O Brilho do Diamante Secreto O Brilho do Diamante Secreto

O Brilho do Diamante Secreto | Crítica

Divulgação

Em O Brilho do Diamante Secreto, novo filme do casal de diretores Hélène Cattet e Bruno Forzani, acompanhamos um homem idoso chamado John Dimon (Fabio Testi) que mora em um hotel elegante na Côte d’Azur. Quando não está de olho em jovens mulheres de biquíni na praia, ele reflete sobre sua juventude como um super espião elegante (Yannick Renier) aos moldes de James Bond – inclusive, vemos muitas referências aos filmes mais antigos do famoso agente 007, assim como aos filmes B de espionagem e as histórias em quadrinhos de ação italianas da década de 1960. 

A versão mais jovem de John é designada para proteger uma figura importante chamada Marcus Strand (Koen de Boew), um homem rico, influente e que está envolvido com uma fonte de energia importantíssima para o futuro. Alguns inimigos estão dispostos a eliminar Marcus, então John precisa detê-los, para isso contará com a ajuda de sua parceira, uma femme fatale sem nome (Céline Camara) que usa um vestido espelhado como arma – em um dos toques engenhosos do filme, cada espelho redondo da vestimenta funciona como um dispositivo de gravação de vídeo ou pode ser lançado como afiadas estrelas ninja. Mas a dupla não contava com a sinistra agente Serpentik (Thi Mai Nguyen e várias outras atrizes), que parece ser não uma, mas muitas mulheres – talvez todas as mulheres com quem John já lutou ou já amou.

Esses são os elementos essenciais, que são reorganizados e reproduzidos saltando constantemente do passado para o presente e formando uma uma narrativa não linear que não pode ser tomada ao pé da letra. O filme é uma série de cenas construídas que se entrelaçam em um punhado de personagens arquetípicos, todos parecendo ligeiramente fora de seu modelo original. Demora um pouco para perceber que Renier e Testi interpretam a mesma pessoa, vistas em fases diferentes da vida e a narrativa em muitos momentos é bastante complicada de entender, pois o senso de realidade e personalidade de John se desintegra gradualmente à medida que o filme avança.

Pode ser que o que estamos assistindo seja, na verdade, um filme de espionagem chamado Missão Serpentik, no qual o jovem John interpreta um espião, talvez seja uma história em quadrinhos ou um até algo que essa versão mais velha e possivelmente demente de John está criando em sua cabeça a partir de fragmentos de memória misturados com elementos cultura pop. O confronto final, após uma perseguição em alta velocidade em curvas fechadas sobre a Côte d’Azur, dá um toque final e confuso aos personagens e à história. É um filme que não se interessa por respostas conclusivas. 

Do início ao fim, O Brilho do Diamante Secreto brinca com a possibilidade de uma narrativa, ao mesmo tempo em que se recusa constantemente a deixar uma história convencional se materializar, bombardeando-nos com imagens que se repetem, que são distorcidas e que mudam ao longo do filme. Muito elementos aparecem inúmeras vezes em situações diferentes, como diamantes brilhando e incrustados na carne, cortes repetidos de navalha/espada/unhas afiadas, muito couro e máscaras. Qualquer tipo de fluidez é interrompida por quadros congelados, cortes bruscos, inserções repentinas de desenhos, fotos e efeitos de cores vibrantes e estridentes. Muito disso é visualmente deslumbrante, ainda que algumas repetições sejam trabalhadas à exaustão. A estética pulp e esses elementos belos, porém cafonas, são comuns no trabalho da dupla de diretores.

O filme não parece ter um propósito real e funciona simplesmente como um veículo que permite a Cattet e Forzani imitarem seus filmes favoritos e criarem cenas que são puro estilo, feitas para provocar os sentidos do espectador. Essas proezas podem ser impressionantes de se ver em pequenas doses, mas ao longo de um filme inteiro, acabam tendo alguns momentos cansativos. Ainda assim, o casal merece elogios por sua ousadia e por ter feito um filme que parece denso e superficial ao mesmo tempo e que não deixa de ser divertido.

O Brilho do Diamante Secreto estreia nos cinemas brasileiros no dia 17 de julho, com distribuição da Pandora Filmes.

3

Bom

Psicodélico, divertido, estiloso e repleto de referências do cinema de espionagem europeu de décadas passadas, O Brilho do Diamante Secreto está mais focado em brincar com os sentidos do espectador do que em entregar uma trama coerente.