Na Prateleira | Sing Street retrata o otimismo juvenil e o poder da música

Com os excelentes Apenas Uma Vez e Mesmo Se Nada Der Certo, o cineasta John Carvey enfoca o poder da música e o importante papel da arte em nossas vidas. Ainda mais quando se é um adolescente em uma situação difícil, que encontra nas canções uma forma de escapismo e superar adversidades. Esse é o plot principal de Sing Street, longa que de certa forma, tem caráter autobiográfico.

A juventude do protagonista Conor (Ferdia Walsh-Peelo) foi similar a de Carney. A trama é situada na Irlanda, em 1985, onde as dificuldades econômicas enfrentadas pelos irlandeses ocasionaram uma emigração em massa, resultando para os que ficaram em dificuldades financeiras. O jovem Conor é um dos afetados, pois é forçado a mudar de escola, passando a estudar em uma instituição dirigida por rigorosos padres católicos. Em meio aos bullies e de problemas familiares, o protagonista vê uma luz no fim do túnel ao conhecer a bela Raphina (Lucy Boynton), decidindo formar uma banda como desculpa para convidá-la a participar dos videoclipes. Eis que surge Sing Street, grupo montado de forma inusitada por seus parceiros de escola.

Contudo, Conor não toca nenhum instrumento, apenas cantarola algumas canções e conhece algumas bandas como The Cure, Duran Duran, graças ao irmão mais velho interpretado por Jack Reynor. Uma relação entre irmãos significativa e similar a Zooey Deschanel e Patrick Fugit em Quase Famosos.

Muitas das importantes bandas dos anos 80 surgiram por acaso. Alguns integrantes destacam que o “poder da música” foi o motivo deles se conhecerem. É algo inexplicável, a ser sentido, segundo eles. Eis que esse “poder da música” é apresentado com eficiência por John Carney, que aborda adolescentes buscando uma motivação e, no momento certo, na hora certa, acabam se encontrando e fazem da música mais do que escapismo, um amor pela arte que estava adormecido. A relação entre Conor e Eamon (Mark McKenna) é deveras tocante, à medida que o longa detalha com maestria a evolução de ambos, que vão buscando uma identidade musical em cada composição. Um completa o outro, algo como Lennon e McCartney, Plant e Page, Jagger e Richards.

As canções compostas por Carvey são um espetáculo a parte, destaque para a contagiante “Drive It Like You Stole It” (veja o clipe abaixo!) usando uma belíssima sequência que recria a cena do baile de De Volta para o Futuro.

Indicado ao Globo de Ouro deste ano de forma justa, Sing Street é um importante retrato musical em meio ao otimismo juvenil diante da realidade dura do mundo. O longa foi capaz de despertar que sonhar e acreditar em dias melhores são sempre bem-vindos.

Sing Street está disponível no catálogo de filmes da Netflix.