Com mais de 800 mil exemplares vendidos ao longo dos anos, além de adaptações bem-sucedidas para o teatro e para uma série de animação, a franquia Diário de Pilar, de Flávia Lins e Silva, se consolidou como uma das mais relevantes e queridas do universo infantojuvenil brasileiro, conquistando crianças, famílias e educadores por seu conteúdo educativo e repleto de aventuras. Agora, a história ganha uma nova e ambiciosa adaptação para o cinema com O Diário de Pilar na Amazônia, filme dirigido por Eduardo Vaisman (Juntos e Enrolados) e Rodrigo Van Der Put (Vidente por Acidente), e com produção da Conspiração, em coprodução e distribuição da Star Original Productions, selo da The Walt Disney Company.
O longa apresenta a jornada de Pilar (Lina Flor) e seu amigo Breno (Miguel Soares), juntos eles formam a Sociedade dos Espiões Invisíveis. O filme começa com as duas crianças lutando para salvar as árvores de uma pracinha próxima da casa de Pilar, que estão ameaçadas pelos homens e suas motosserras. Além disso, Pilar ganha de seu avô uma rede mágica, que pode transportá-la com um passe de mágica. Tudo isso servirá como base para a grande aventura que vem a seguir.
Acompanhada do gato Samba, de seu amigo Breno e da vontade de lutar pelo verde, Pilar é levada pela rede mágica para a Amazônia. Lá ela conhece Maiara (Sophia Ataíde) e Bira (Thúlio Naab), duas crianças que estão sofrendo na pele as consequências do desmatamento desenfreado que acontece no local. De forma bastante pedagógica, é explicado o que é o desmatamento e como as comunidades locais são violentadas por ele. Além disso, são mostradas as lendas do folclore local – como Curupira, Boto cor-de-rosa e Cobra-Grande – e a riqueza do imaginário amazônico. Usar uma personagem inteligente, curiosa e bem articulada para apresentar conhecimento de uma forma que está inserida na aventura é um dos pontos fortes do filme.
É um filme que funciona muito bem como uma experiência introdutória sobre a floresta, que é mostrada como um personagem e não apenas uma locação onde acontece a trama. Porém, o fato dele ser extremamente voltado ao público infantil, sem uma trama com maior complexidade, pode fazer com que o filme pareça um tanto quanto raso para o público já mais velho. Além disso, existem alguns outros pontos que poderiam ter sido melhorados, como os animais e CGI, que parecem todos muito falsos, incluindo o gato que acompanha Pilar por toda a jornada. Outro aspecto que causa estranhamento é uniformização dos sotaques, até a Mãe da Terra tem um sotaque carioca – isso, inclusive, foge da proposta de valorizar os povos locais que o filme apresenta. E ainda tem aquela velha história de inserir um personagem de fora como o salvador de um povo marginalizado.
Ainda que não seja perfeito, o longa se destaca pelo apuro visual, construindo imagens de grande beleza que valorizam a riqueza natural da Amazônia e capturam a atenção do espectador desde os primeiros minutos. Além do impacto estético, o filme apresenta uma mensagem relevante e atual, ao abordar questões sociais, ambientais e culturais que atravessam o cotidiano da região amazônica. Nesse sentido, funciona como uma porta de entrada acessível e eficaz para um universo complexo, muitas vezes desconhecido ou estereotipado pelo público. Sustentado por performances consistentes e envolventes, o longa assume um espírito pedagógico claro e bem-intencionado, sem abrir mão do entretenimento. Assim, cumpre com êxito sua proposta central: divertir, sensibilizar e informar, estimulando a reflexão enquanto apresenta, de forma didática, os desafios contemporâneos enfrentados pela Amazônia.
Lina Flor é o destaque do filme, a atriz entrega uma performance vibrante e cheia de nuances, equilibrando energia, sensibilidade e humor com grande naturalidade. Sua presença em cena garante a empatia imediata do público e sustenta a narrativa com carisma e emoção, tornando crível tanto os momentos de aventura quanto os mais íntimos e afetivos da personagem. Miguel Soares, no papel de Breno, atua como um contraponto cômico eficiente e bem calibrado. Seu personagem traz leveza à história por meio de piadas, reações espontâneas e um timing humorístico que dialoga bem com o espírito inquieto e aventureiro da protagonista. A dinâmica entre os dois contribui para o ritmo do filme e reforça seu tom descontraído, sem comprometer o desenvolvimento emocional da trama. Além do quarteto protagonista, o longa reúne nomes de peso no elenco adulto. Nanda Costa interpreta Isabel, mãe de Pilar e Rocco Pitanga, o padrasto da protagonista. Roberto Bomtempo dá vida ao Vô Pedro. Já o grupo de vilões da trama conta com Marcelo Adnet (Dr. Ernesto), Emílio Dantas (Serra), Rafael Saraiva (Zé Minhoca) e Babu Santana (Montanha).
O Diário de Pilar na Amazônia estreia em 15 de janeiro de 2026 exclusivamente nos cinemas, com patrocínio master do Mercado Livre e apoio da RioFilme.
Bom
O Diário de Pilar na Amazônia é um filme infantil visualmente encantador que combina aventura com uma mensagem educativa sobre desmatamento e folclore amazônico. Apesar de seu apelo pedagógico e performances cativantes, apresenta limitações como CGI pouco realista, sotaques uniformizados e uma trama simples para públicos mais velhos. Ainda assim, cumpre com eficácia seu objetivo de divertir, sensibilizar e informar sobre questões sociais e ambientais da Amazônia.