No Ritmo do Coração | Crítica No Ritmo do Coração | Crítica

No Ritmo do Coração | Crítica

Divulgação/Apple TV+

No Ritmo do Coração (CODA) é um remake de A Família Bélier, filme de sucesso francês lançado no ano de 2014. Quando se fala em remake americano de filmes europeus é normal pensar que se trata de uma obra desnecessária. Felizmente, não é o caso do filme dirigido por Sian Heder. O filme foi premiado no Festival de Sundance nas categorias do Júri, Público e Direção em 2021. Nos EUA, a Apple TV+ adquiriu os direitos do longa, sendo agora lançado no Brasil pelo Amazon Prime Video.

No Ritmo do Coração | Crítica
Divulgação/Prime Video

A ideia de No Ritmo do Coração partiu dos próprios produtores franceses. Havia muito potencial em trazer essa história para o público americano. O projeto logo chamou a atenção de Marlee Matlin, a única atriz surda vencedora do Oscar. Contudo, sua única exigência para participar do filme é que todos os personagens surdos fossem interpretados por atores surdos na vida real, algo que não aconteceu no longa francês. O resultado faz toda a diferença. É normal que filmes desse porte tenham um grande ator de Hollywood que vê a possibilidade de ser indicado ao Oscar por todo o trabalho de construção do personagem. No Ritmo do Coração buscou a simplicidade e representatividade, sendo uma história envolvente e emocionante desde o seu início.

A trama acompanha Ruby (Emilia Jones), de 17 anos, a única pessoa que ouve em uma família de surdos. Quando o negócio de pesca dos seus pais é ameaçado, ela fica dividida entre seu amor pela música e suas obrigações. Ruby precisa decidir se aproveita a oportunidade de fazer uma faculdade de música ou continuar como CODA (children of deaf adults, a filha de adultos surdos). Outra definição de CODA que se aplica ao filme é que também significa o desfecho de uma composição musical.

Quase 50% do filme segue em ASL, a língua americana de sinais. No Ritmo do Coração utiliza de forma eficiente a expressividade física dos atores, criando momentos divertidos e emocionantes. Tudo isso de forma espontânea, jamais forçando lágrimas do telespectador.

Emilia Jones apresenta uma performance exemplar. É notável a dedicação da atriz em mostrar a montanha russa que se torna a vida de Ruby quando percebe o seu talento para a música, ao mesmo tempo que enfrenta as piadas que sofre na escola pelo preconceito que existe com pessoas deficientes. Isso limita a personagem, que se apequena, sendo que ela é uma grande força. Não apenas pela música, mas por saber dividir e conciliar como pode as tarefas da família e seu tempo de escola.

Sian Heder aborda de forma espontânea a vida de uma pessoa com surdez. Rapidamente a narrativa torna o público íntimo daquela família. Outro ponto interessante é que a diretora não apela para o melodrama. Trata a surdez como uma limitação e não uma deficiência no termo pejorativo da palavra. Daí se torna importante um elenco com atores surdos, que deixa a história navegando pelo drama e humor sem forçar a barra. Seria comum um ator que não é surdo buscar a dramaticidade a todo instante. Marlee Matlin, Troy Kotsur e Daniel Durant são espontâneos. Um exemplo disso é na apresentação escolar de Ruby. Apesar de não ouvir a filha cantar, eles estão tentando sentir de alguma forma o que família está cantando.

No Ritmo do Coração é um longa encantador tal qual o original. Um exemplo que remake pode dar certo, desde que feito sem vaidades. Uma história sobre sonhos, família e comunicação. Divertido, emocionante e genuíno.

O filme foi indicado ao Globo de Ouro nas categorias Melhor Filme de Drama e Melhor Ator Coadjuvante.

5

EXCELENTE

No Ritmo do Coração é um longa encantador tal qual o original. Um exemplo que remake pode dar certo, desde que feito sem vaidades. Uma história sobre sonhos, família e comunicação. Divertido, emocionante e genuíno.