Ninguém Sai Vivo Daqui Ninguém Sai Vivo Daqui

Ninguém Sai Vivo Daqui | Crítica

Divulgação

Com roteiro inspirado no livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, o longa Ninguém Sai Vivo Daqui acompanha a jornada de Elisa, uma jovem que engravida sendo solteira e, no começo dos anos de 1970, é internada à força pelo pai no hospital psiquiátrico Colônia, em Barbacena, Minas Gerais. Após sofrer inúmeros abusos no local, Elisa resolve convencer seus colegas a fugirem juntos, mas será que é possível escapar dos sofrimentos causados nesse lugar?

O Hospital Colônia de Barbacena era um local que recebia os rejeitados da sociedade e a maioria não tinha nenhum tipo de doença ou síndrome. Muitas vezes, como no caso de Elisa, eles apenas irritavam algum parente ou não tinham mais serventia para a família, por isso eram enviados para lá e abandonados – o que funcionava praticamente como uma sentença de morte, uma prisão perpétua na qual eram jogados sem julgamento. Em um dos capítulos mais tenebrosos da história brasileira, pelo menos 60 mil pessoas foram mortas por conta das técnicas de tortura, maus-tratos infligidos aos pacientes e puro descaso. Como se não bastasse, os corpos eram vendidos e alguns poucos lucravam com o sofrimento e morte dessas pessoas.

Ninguém Sai Vivo Daqui é praticamente um resumo de menos de uma hora e meia de Colônia, série original do Canal Brasil, que prioriza os momentos mais terríveis do que foi mostrado na série. Ao contrário do ótimo documentário Holocausto Brasileiro, que mostra as histórias de pessoas reais que sofreram ao serem internadas no local ou que em algum momento que conheceram o Hospital Colônia de Barbacena de perto, tanto a série quanto o filme focam em personagens fictícios, que podem ou não ter relação com pessoas que realmente estiveram internadas no hospício.

Além do fato de Elisa ter sido jogada ali por um motivo absurdo, para que o publico se solidarize ainda mais com esses internos, o filme trata os funcionários e membros das famílias como típicos vilões – e foram mesmo. Um dos piores deles é o enfermeiro interpretado por Augusto Madeira, que passa o tempo todo molestando, agredindo e chantageando Elisa. Praticamente todas as pessoas que trabalhavam no local tratavam os internos como lixo, exceto por uma enfermeira que resolve ajudar nossa heroína.

A protagonista é interpretada por Fernanda Marques, que entrega uma performance que consegue capturar com maestria a dor, o medo e o declínio de sua personagem. No começo, Elisa ainda tem alguma esperança de ser tirada daquele local, tem o desejo de ver seu bebê nascer. Seu sofrimento não parece tão grande em comparação com o que está por vir. Porém, quando Elisa tenta fugir e a tentativa é interrompida pela morte de uma amiga, ela passa a receber punições mais severas, como sessões de eletrochoque e um aborto, amplificando o nível de sofrimento mostrado em tela.

O maior problema de  Ninguém Sai Vivo Daqui é que ele se utiliza de elementos do gênero de terror na tentativa de trazer algo ainda mais perturbador.  Essa não foi uma das melhores escolhas, a história do local por si só já é aterrorizante, adicionar elementos sobrenaturais, sustos e uma trilha sonora muito marcante não agregaram em nada para a história. Muitos desses elementos do gênero apenas tiraram a carga emocional que os temas tratados já trazem naturalmente. Era melhor ter focado em contar essa história como um bom drama e deixar o terror apenas nas situações que aconteciam no Colônia.

Já a escolha de fazer um filme em preto e branco é um acerto e faz com que a angústia seja amplificada, afinal, nada tem cor ou brilho naquele local. É uma estética que se adequa muito bem à trama do filme e que ao mesmo tempo é sufocante e bela.

Com alguns acertos e alguns erros, Ninguém Sai Vivo Daqui não consegue entregar uma história tão pesada quanto o esperado (e quanto a do livro na qual ele se baseia) e que não consegue desenvolver bem nenhuma outra história além da de Elisa, mas tem atuações acertadas e uma fotografia bela, sendo capaz de introduzir o público ao terror acontecido em Barbacena de forma bastante rápida.

Ninguém Sai Vivo Daqui será lançado no Brasil em 11 de julho pela Gullane+.

2.5

Regular

O sobrenatural, a trilha sonora marcante e outros elementos de terror, Ninguém Sai Vivo Daqui não potencializam o quanto a história passada no Hospital Colônia de Barbacena foi tenebrosa, esses elementos apenas tiram parte do peso dramático de uma trama que já é terrível por si só. Apesar disso, se você não conhece esse episódio marcante da história brasileira, vale a pena ver esse filme curtinho e saber um pouco mais.