Baseado nos personagens criados por Joe Hill, a sequência O Telefone Preto 2 traz de volta Mason Thames e Madeleine McGraw como os irmãos Finn e Gwen, que ainda moram com o pai (Jeremy Davies), agora sóbrio há três anos. A história se passa quatro anos após a morte do Sequestrador (Ethan Hawke). Os sonhos assustadores sobre assassinatos horríveis que assombraram Gwen no primeiro filme pioraram ainda mais. Agora, ela é o centro das atenções enquanto investiga o cristianismo, o significado de seus sonhos e a possibilidade de um encontro com o charmoso nerd Ernesto Arellano (Miguel Mora, que interpretou o amigo assassinado de Finn, Robin, no primeiro filme, e está de volta como o irmão mais novo de Robin na sequência).
Enquanto isso, seu irmão se tornou um adolescente durão que precisa regularmente bater em alguém da escola para provar que de fato ele assassinou o serial killer que o sequestrou. Finn ainda recebe telefonemas dos mortos. O garoto anestesia sua dor com maconha e tenta negar o que aconteceu na tentativa de seguir em frente, por isso responde às suas ligações sobrenaturais periódicas com um monótono “sinto muito, mas não posso te ajudar” antes de desligar. Os dois irmãos lidam com seus traumas do passado e suas habilidades psíquicas atuais de maneiras radicalmente diferentes, já que Gwen assumiu totalmente a responsabilidade de entender seus sonhos e ajudar os mortos a encontrar paz da maneira que puder.
Em uma das visões de Gwen, ela atende uma ligação e ouve a versão jovem de sua mãe do outro lado da linha. Então, surgem evidências que sugerem uma conexão entre Finn, a mãe já falecida dos adolescentes, o Sequestrador, algumas crianças assassinadas assustadoras e um acampamento cristão nas montanhas do Colorado chamado Alpine Lake. Gwen insiste em viajar para o local e Finn relutantemente a acompanha para protegê-la. Também os acompanham nessa jornada o colega de classe de Gwen, Ernesto. Ao chegarem no acampamento, eles conhecem Mondo (Demián Bichir), o chefe do local, sua sobrinha vaqueira Mustang (Arianna Rivas) e um casal chamado Barbara e Kenneth (ou seja, Barbie e Ken), dois religiosos bastante hipócritas.
Lá, eles tentam descobrir o que as visões da mãe e de Gwen estão tentando lhes dizer sobre este lugar e descobrir como isso se conecta à lenda e possivelmente à ameaça contínua do Sequestrador, enquanto buscam pelos corpos de sua vítimas, cujo medo torna essa ameaça mais forte. Também precisam enfrentar um assassino que se tornou mais poderoso na morte e mais significativo para eles do que qualquer um poderia imaginar.
O primeiro filme, o sucesso de terror de baixo orçamento de 2021, se resume a uma intensa, silenciosa e prolongada batalha de determinação entre um serial killer mascarado chamado o Sequestrador e seu mais recente sequestrado, Finney, um garoto de 13 anos que recebe assistência póstuma (e assustadora) das vítimas anteriores de seu algoz. O filme se concentrou em grande parte no porão sujo onde o assassino em série mantinha suas vítimas, tendo como única decoração digna de nota o telefone desconectado que misteriosamente permitia contato com os espíritos das crianças que ele havia sequestrado. É uma adaptação satisfatória e que não pedia por uma continuação. Mas, como acontece com a maioria dos sucessos de Hollywood, o diretor e roteirista Scott Derrickson quis trazer de volta esses personagens. Ele volta com uma trama um pouco mais elaborada e mais confusa em O Telefone Preto 2. A sequência perde o foco na intensidade da história e procura dar mais espaço para efeitos especiais e ação sobrenatural, o que o torna, de alguma forma, mais assustador do que o primeiro filme.
Ter estabelecido elementos sobrenaturais no original, foi o que deu espaço para tentar resolver o problema do aparecimento do Sequestrador após ele ter morrido no primeiro filme. Há uma clara inspiração em A Hora do Pesadelo, com o Sequestrador voltando e atacando através dos sonhos de Gwen. Inclusive, o filme conta com algumas sequências interessantes de ferimentos aparecendo espontaneamente em corpos enquanto o assassino mascarado os ataca enquanto dormem. A sequência também vem com pitadas de Sexta-Feira 13, afinal, os personagens se encontram em um acampamento de férias ameaçado por um assassino sobrenatural aparentemente imparável. É uma grande mudança para um personagem que era apenas um serial killer comum no primeiro filme, mas ao mesmo tempo se encaixa perfeitamente no cenário que o primeiro filme já estabeleceu, onde os mortos são uma força ativa e presente no mundo dos vivos. Scott Derrickson se utiliza de uma câmera Super 8 para indicar sempre que Gwen entra no reino dos sonhos do Sequestrador, onde ela sozinha pode confrontar seu vilão, o que é um toque visual inteligente para diferenciar entre realidade e terra dos sonhos.
Ainda interpretando o Sequestrador, agora mutilado e ensanguentado depois do que Finn fez com ele, Ethan Hawke tem menos tempo de tela do que no primeiro filme, mas não menos presença. O diretor reconheceu uma dimensão no ator que ninguém tinha visto antes e ele parece gostar de acessar essa parte mais sombria. Mesmo escondido atrás daquela máscara de demônio sorridente ou então de um rosto protético desfigurado, sua voz é ameaçadora o suficiente. Os dois jovens, Mason Thames e Madeleine McGraw também fazem um bom trabalho e conseguem carregar bem a trama, mesmo antes do aparecimento do vilão, o que demora um pouco para acontecer.
De certa forma, O Telefone Preto 2 é um retrocesso. Ele foca mais em como os sobreviventes processam o trauma do que uma matança na floresta, ainda que isso também ocorra. É um filme de terror capaz de agradar o público, uma obra repleta de incidentes sobrenaturais, sangue, grandes momentos emocionais para os personagens, referências espirituosas para fãs de terror de longa data, mas não é o clássico instantâneo que o primeiro filme foi.
O Telefone Preto 2 tem distribuição da Universal Pictures e estará disponível nos cinemas a partir de 16 de outubro, também em versões acessíveis.
Bom
O Telefone Preto 2 retoma a história quatro anos após a morte do Sequestrador e volta mais ambicioso e sobrenatural do que o primeiro filme. A sequência aposta em elementos visuais elaborados, sustos ao estilo de A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13. Ainda que perca a tensão minimalista do original, entrega momentos assustadores e emocionais, especialmente nas performances dos protagonistas, mas não alcança o mesmo impacto marcante do primeiro filme.