Sexa, longa que marca a estreia de Glória Pires na direção, apresenta a história de Bárbara (também interpretada pela atriz), uma mulher de 60 anos assustada com o processo de envelhecimento, às frustrações afetivas e às expectativas sociais que recaem sobre mulheres nessa fase da vida. Entre o trabalho como revisora de textos e as conversas divertidas com sua melhor amiga e vizinha Cristina (Isabel Fillardis), ela tenta levar a vida da melhor forma possível. Depois de sucessivas decepções amorosas, decide abandonar a ideia de encontrar um novo relacionamento.
Tudo muda quando ela conhece Davi (Thiago Martins), um rapaz 25 anos mais jovem, gentil e disposto a reconstruir a própria vida após ter ficado viúvo. O encontro inesperado vira sua rotina de cabeça para baixo e abre espaço para debates relevantes sobre etarismo, relacionamentos intergeracionais e liberdade emocional na maturidade. A partir desse momento, Bárbara se vê diante de uma escolha delicada: viver intensamente essa nova paixão ou ceder ao medo e ao julgamento causado pela diferença de idade entre os dois.
Glória Pires é uma atriz que trabalhou muito com televisão e em sua direção traz muitos dos vícios de linguagem da TV. Sexa é um filme fortemente inspirado na linguagem televisiva que moldou a carreira da atriz, com seus vários planos de transição com paisagens do Rio de Janeiro, pensamentos em off e a trilha sonora que sobe e desce em fade in e fade out reforçam essa sensação de formalismo datado, sem a reinvenção que poderia torná-lo estilisticamente interessante.
Ao lado dos corroteiristas Guilherme Gonzalez e Bianca Lenti, a atriz e diretora cria uma personagem que se apoia em clichês: a mulher que teme o avanço da idade, que reclama dos anos que passam rápido demais, que sofre etarismo dentro da própria família, que fala sobre botox e colágeno como se fossem sinônimos de sobrevivência social. Esses elementos poderiam render uma crítica afiada ao modo como a sociedade empurra mulheres maduras para a invisibilidade. No entanto, o filme geralmente opta por caminhos previsíveis, tangenciando temas densos sem se aprofundar neles. Ainda assim, a presença de Pires traz humanidade a uma personagem que, escrita de maneira menos competente, poderia se tornar apenas uma caricatura.

Bárbara é ao mesmo tempo protagonista e espelho das inquietações de muitas mulheres maduras, que se veem divididas entre a liberdade tardia e o peso dos julgamentos. A ideia é forte, mas o filme nem sempre consegue aprofundar o que propõe, resultando em uma obra agradável, porém irregular. Um dos elementos mais interessantes, mas também frustrantes, é a maneira como o filme retrata a família da protagonista. O filho e a cunhada, que a veem quase como um caixa eletrônico a ser explorado, representam uma crítica social pertinente. Mas, novamente, falta profundidade. Seus comportamentos são tão rasos e caricaturais que dificultam a construção de um conflito emocional crível. Ao invés de gerar empatia ou indignação, acabam reforçando a impressão de um filme que não ousa sair do que é confortável.
Apesar desses tropeços, Sexa tem momentos sensíveis, especialmente quando abraça a vulnerabilidade de suas personagens femininas. A amizade entre Bárbara e Cristina é um dos pontos altos: dinâmica, divertida e cheia de pequenos afetos cotidianos que o filme captura com delicadeza. Nesses trechos, percebe-se o que o filme poderia ser se tivesse mais coragem estética e narrativa. No fim, o filme entrega um entretenimento leve, conduzido por uma atriz carismática e por um bom elenco, mas carece de ousadia e de um olhar mais aprofundado para os temas que aborda. Como estreia de Glória Pires na direção, é um passo seguro, porém tímido. Uma obra que revela potencial, mas que ainda não encontra uma voz cinematográfica própria.
Sexa é uma produção da Giros Filmes e Audaz, com coprodução da Paramount Pictures Brasil. O filme chega aos cinemas em 11 de dezembro, com distribuição da Elo Studios.
Regular
Sexa marca a estreia de Glória Pires na direção, trazendo um drama sobre envelhecimento e relacionamentos intergeracionais que aposta em caminhos previsíveis. Apesar da força temática e da humanidade que Pires imprime à protagonista, o filme recorre a vícios de linguagem televisiva e a clichês, que fazem com que ele não tenha a forma que poderia ter.