Saneamento Básico - O Filme Saneamento Básico - O Filme

Saneamento Básico – O Filme | Crítica

Saneamento Básico – O Filme é o puro suco do cinema brasileiro.
Divulgação.

As melhores histórias muitas vezes nascem da necessidade de denunciar uma realidade difícil. Seja qual for a mensagem, quanto mais sutilezas a obra carrega, mais inteligente e intrigante ela se torna — mesmo quando sua denúncia está escancarada. Em Saneamento Básico – O Filme, Jorge Furtado traz seu bom humor em uma comédia afiada, recheada de ironias, que serve para expor um problema grave.

Agora em versão restaurada em 4K, Saneamento Básico – O Filme ganha novos significados desde sua estreia, em 2007. O relançamento vem em um momento oportuno: Wagner Moura e Fernanda Torres, protagonistas do longa, se consagraram com prêmios individuais no Festival de Cannes. Fernanda ainda venceu o Globo de Ouro de Melhor Atriz e foi indicada ao Oscar por Ainda Estou Aqui. A nova estreia reforça o valor de uma obra que é uma verdadeira preciosidade da cinematografia brasileira. No elenco também estão nomes como Lázaro Ramos, Camila Pitanga e Bruno Garcia.

Na trama, uma pequena comunidade no interior do Rio Grande do Sul enfrenta a ausência de saneamento básico — um problema antigo e ignorado pelas autoridades. Após diversas tentativas frustradas, a secretária da prefeitura informa que não será possível construir uma fossa até o fim do ano. No entanto, revela que há uma verba de R$ 10 mil do governo federal para a produção de um vídeo cultural. É então que o casal Joaquim (Wagner Moura) e Marina (Fernanda Torres) tem a ideia de produzir um filme caseiro, criando uma história fictícia sobre um monstro que vive nas redondezas, com o objetivo de, finalmente, resolver o problema da comunidade.

Jorge Furtado conduz a narrativa com um olhar analítico e irônico sobre o fazer cinematográfico. O filme é uma verdadeira aula de metalinguagem: ele destrincha, com bom humor, etapas como roteiro, direção, montagem, atuação e edição. Provoca o público por meio de situações cômicas, enquanto reflete sobre o que define um filme e o papel da arte como instrumento de denúncia.

Os diálogos são repletos de acidez e ironia, confiando na inteligência do espectador para fazer conexões com situações reais. Um exemplo marcante são os comentários sobre o financiamento público da cultura, que escancaram a falta de lógica no sistema brasileiro. Como é possível destinar recursos ao cinema se a população local não tem nem acesso ao básico, como tratamento de esgoto? Essa é apenas uma das muitas perguntas levantadas pela narrativa, sempre de forma hilária e provocadora, através de personagens que tentam compreender como se faz um filme “de verdade”.

Tudo acontece de maneira orgânica, e é justamente isso que torna Saneamento Básico – O Filme um exemplo do que o cinema nacional tem de melhor. Seja pelo roteiro afiado, pelos atores carismáticos ou pela comédia inteligente, Jorge Furtado extrai o “suco” do cinema brasileiro com uma história divertida do início ao fim — mas que, ainda hoje, em 2025, carrega críticas sociais extremamente pertinentes.

Saneamento Básico – O Filme está de volta aos cinemas brasileiros, distribuído pelo do projeto inovador Sessão Vitrine Petrobras.

4.5

Muito Bom

Com uma comédia afiada e um elenco estrelado, Saneamento Básico – O Filme é o “puro suco” do cinema nacional.