O Bom Bandido rouba lojas e os nossos corações

Baseado em uma história real, O Bom Bandido, novo filme de Derek Cianfrance (Namorados para Sempre), acompanha Jeffrey Manchester (Channing Tatum), um veterano que não consegue descobrir como ganhar dinheiro suficiente para sustentar sua família. Seu velho companheiro de exército, Steve (Lakeith Stanfield), o lembra de sua habilidade especial de observação, incentivando-o a usá-la para o bem. Em vez disso, depois de decepcionar sua filha mais uma vez com um presente de aniversário sem graça, ele decide usar suas habilidades para algo menos sensato, roubando não uma, mas mais de 40 lojas do McDonald’s. Isso fez com que ele ganhasse o suficiente para dar à sua família a vida que eles merecem. O roteiro de Cianfrance e Kirt Gunn nunca tenta realmente justificar a criminalidade de Jeff, mas expõe os motivos pelos quais ele foi levado a medidas tão desesperadas.

O que o manteve convencido de sua nova carreira foi sua cordialidade durante os assaltos, tratando os funcionários com educação e garantindo a estrita abstenção de violência. Porém, nada dura para sempre e Jeffrey acaba sendo preso. E ele pega uma pena pesada de mais de 40 anos. Depois de um tempo encarcerado e com sua ex-esposa cortando o contato dele com os filhos, Jeffrey usa suas habilidades mais uma vez e consegue descobrir um jeito de escapar da prisão. Depois da fuga, ele sabe que ir visitar sua família é atitude mais insensata que poderia ter, então ele se esconde em uma loja Toys “R” Us até que Steve possa ajudá-lo com um passaporte falso para fugir para o Brasil ou Venezuela.

Dentro da loja, sem muito o que fazer, ele começa a espionar os funcionários, principalmente Leigh (Kirsten Dunst), uma mãe solteira que ele não consegue parar de ajudar e de observar, o que o leva a criar uma identidade falsa, metendo-se em encrencas cada vez maiores para poder ficar ao lado de sua nova paixão. O filme funciona justamente por conta dessa dupla na tela de pais solteiros em torno de 40 anos, ambos tentando lidar com uma situação estressante, difícil o suficiente mesmo sem a criminalidade. Há uma química real ali, inicialmente de uma natureza divertidamente confusa, já que ela acha que ele é gay por conta de seu jeito desarmante e nada ameaçador, além do jeito com as mulheres.

Jeffrey, que atende pelo pseudônimo de fugitivo John durante a maior parte do filme, é naturalmente charmoso. Seja forçando educadamente alguns funcionários do McDonald’s a entrarem em um freezer ou fazendo com que todas as mulheres se apaixonem por ele em um brunch de solteiros na igreja, ele se apresenta como o criminoso violento mais íntegro e adorável de todos os tempos. Channing Tatum faz um ótimo trabalho em fazer você realmente sentir pena dele quando ele é separado da filha enquanto está na prisão, e você realmente torce por ele enquanto ele tenta construir uma nova vida com Leigh e suas filhas, enquanto também foge da polícia. Ele sabe exatamente como interpretar esse tipo de papel.

Kirsten Dunst também encanta como a outra metade deste romance. A atriz sabe interpretar uma mãe batalhadora e identificável, assim como tem vasta experiência em ser o par romântico. Mas é o seu carisma que realmente impulsiona a sua atuação, porque o roteiro não deixa muito espaço para a sua personagem fazer algo surpreendente. Ela interpreta de forma convincente a bússola moral incontestável, que vai à igreja, organiza a campanha de arrecadação de brinquedos e tenta criar as filhas sem um parceiro. É fácil criar empatia por ela. Você quer que ela encontre a felicidade, e vê-la se apaixonar lentamente por Jack é fácil de assistir e ela é inteligente o suficiente para, eventualmente, começar a suspeitar que há algo estranho acontecendo com ele.

Este filme também é impulsionado por uma série de excelentes atuações coadjuvantes. Peter Dinklage interpreta o gerente da Toys “R” Us, que também é uma espécie de vilão do filme. Ele é indiferente às necessidades pessoais de seus funcionários e não hesita em envergonhar um funcionário se achar necessário. Ben Mendelsohn, LaKeith Stanfield, Juno Temple e Tony Revolori também causam um impacto muito maior do que seu tempo limitado em tela sugere.

O Bom Bandido é uma comédia que foca seu humor extravagante nas táticas de sobrevivência de Jeffrey, que incluem manter uma dieta constante de papinha de bebê e M&Ms de amendoim enquanto brinca pela loja. Até que deixa de ser realmente uma comédia e entram pitadas de drama ao focar na história de um homem que, ao fazer uma série de más escolhas, é banido da a coisa que ele mais deseja, a vida familiar, não uma, mas duas vezes. Ele triunfou derrotando o sistema por um tempo, mas a tarefa verdadeiramente inalcançável era superar a si mesmo. Este é o tipo de filme que agrada ao público e que, para o qual, clichês constrangedores como “ele vai roubar seu coração” foram inventados, pois é sentimental e sincero.

O Bom Bandido chega aos cinemas brasileiros em 16 de outubro, com distribuição da Diamond Films.