O Sabor Da Vida | Crítica

O Sabor Da Vida, longa dirigido pelo cineasta vietnamita Trần Anh Hùng e estrelado por Juliette Binoche e Benoît Magimel, levou o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes 2023. Ele tem o personagem principal baseado em Dodin-Bouffant, criado pelo autor suíço Marcel Rouff em seu romance La Vie et la passion de Dodin-Bouffant, gourmet (The Passionate Epicure).

A trama, ambientada na França do final do século XIX, se passa praticamente inteira dentro da cozinha – ela é o coração da casa. Nele, Eugénie e Dodin demonstram admiração mútua e trabalham cozinhando juntos há 20 anos. Eles dedicaram suas vidas à criação de pratos incríveis, fazendo com que Dodin se tornasse um nome muito conhecido entre os gourmets da época.

A primeira meia hora de filme se passa praticamente sem diálogo, com todos os minutos dedicados à preparação meticulosa e ao consumo de um banquete. Pode até parecer meio enfadonho saber que passaremos tanto tempo vendo os personagens cortando, peneirando, mexendo e degustando, mas não é. Tudo funciona como uma dança muito bem coreografada entre o casal principal, a assistente de cozinha Violette (Galatéa Bellugi) e a sobrinha de Violette, Pauline (Bonnie Chagneau-Ravoire) – uma aspirante a cozinheira que demonstra enorme talento.

Esse primeiro momento também nos faz entender um pouco mais sobre a relação entre Dodin e Eugénie. Ele é o chef dentro daquela cozinha, mas mesmo assim fica óbvio que vê a cozinheira como uma igual. Eles entendem o trabalho um do outro e se completam, por isso tudo que fazem funciona tão bem. Então, descobrimos que além de trabalharem juntos, são amantes de longa data, mas também que o relacionamento é conduzido nos termos de Eugénie. Dodin está tentando fazer com que Eugénie aceite ser sua esposa há algum tempo, mas ela presa por sua liberdade e prefere manter as coisas como estão.

Trần Anh Hùng faz um paralelo sensual entre comida e os prazeres da carne durante toda a narrativa. Seja comparando uma bela pera com o corpo nu de Eugénie ou até mesmo na forma como Dodin e seus amigos gemem de prazer ao comerem uma iguaria. E quando Dodin prepara um banquete para sua amada, percebemos que cenas mais picantes entre os dois nas escapadas que ele fazia até o quarto dela seriam redundantes. As refeições preparadas neste filme significam algo: elas são um trabalho de amor e algo belo que será apenas uma lembrança daqui a uma hora. Elas dizem muito sobre o relacionamento de Dodin e Eugénie.

O longa também trata do amor que perdurou e se aprofundou ao longo de décadas, fazendo com que esses personagens se sintam confortáveis um com o outro já que sabem como ficar em harmonia na companhia um do outro. É muito mais comum ver filmes sobre jovens casais apaixonados e novos amores arrebatadores, já esse tipo de relacionamento não aparece com tanta frequência na telona, mas é igualmente belo. É difícil dizer onde termina o amor deles pela comida e onde começa o amor um pelo outro.

O Sabor Da Vida é um filme para ser sentido. Não é a história em si que o torna interessante, mas a atmosfera, as relações entre seus personagens e o modo como nos mostra que tudo tem um fim, até as coisas mais belas e que fazem a vida valer a pena – o importante é saboreá-las enquanto há tempo. 

Com estreia nos cinemas brasileiros programada para 11 de abril de 2024, O Sabor Da Vida foi selecionado para representar a França na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2024, mas infelizmente não conseguiu uma indicação.

Além de Juliette Binoche como Eugénie e Benoît Magimel como Dodin Bouffant, o elenco de O Sabor Da Vida conta com Emmanuel Salinger como Rabaz, Patrick d’Assumçao como Grimaud, Galatea Bellugi como Violette, Jan Hammenecker como Magot, Frédéric Fisbach como Beaubois, Bonnie Chagneau-Ravoire como Pauline e Jean-Marc Roulot como Augustin.

A distribuição é da Diamond Films.