Stella: Vítima e Culpada, o mais recente longa-metragem do diretor alemão Kilian Riedhof, desafia os limites da ética e da moralidade, que foram duramente testados durante o regime do Terceiro Reich. O filme, que é baseado em uma história real, nos apresenta o trágico destino de Stella Goldschlag (Paula Beer), uma jovem judia que traiu centenas de outros judeus, incluindo amigos próximos, na tentativa de salvar a si mesma e sua família.
Em 1940, a jovem e exuberante Stella sonha com um futuro próspero como cantora de jazz, um gênero em ascensão na época, mas americano demais e negro demais para os nacional-socialistas tradicionalistas e conservadores. No entanto, a presença de um empresário de Hollywood em um evento parece prenunciar um futuro de sucesso para a vocalista e seus colegas da escola judaica, todos ótimos músicos. Mas às vezes o destino tem surpresas desagradáveis reservadas…
Temos um salto para 1943 e, em Berlim, os judeus precisavam fugir ou de se esconder. Assim começa uma fase terrível, na qual Stella e seus pais, Toni (Katja Riemann) e Gerd (Lukas Miko), são forçados a buscar continuamente soluções para se manterem vivos. Manfred Kübler (Damian Hardung), namorado e companheiro de banda de Stella, é levado pela Gestapo, fazendo com que ela e a sua família fiquem ainda mais desesperados. Ainda assim, ela se arrisca pelas ruas em busca de um pouco de diversão.
Logo, ela conhece Rolf (Jannis Niewöhner) e inicia um relacionamento com ele. O rapaz era conhecido por falsificar documentos – por grandes quantidades de dinheiro ele conseguia dar um pouco de esperança para alguns judeus de saírem da cidade antes de serem levados para algum campo de concentração. Stella passa a trabalhar com ele, mas inevitavelmente é pega Gestapo, presa e torturada. As alternativas oferecidas pela polícia secreta oficial da Alemanha Nazista incluíam ir para Auschwitz ou tornar-se informante. Stella escolhe a segunda opção e junto com Rolf, passa a denunciar judeus, traindo seu povo – incluindo alguns amigos próximos e conhecidos.
A história se desenrola por vários anos, passando pelo fim da guerra e os julgamentos que acontecem nos anos seguintes. O roteiro de Marc Blöbaum, Jan Braren e Kilian Riedhof procura se abster de opiniões, optando pela objetividade ao mostrar os fatos, por mais brutais e moralmente repreensíveis que sejam – justamente para enfatizar o paradoxo de salvar-se condenando os outros. Stella ficou conhecida como o Veneno Louro e entrou para a história como uma traidora, uma manipuladora fria e calculista. E o que ela fez realmente foi cruel, terrível, mas não dá para não ter empatia por sua situação como judia na Alemanha durante o regime nazista ou deixar de condenar as torturas que ela sofreu.
Além da tragédia de sua história de vida, o filme enfatiza o quando Stella era uma jovem como tantas outras que tiveram seus planos arruinados pela guerra. Isso faz com que suas ações pareçam ainda mais abomináveis e incita o público a se perguntar o que teria feito em seu lugar. Até onde uma pessoa comum iria para salvar a própria pele? E em que ponto a moralidade dá lugar ao puro oportunismo?
Como o próprio título já diz, Stella é vítima e algoz, uma figura misteriosa retratada sem realmente cair na armadilha da dicotomia bom-mau. Isso a torna uma personagem ambígua e bastante interessante. Ela se apega o máximo possível às certezas que construiu, para não se tornar o monstro que todos imaginam. O resultado é um filme cruel e historicamente bem pesquisado e liderado por uma atriz perfeita para seu papel.
Através de sua atuação, Paula Beer consegue mostrar os pequenos vislumbres de esperança, a excitação revigorante da paixão proibida, a miséria e a dor de não conseguir viver uma vida plenamente honesta, a farsa de se encontrar em uma posição elevada depois de ser derrubado muitas vezes. Mesmo que você se sinta enojado e horrorizado com suas ações, ela nunca se torna unidimensional ou apenas uma vilã fria.
Stella: Vítima e Culpada estreia exclusivamente nos cinemas brasileiros no dia 19 de junho, com distribuição da Mares Filmes.
Bom
Stella: Vítima e Culpada conta uma história real difícil de digerir, sobre uma mulher que sofre, mas também faz coisas terríveis. Apesar de ter um ritmo meio caótico, as atuações são boas e a trama nos prende.