual ela muitas vezes tenta se desfazer.
Mas suas andanças não são sem motivo. Sua longa jornada é em busca do Vale do Suçuarana, o local em que sua mãe tirou uma foto que ela carrega consigo – uma espécie de terra prometida que Dora não sabe nem onde fica, mas que sente precisar chegar lá, pois pode ser o local onde finalmente poderá pertencer. Ela vai parando em diferentes cidades e vilas, arrumando pequenos trabalhos para se manter e conhecendo pessoas, mas nenhum contato é duradouro ou significativo. Seus caminhos são percorridos em locais devastado pela mineração, onde seu destino parece sempre um pouco mais distante. Os espectadores são conduzidos por paisagens do estado de Minas Gerais que mostram um passado que prometeu progresso, mas que deixou ruínas.
Na primeira metade do filme, vemos Dora passando por todos os tipos de perrengues na estrada, passando cansaço, fome e medo enquanto vaga por uma paisagem devastada que beira a distopia. Não sabemos em que período se passa o longa, mas é possível notar a ausência da tecnologia. Ainda assim, o a realidade do povo não parece nada fantasiosa. Já a segunda metade se concentra em seu período ao lado dos moradores de uma vila de trabalhadores. O foco está nas mulheres do local, que, apesar das vidas sofridas, sempre se ajudam e dão apoio as outras.
Nessa história, o cachorro se torna o símbolo principal da perseverança e do flerte com o realismo fantástico, afinal, por mais que Dora tente se livrar do animal, ele continua a encontrando, não importa a distância ou o tempo passado. O laço entre eles fica ainda mais forte quando Dora encontra um grupo quilombola que a ajuda. Existe também a figura do caminhoneiro interpretado por Carlos Francisco, que acaba aparecendo na vida de Dora de tempos em tempos e tenta passar um pouco de sua sabedoria para mulher, ainda que nem sempre ele tenha razão. Fazendo um contraste com as mulheres fortes que passam pela vida da protagonista, ele é um homem marcado pela dor.
Suçuarana é um filme simples, melancólico e contemplativo, que se utiliza de uma linguagem bastante crua para nos fazer refletir sobre pertencimento e que consegue causar um grande impacto, ainda que seja um pouco desgastante em alguns momentos. Apesar de elementos levemente fantásticos, ele também serve como uma grande crítica ao capitalismo, que destrói a natureza e muitas vezes, as vidas das pessoas. Sinara Teles não diz muito com palavras, mas seu olhar traz todas as dores sofridas e dizem muito. Com ela aprendemos que muitas vezes nossas jornadas podem sofrer mudanças, ainda que pequenas, mas que dão novos rumos para nossas vidas. Sua personagem é um símbolo de resiliência e também de resistência.
Suçuarana estreia nos cinemas brasileiros em 11 de setembro, com distribuição da Embaúba Filmes.
Bom
Suçuarana tem uma protagonista muito bem interpretada e uma qualidade técnica notável. A trama contemplativa pode ser cansativa em alguns momentos, mas nem por isso deixar de encantar.