Filmado na Amazônia e em São Paulo, Perrengue Fashion acompanha a influenciadora Paula Pratta (Ingrid Guimarães), que tenta se consolidar como uma referência na criação de conteúdo de moda com a ajuda do amigo e assistente Taylor (Rafa Chalub). Quando ela recebe um convite para estrelar uma campanha publicitária de Dia das Mães para uma marca renomada, ela sente que chegou a sua grande oportunidade. Porém, seus planos vão por água abaixo quando o filho Cadu (Filipe Bragança) desiste de ir até São Paulo e embarca em uma viagem para viver em uma ecovila sustentável na Floresta Amazônica.
Ao lado de Taylor, Paula viaja até o Norte do Brasil para convencer o filho a desistir do ativismo ambiental e ajudá-la no trabalho dos sonhos, porém os dois têm dificuldade em se entender e ficam em um impasse: Cadu não compreende a carreira e os objetivos profissionais da mãe e Paula tem dificuldade em aceitar as escolhas do filho. Apesar das complicações iniciais em se adaptar a uma realidade mais simples e conectada à natureza, ela descobre um novo estilo de vida que irá fazê-la repensar seus valores e sua relação com a família.
No dia 29 de setembro, participamos de uma exibição do filme para a imprensa, que foi seguida por uma coletiva com a presença da diretora Flávia Lacerda, Ingrid Guimarães, Filipe Bragança, Rafa Chalub e Michel Noher. O elenco falou sobre os perrengues durante as gravações, amizades formadas no caminho e as dificuldades de se fazer cinema no Brasil. Confira o que rolou nesse bate papo:
Para começar, Ingrid Guimarães falou sobre a criação da personagem Paula Pratta, “essa personagem era um desejo meu de falar sobre o universo de influência. Quase todo mundo hoje quer ser influencer. Tem médico, dentista, todo mundo querendo ser influencer. Eu quis falar disso, do viés de uma mulher que quer pertencer ao mundo, ela quer ter para ser alguém. Ela acha que ter coisas e usar marcas vai fazer com que ela pertença à algum tipo de mundo ao qual ela não faz parte. A gente sabe muito bem que não é assim, né? Então a gente moldou ela, eu junto com os autores, que são o Edu Araújo, o Marcelo Saback e o Célio Porto. São três homens de gerações diferentes, mas muito conectados. O Marcelo Saback escreve pra mim todos os meus filmes. O Edu e o Célio são mais jovens, então eles trouxeram pra mim essa construção de uma mulher… eu não sou jovem, então uma mulher da minha idade. Eu também quero falar disso: porque só os jovens podem influenciar? Nós fazemos parte de uma economia em que a gente compra, vende e influencia também. Então, ela é uma influencer 40 mais e eu quis falar desse universo”.
Com a personagem criada, entra o trabalho da diretora Flávia Lacerda de conseguir equilibrar entretenimento, crítica social e o timing da comédia. Segundo ela, “acho que na verdade, todo o trabalho que já fiz com a Ingrid na televisão foi tentando equilibrar essa façanha, que é não deixar que a comédia seja um produto menor ou não deixar que seja desprovida de um senso moral, ético, de uma crítica, de um retrato do Brasil. Então, acho que tudo que eu fiz na Globo tinha um pouco dessa intenção e no cinema permanece a mesma coisa. No Auto Da Compadecida 2 foi isso, nesse filme tem isso e tem isso fortemente porque tem duas esferas, tanto fala do universo do consumo e sustentabilidade, como da relação mãe e filho. Foi muito importante pro meu lugar de fala como mãe de dois meninos. Que bom que a gente manteve o timing da comédia, essa é a parte mais difícil, sempre”.
Muitos dos momentos cômicos vem da atuação de Rafa Chalub, que fez sua estreia no cinema. Segundo ele, atuar em um filme “foi super tranquilo, o cinema vem super natural pra mim”. Por estar inserido no mundo da moda, ele já tinha uma bagagem que trouxe para seu personagem. “Pra mim foi muito legal fazer o Taylor porque eu conheço vários Taylors, eu tô há uns quatro anos fazendo parte desse universo e já trabalhei com vários stylists, vários maquiadores, trabalhei com várias pessoas da produção. E o viado ele é proativo, né? O viado, principalmente nesse lugar da moda, são pessoas muito importantes que estão sempre nos bastidores”.
“Quando a gente começou a falar sobre o Taylor, ele era até mesmo um pouco mais performático visualmente. Depois a gente foi entendendo que essas pessoas ficam nos bastidores e se vestem um pouco mais sóbrias, apesar de terem personalidades mais distintas. Estão sempre ali para resolver tudo. Foi até mesmo uma certa homenagem à essas pessoas, tenho amigos que são diretores criativos. Você vai pegando um pouquinho de cada e colocando ali. O Taylor é uma parte importante do entretenimento. As influenciadoras de moda sempre tem o Taylor delas, no caso elas tem sete, é que a Paula não tinha orçamento”, completa o ator.
Além da química dos personagens ser muito forte no filme, Ingrid Guimarães e Rafa Chalub viraram amigos durante as gravações. Para ele, foi algo muito especial, pois diz ser fã da atriz desde criança. “Ficamos de fato amigos, até perdeu o encanto, acho que eu era mais fã”, brinca o ator.
Todo o perrengue retratado no filme começa quando Paula e Taylor viajam até a Amazônia para buscar Cadu, o filho que resolve viver da terra e ser ativista longe da cidade. Filipe Bragança revela as diferenças que tem em relação ao personagem, “ele representa uma geração que se preocupa com um problema que é um muito caro à todas as gerações, que é o meio ambiente e o estado em que se encontra nosso planeta. O Cadu, diferente de mim, tem não só uma convicção muito grande, mas também essa virtude de realmente abandonar toda uma vida e uma estrutura que já estava planejada, muito confortável, inclusive, tendo a mãe que tinha, podendo estudar fora, tendo acesso à tudo isso. E ele prefere se dedicar à uma luta que é muito importante para a sobrevivência do planeta”.
Mas também tem algumas semelhanças, Filipe é menos cronicamente online em comparação com os colegas de elenco, “o filme tá lançando agora, falei ‘vou postar umas fotos’, e não tinha foto quase nenhuma, fui pegar foto do Instagram da Ingrid. A internet e as redes sociais, essa forma de se comunicar, a gente não consegue escapar mais. Agora é assim. A gente só precisa aprender e entender como cada um se relaciona de uma forma que é saudável. Eu não sou igual o Cadu, que não tem rede social nem nada, eu gosto de ter. Mas tem que ter um equilíbrio e cada um vai descobrir qual o seu”.
O ator Michel Noher também falou sobre seu personagem, “o Lorenzo é um personagem que eu admiro muito, ele realmente é uma pessoa que realmente acredita na possibilidade de mudar o mundo. E isso é uma coisa que eu acho que, geracionalmente, temos perdido muito”. Ele prossegue, “o Lorenzo cria um espaço de mudança para o mundo. A diferença entre ele e outras pessoas, que poderiam encontrar na Paula um inimigo, ele encontra uma pessoa que ele pensa que pode conseguir mudar, para que ela leve a mensagem para mais pessoas. E isso é uma coisa que eu admiro muito”.
Sendo argentino, Michel vê algumas coisas tão brasileiras mostradas no filme com um outro olhar, mesmo assim acredita que “é um filme totalmente universal, porque é um filme de encontro de mundo, do mundo da moda, do mundo da ecologia, do mundo das gerações diferentes, dos pais e filhos, tratado de um jeito tão sensível e tão engraçado. Acho que é um filme atrativo pra todo mundo”.
Além dos assuntos ambientais mais tradicionalmente visto em produções, Perrengue Fashion também aborda algo que não vemos sendo tratado com tanta frequência nos cinemas: sustentabilidade na moda. “Eu conversei muito com a Marina Morena, ela tem uma Shop & Share aqui em São Paulo, que é um acervo. Eu inclusive já aluguei do acervo lá quando fui pra Cannes. Eu acho que é o que vai acontecer no futuro cada vez mais, o second hand (termos usados para roupas usadas, normalmente vendidas em brechós). Eu conversei muito com a Marina e com o Giovanni Bianco, que foi um consultor de moda pra gente. E ele falou um dia, me contou uma história de que a moda está caminhando e quem não está caminhando para isso, vai ficar fora do mercado. A gente está falando que algo que vai acontecer daqui pra frente”.
Outro ponto que a equipe tomou bastante cuidado, foi em procurar respeitar a cultura do local onde estavam gravando o filme. “O Edu Araújo é de Maceió e ele escreveu a esquete ‘Sudestinos’ nos Porta Dos Fundos. Toda vez eu perguntava pra ele se a gente estava fazendo alguma coisa… a gente lidou com questões, a gente fez um ritual xamânico, a gente brincou com coisas da Amazônia e tudo isso é perigoso. Divulgaram uma cena minha da maniçoba, que é meu prato preferido e eu quis fazer uma homenagem. Deu uma briga. Vários sites mandando pra mim dizendo ‘como você brinca com a maniçoba?”. Ela continua, “o fato de você brincar com a maniçoba… talvez tenha uma pessoas que já tenham se incomodado. Qualquer coisa a gente é mal interpretado”.
“Mas que bom que a gente pode fazer humor com isso e a gente também pode ter um filme como ‘Manas’, que é um filme espetacular que também se passa no norte e que traz uma outra perspectiva. Que bom o nosso Brasil, nesse momento, consegue fazer um filme de comédia que se passa no norte e um outro filme de drama que se passa no norte”, completa Filipe Bragança.
Rafa Chalub diz que propositalmente, seu personagem e o de Ingrid eram pra ser os “sem noção” nesse história. “Desde o começo, eu e a Ingrid, a gente se propôs, e o roteiro dos meninos também, era que os nossos personagens seriam sem noção. Seriam as pessoas que estariam lá e não saberiam se portar diante de toda aquela cultura que eles não estão acostumados. Eles acham que a cultura deles é a única cultura que existe, é onde eles querem entrar, é o que querem viver e o resto é resto”.
Mais um cuidado tomado foi com o personagem gay do filme, Rafa Chalub revelou que tinha uma preocupação com de não reforçar estereótipos desde que leu o roteiro pela primeira vez.“Eu vi que isso não estava ali porque o roteiro foi escrito por outros homens gays. Três gays e todas passivas. O que pra mim é muito importante também”, brinca o ator. “Eu acho que ter personagens gays que são afeminados e são engraçados não é um problema. A gente cismou com isso como se fosse o grande problema, mas não é. Pra mim o problema é como a gente escrever personagens gays. Ele tem uma complexidade? Tem uma importância nessa história? Tem porque estar ali? Ou é só para aparecer e fazer uma gracinha ali e ser um acessório? É um espectro. Ou você é um acessório ou é a bicha sofrida, que apanha, que chora ou que não é assumida. Parece que não dá pra ser feliz sendo gay. E dá! É possível. Pra mim isso foi algo muito importante desde o início”.
Ele continua, “O Taylor é um personagem que, quando saiu o trailer acho que até surgiram umas pessoas falando ‘mas ele é gay pet dela?’ E no filme a gente v6e que ele meio que manda nela, ele que traz a informação. Ele fala ‘meu amor, é assim’. A gente sempre descreveu como ela sendo o rosto da operação e ele é o cérebro da operação. Então, pra mim, poder fazer esse personagem que ainda é afeminado e ainda é divertido, mas que tem um porque de estar ali e que representa inúmeros homens gays, que fazem a moda no Brasil acontecer, que fazem o entretenimento no Brasil acontecer… Eu acho que daqui pra frente, é realmente a gente tentar incluir mais diversidade na sala de roteiro porque isso traz uma coisa muito genuína”.
Perrengue Fashion chega aos cinemas em 9 de outubro, com distribuição da Paris Filmes e da Downtown Filmes.